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******************************NÃO contém spoiler******************************

Editora: Alfaquara

Idioma: Português / Autor: Haruki Murakami / Literatura Japonesa / 432 páginas

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Como lidar com uma narrativa absurda que eleva a bizarrice a um novo patamar? Como analisar uma obra repleta de camadas e escrita por um dos principais escritores contemporâneos e um dos mais discutidos nos meios sejam eles literários ou não? Sendo bom, mediano, ruim ou inavaliável, o que é indiscutível é que 1Q84, a elogiada e enigmática obra de Haruki Murakami, tem um peso filosófico e  metaficcional que a coloca a parte da literatura convencional e a faz ser uma narrativa fora da curva, transformando-a em uma estória que pode ser amada ou odiada com facilidade.  

Cultuado nos ambientes acadêmicos, elogiado por leitores e escritores diversos e encarado como um ponto de interrogação pela crítica especializada, Haruki Murakami, o eterno escritor sondado para o prêmio Nobel de Literatura, entrega com 1Q84, o primeiro volume de uma trilogia, uma narração esquisita que desafia o leitor a adentrar e desvendar os mistérios de um mundo que soa como algo que nem mesmo o autor parece entender.

“A finalidade da narrativa, em linhas gerais, é desenvolver um problema colocando-o sob outro parâmetro. Conforme a maneira de se expressar e o sentido dessa colocação, a própria história é que vai sugerir algumas respostas possíveis. ”

Temos duas linhas narrativas e dois personagens centrais, cada um com suas tramas que parecem não se conectar, mas que se conectam, não sei ainda dizer exatamente como. A subversão narrativa do autor, emprega um ar fantasioso que colabora ainda mais com os diversos pontos de interrogação provenientes da estória. Temos Aomame, uma moça que se vê presa em um congestionamento e “desesperada” por estar atrasada para um importante compromisso, acaba sendo aconselhada pelo motorista do táxi a seguir seu caminho a pé, descendo uma escada de emergência que a levará a um atalho. Antes de seguir seu destino, acaba recebendo um conselho de seu referido guia: Não deixe as aparências te enganarem. Existe apenas uma realidade.” Ela acaba sendo transportada para um outro mundo, aparentemente, espelho da realidade que outrora conhecia. E temos Tengo, um aspirante a escritor que acaba sendo convidado por um amigo editor a reescrever uma promissora estória, que pode vir a se tornar a vencedora de um importante prêmio literário. Ele acaba sendo envolvido em uma narrativa de mistério e corrupção que o leva a questionar a realidade a que vive.

Inspirado em 1984 de George Orwell, 1Q84 explora temas importantes como violência contra a mulher, feminicídio, estupro, pedofilia, adaptação ao novo, corrupção, fanatismo religioso, inércia governamental e a polêmica questão: Devemos fazer justiça com as próprias mãos? Murakami transcende sua inspiração e faz de seu romance um retalho de referências literárias, passando pela literatura russa, argentina, e recheando seu universo de aspectos culturais importantíssimos de seu país. O livro aqui resenhado não se trata de um romance distópico e sim de um romance que extrapola os limites racionais, colocando em voga discussões que enriquecem a leitura e faz com que mesmo com tanta coisa absurda, 1Q84 seja uma leitura válida e importante.

“— Pois então —, é mais fácil estar do lado da maioria que rejeita do que da minoria. A gente pensa: “Ufa! Que bom que não sou um deles, ” Sempre foi assim em qualquer época, em qualquer sociedade: se você estiver do lado da maioria, não precisa se preocupar […]”

 

“No entanto, nem sempre lutar por uma boa causa produz um bom resultado. E o estupro não danifica somente o corpo. A violência nem sempre é visível; nem sempre o sangue escorre pelo ferimento. ”

A escrita de Murakami é excelente, os diálogos são espetaculares, mas a narrativa muitas vezes se torna monótona. A esquisitice caminha lado a lado de situações factuais, a realidade se mescla com a ficção e muitas vezes nos vemos imersos em questões que se destacam através de anomalias psicológicas vindas dos personagens. O livro também possui diversas cenas e vocabulários sexuais, que me incomodaram em alguns momentos e me soaram um pouco demais. Mas muitas dessas situações funcionam como válvulas de escape e como uma metodologia de escrita bastante comum, utilizada para humanizar os personagens, facilitando o elo cognitivo dos leitores. Foi um livro interessante e Haruki Murakami é um autor que continuarei lendo. Gosto de livros que possuem camadas e que me desafiam a desvendá-los. 1Q84 não é pra todo mundo, mas mesmo sabendo disso, eu o indico. Se propor a ler uma obra como essa, é se desafiar, enriquecer sua bagagem literária e entender que o mundo e os seres que o habitam são mais complexos do que aparentam ser.

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