Os Miseráveis: Um relato visceral sobre as mazelas e injustiças da sociedade.

******************************NÃO contém spoiler******************************

Acredito que não exista alguém apaixonado por livros e literatura de maneira geral que nunca tenha ouvido falar de “Os Miseráveis. ” A obra do aclamado escritor Victor Hugo é considerada um dos livros mais importantes já escrito; e o referido autor é considerado o escritor mais importante da França. O Homem do século como Hugo era chamado, apresenta nesta história atemporal uma narrativa visceral, emocionante e muitas vezes dolorosa.

A história de Jean Valjean, o homem que é preso por roubar um pão para sustentar a irmã e os sobrinhos, já emocionou gerações e gerações. É difícil iniciar a leitura deste livro e já não se sentir revoltado e emocionado logo nas primeiras páginas. E não é somente a história deste maravilhoso personagem que nos emociona. Como não chorar até soluçar ao ler a jornada de Fantine, que se doa de corpo e alma em prol da filha? Como não chorar e se revoltar com a jornada de Cosete, a criança que é forçada a trabalhar e impedida completamente de ter infância? Como não chorar com a jornada de Gavroche, o garoto morador de rua que mesmo completamente pobre, ainda tira forças para ajudar outras crianças? E como não se revoltar e torcer por Marius, o jovem que luta por uma França melhor e ainda encontra tempo de se apaixonar em um período onde parece que amar é um dos piores pecados?

Victor Hugo dá voz à personagens que representam com uma fidelidade assombrosa os seres humanos que são frequentemente negligenciados pelo Estado e pela sociedade. As denúncias palpáveis da obra, refletem através de situações e diálogos impecáveis capazes de invejar e chocar o mais crítico dos leitores e até mesmo o mais crítico dos críticos literários.

“Os Miseráveis” é uma obra completa… com filosofia, contexto histórico, questões sociais, personagens femininas fortes, diálogos perfeitos, narrativa viciante, romance e política. É um livro reflexivo ao extremo capaz de despedaçar a alma e o coração de qualquer leitor.

” – O que é barato, hoje em dia? Está tudo caro. Só a miséria do mundo é barata; não custa nada o sofrimento do mundo!” (Pág. 771)

O livro é dividido em 5 partes e contado em terceira pessoa. O autor quebra a quarta parede e durante a narrativa conversa com o leitor de maneira bem franca. A narrativa voltada para os personagens é bem fluída, mas esta fluidez se intercala com as partes históricas que são mais longas e mais arrastadas. As grandes digressões da obra-prima de Victor Hugo colaboram muito com a riqueza e contextualização da história. Porém, as mesmas também podem se tornar um problema (o que aconteceu comigo). Algumas são desnecessariamente longas e cansativas. Eu estava tão envolvido com a jornada dos personagens que quando haviam estas digressões, eu me irritava. Mas as mesmas não são descartáveis, são apenas muito extensas e na minha humilde opinião, poderiam ter sido incluídas de maneira mais breve. Pra quem gosta de história, “Os Miseráveis” será um livro que te encantará em sua plenitude.

Ler Victor Hugo é uma experiência enriquecedora. O autor foi de fato um gênio que inspirou muitos de nossos escritores mais famosos, como Castro Alves e Machado de Assis. Foi poeta, dramaturgo, jornalista, político e defensor dos direitos da minoria. Ganhou, mas não recebeu um prêmio literário com 14 anos, simplesmente porque os avaliadores do concurso não acreditaram que um jovem com tal idade seria capaz de escrever algo tão magnífico. Seus poemas escritos no francês clássico, quase arcaico, nunca foram traduzidos para o português devido suas complexidades linguísticas. Ao morrer, seu enterro foi acompanhado em Paris por 2 milhões de pessoas.

Não se deixem intimidar pelo tamanho desta emocionante história (1.512 páginas). Ler e chorar com “Os Miseráveis” é uma experiência única que todos devem ter. Nem que vocês passem o ano inteiro lendo, não deixem de conhecer esta história profundamente linda. Terminei a leitura em prantos e mais que emocionado. O final é triste, feliz, emocionante, reconfortante e bem pertinente.

Nunca me esquecerei o que Victor Hugo e Dante Alighieri com “A Divina Comédia” (confira a resenha clicando AQUI) me proporcionaram. Escritores como esses, só intensificam ainda mais o meu amor pela literatura!

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