Mundo das Resenhas
Boy Erased: O grito de liberdade de Garrard Conley Boy Erased: O grito de liberdade de Garrard Conley
Livro que deu origem a filme estrelado por Nicole Kidman, Russel Crowe e Lucas Hedges. Em seu elogiado livro de estreia, Garrard Conley revisita as... Boy Erased: O grito de liberdade de Garrard Conley

******************************NÃO contém spoiler******************************

Quantos pássaros existem por aí? Quantas pessoas de fato conhecem e experimentam a força da liberdade? Qual o sentido de vivermos sem poder ser quem realmente somos? A liberdade tem um preço, como quase tudo nessa vida. Basta querermos pagá-lo para sermos felizes.

Boy Erased é um livro que representa bem o quão sufocante é nos moldarmos para agradarmos os outros. O quão difícil é vivermos em uma bolha e nos sufocarmos com as verdades alheias. O quão complicado é tentarmos entender quem somos, sem ter para onde irmos. E o pior de tudo, o quão doloroso é nos tornarmos escravos de nossas próprias fés, anulando-a com o passar do tempo.

É um livro repleto de feridas que nunca se curaram; originando em uma dor que ultrapassa a compreensão humana. Garrard Conley, neste elogiado livro de memórias, desabafa e nos entrega um relato doloroso, que narra com sensatez a experiência cruel de ter passado durante a adolescência por uma terapia de reorientação sexual. A chamada “cura gay” é retratada como o que de fato é… uma forma de tortura psicológica, que impacta o ser-humano em um processo contínuo de progressão e regressão. De construção de dúvidas e a busca infinita pela compreensão do que é ser aquilo que é considerado errado pela maioria. É uma exposição pessoal, através de uma narrativa que expõe de maneira bastante simples, traumas que desconheço, mas que respeito.

A escrita de Conley, como já mencionada, é simples, transcendendo a narrativa comum de um livro autobiográfico e muitas vezes flertando com a narrativa ficcional. Possui uma estrutura que navega por duas linhas temporais, o que não enxerguei exatamente como um ponto positivo. A estruturação escolhida pelo autor causa dúvidas por não possuir diagramações distintas, que poderiam facilitar a compreensão temporal do leitor. Os fatos narrados são expostos de maneira muitas vezes rasa. Pode ter sido o resultado da dificuldade de Garrard Conley em transpor para as páginas os seus traumas, revivendo-os como uma alma que volta ao passado, ou apenas uma característica de sua escrita que pode agradar alguns e desagradar aqueles que esperam encontrar algo mais visceral. Dependerá tanto de suas expectativas, quanto de sua bagagem literária.

Eu de fato esperava algo mais impactante, que me ferisse, me incomodasse ou que me pesasse como uma obra que tocasse o mais fundo do meu ser. Minha avaliação nada se deve pela minha falta de empatia. Mais empático do que fui, teria sido impossível. Quero deixar claro que esta avaliação é a de um leitor diante de uma obra literária. E não de um ser humano, julgando experiências alheias. Este livro é importantíssimo, o grito de alguém que sofreu e agora desabafa com a intensão de nos alertar sobre a importância de não nos transformarmos em escravos da sociedade no geral ou por aqueles que “nos amam. ”

Interlúdio de James Macsill, que retrata o mesmo tema, é mais profundo, mais chocante e muito mais visceral. Nos choca e nos emociona. Nos enoja… nos desmonta e nos leva para um mar de escuridão que nos sufoca e nos traumatiza. Uma obra que me impactou de maneira bem mais significa que Boy Erased. Talvez eu estivesse esperando o mesmo impacto, que infelizmente não ocorreu. Mas quero deixar aqui os meus agradecimentos ao autor por ter escrito este livro que poderá ser uma luz no fim do túnel para muitos jovens nas mesmas circunstâncias, sendo pressionados pela família e por demais pessoas a serem aquilo que eles não são. Se libertem de seus traumas, de seus medos, das pressões impostas e sejam felizes. Não importa o que lhes digam… vocês não são monstros. São seres humanos e assim como todo mundo, merecem ser felizes.

“É quase como uma morte na família”, diz Barbara Johnson em seu livro “Where Does a Mother Go to Resign?” “Mas, quando alguém morre, podemos enterrar a pessoa e continuar nossa vida. Com a homossexualidade, a dor parece nunca terminar.”

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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