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******************************NÃO contém spoiler******************************

Autora: Isabel Allende / Tradutor: Carlos Martins Pereira / Editora: Bertrand Brasil / 1ª edição

Literatura Chilena / Gênero: Ficção histórica e realismo fantástico / 448 páginas

Considerado um clássico da literatura latino-americana, A Casa dos Espíritos da escritora chilena Isabel Allende narra a história de uma família através de três gerações de mulheres fortes que enfrentam mudanças culturais e sociais, sendo por vezes subjugadas por um homem que as atormenta ao longo da vida. A trama que mistura realismo fantástico com fatos históricos aborda temas atemporais como machismo, ditadura, brigas partidárias, espiritismo e feminismo.

A aclamada obra com seus personagens espíritos sejam eles vivos ou mortos, traz reflexões sobre o nosso papel quanto cidadãos; além de nos ensinar acerca de fatos que precisam ser aprendidos para que não sejam repetidos. A escritora tem uma escrita envolvente que nos conquista tanto pela agressividade de alguns momentos quanto pelas sutilezas de outros. E tudo protagonizado por personagens femininas muito bem traçadas dentro de uma narrativa voraz que nos engole a cada página.

Clara, a clarividente da trama começa como uma garota inocente que se vê abençoada e atormentada por possuir um dom venerado por aqueles que a rodeiam. Uma mulher que após uma de suas visões acaba enxergando seu destino envolvido com o destino de um outro importante personagem, Esteban Trueba, o protagonista masculino, um homem autoritário, agressivo, preconceituoso e com visões deturpadas acerca da sociedade a qual faz parte. Através do passar dos anos vamos acompanhando a jornada de Clara e suas sucessoras Blanca, sua filha e Alba sua neta e também alter-ego da autora.

“Essa mulher está mal de cabeça! – dizia Trueba – Isso seria ir contra a natureza. Se as mulheres não sabem somar dois mais dois, ainda menos poderão pegar um bisturi. A sua função é a maternidade, o lar. Por este caminho, qualquer dia vão querer ser deputados e juízes, até presidentes da República! E entretanto, estão fazendo uma confusão e uma desordem que pode terminar em desastre. Andam publicando panfletos indecentes, falam pela rádio e sentam-se em lugares públicos. Tem de ir lá a polícia com um ferreiro para que lhes ponha as algemas e as possa levar presas, que é como devem estar.”

A Casa dos Espíritos possui uma narrativa que é pura reflexão, e com a alternância dos narradores a obra vai ganhando proporções inimagináveis que constroem um mundo real e ficcional encantador que nos deixa com sede de sabermos mais e mais tanto dos personagens quanto do período histórico retratado por Allende. É importante ressaltar que a autora desta obra monumental não possui parentesco real com Salvador Allende, o presidente chileno que sofreu um golpe em 1973 e que deu origem a instalação da ditadura no país, a qual serviu de pano de fundo e que se tornou quase protagonista desta magnífica história. A autora na verdade possuiu um casamento mal-sucedido com um primo do ex-presidente supracitado, o que deu origem ao seu sobrenome. No cenário político chileno temos outra Isabel Allende, senadora, filha do ex-presidente e que nada tem a ver com a Allende cuja obra é aqui resenhada.

A sensibilidade de A Casa dos Espíritos é de uma sinceridade profunda e que ultrapassa as camadas narrativas superficiais e nos faz entender que apesar dos milhares de desgraças sociais e de outros meios que nos rodeiam, o mundo por mais doloroso que ele seja não é um vale de lágrimas que muitos acreditam ser. Assim como as mulheres empoderadas de Isabel Allende, por vezes somos como talos ressequidos, que se movimentam unicamente com a força do tempo. Em outro, somos como borboletas livres que ao sair dos casulos temos a necessidade de desbravar o mundo em sua plenitude. Tanto a autora quanto a obra a qual me dediquei a ler e a analisar, provam que a literatura tem por vezes a capacidade de ultrapassar a linha tênue do puro entretenimento e por isso A Casa dos Espíritos se consagra como uma obra semiótica, social, histórica e transcendental. Uma narrativa rica em quase todas as camadas literárias e que cumpre o papel vital da literatura; a de empregar com sucesso um intercâmbio cultural que me enriqueceu como leitor, como humano e como cidadão.

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