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A Incendiária: Uma narrativa sobre repressão sexual? A Incendiária: Uma narrativa sobre repressão sexual?
******************************NÃO contém spoiler****************************** Autor: Stephen King Editora: SUMA / Idioma: Português / Gênero: Ficção-científica / 448 páginas Sabe aquele livro que você inicia a... A Incendiária: Uma narrativa sobre repressão sexual?

******************************NÃO contém spoiler******************************

Autor: Stephen King

Editora: SUMA / Idioma: Português / Gênero: Ficção-científica / 448 páginas

Sabe aquele livro que você inicia a leitura esperando amar ao mesmo tempo que inicia com os dois pés atrás por medo de ser mais uma decepção? Então…, Pra mim “A Incendiária” foi este tipo de livro. É uma estória com um plot interessante que me instigou e me envolveu desde que abri o livro e comecei a ler o primeiro parágrafo. Fiquei o tempo inteiro com receio de King escorregar e me apresentar algo que me incomodasse. Fico feliz de dizer que isso não ocorreu. A trama não me apresentou nada que eu já não tenha visto na famosa série da Netflix criada e produzida pelos irmãos Duffer (Stranger Things). Entretanto, me vi viciado no drama de Andy e Vicky, dois jovens que aceitam participar de um experimento do governo onde acabam desenvolvendo superpoderes. Posteriormente, se casam e acabam tendo uma filha; Charlie, uma garotinha de 7 anos de idade capaz de botar fogo em qualquer coisa usando apenas a força do pensamento. A ideia inicial de Stephen King era que “A Incendiária” fosse uma continuação de “Carrie: A Estranha”, sendo Charlie filha da protagonista de seu romance primogênito, tendo herdado seus dons. Ideia esta, descartada pelo autor. As semelhanças com o primeiro grande sucesso do mestre do terror são inevitáveis, mas o desenvolvimento da jornada da personagem central de “A Incendiária” é muito superior.

Perseguidos pelo governo que deseja dominar o dom de Charlie para usos militares, Andy decide fugir com a filha em busca de ajuda e de justiça. Toda a jornada dos personagens é repleta de cenas de ação, de muita tensão, de medo, de revelações e de cenas bem cinematográficas. Se tem algo que King sabe fazer com maestria é criar personagens pueris, colocando-os no meio de turbilhões de acontecimentos, deixando o leitor tenso o tempo inteiro. Charlie é o tipo de protagonista que é impossível não ser amada pelos leitores. Apesar da pouca idade, ela amadurece precocemente, e este amadurecimento não nos é entregue de maneira abrupta. Andy é um personagem tão fascinante quanto e o amor que nutre pela filha é algo palpável. Os personagens secundários são incríveis e os vilões são bem trabalhados.

A trama começa em um ritmo até que bem acelerado para os padrões do referido autor considerado prolixo. Mas isso não se mantêm, resultado de uma mudança de cenário significa e pertinente. Esta alteração faz com que várias cenas se prolonguem e que a narrativa fique extremamente arrastada. Vários momentos são monótonos e a ação demora para voltar a acontecer. Isso não foi encarado por mim como um peso narrativo negativo; devido à minha ligação emocional com os personagens e com a estória como um todo.

Outro ponto importante que preciso frisar, é que existem vários sinais de uma tensão sexual entre Charlie e um determinado personagem. King utiliza de sinais subjetivos para apresentar a transformação sexual precoce da personagem central. Confesso que durante a leitura fiquei com a pulga atrás da orelha com esta relação, principalmente pela obsessão por parte do personagem masculino. Esta minha suspeita é confirmada após a leitura do texto extra escrito por Grady Handerson que encontramos na edição de luxo da editora SUMA. Mas não se preocupem, não existe em nenhum momento cenas de pedofilia. Inclusive, levando em consideração minha percepção pessoal, esta tensão se dá muito mais pela parte masculina do que por parte da protagonista, que ao meu ver, enxerga tal personagem apenas como uma possível substituição paterna.

“A Incendiária” foi lançado após o lançamento de grandes obras como “O Iluminado” e “Zona Morta”, e infelizmente sofreu com isso. Para muitos leitores, a estória de King a qual me propus resenhar e que aqui lhes apresento, não mantém o nível e é considerada por muitos uma das mais fracas de seu portfólio. Pra mim ela foi bem funcional e encerra com um desfecho que por incrível que pareça eu achei muito bom, apesar de normalmente achar os finais de Stephen King problemáticos.

Para a crítica especializada, o romance trata-se de uma narrativa sobre libertação sexual. Não concordo, acho que se trata sim de uma jornada em busca de liberdade, mas não de cunho sexual. Toda a tensão e repressão sexual estão presentes, mas não são os focos da narrativa. Trata-se de uma estória sobre a luta pelo direito de viver sem se sentir sufocado e perseguido o tempo inteiro. Uma obra de ficção-científica criticada, mas muito boa e que está longe de ser um fardo para o autor ou um ponto negativo entre suas tão elogiadas obras. “A Incendiária” mostra que King não é apenas um mestre do terror.  Mas reforça mais uma vez que ele é também um mestre da escrita e da imaginação.

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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