Mundo das Resenhas
As Crônicas de Gelo e Fogo: O hors concours das fantasias atuais. As Crônicas de Gelo e Fogo: O hors concours das fantasias atuais.
******************************NÃO contém spoiler****************************** Audaciosa, chocante, sanguinária e surpreendente. Estes são apenas alguns dos adjetivos que posso utilizar para me referir “As Crônicas de Gelo... As Crônicas de Gelo e Fogo: O hors concours das fantasias atuais.

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Audaciosa, chocante, sanguinária e surpreendente. Estes são apenas alguns dos adjetivos que posso utilizar para me referir “As Crônicas de Gelo e Fogo”, a série mais do que aclamada do escritor norte-americano George R. R. Martin. Considerada por muitos, tanto por críticos especializados quanto pelos leitores ávidos de fantasia, a melhor série de fantasia adulta da atualidade. É considerada também a série “sucessora” de “Senhor dos Anéis. ” Seja pelo clamor causado, pela relevância ou pelo status que a obra adquiriu, “As Crônicas de Gelo e Fogo” alcançou um patamar capaz de deixar o pai da alto-fantasia orgulhoso se ele ainda estivesse entre nós. Martin transforma elementos como espada e feitiçaria, política e intrigas da corte como personagens, onde muitas vezes se tornam os protagonistas capazes de deixar os leitores ansiosos e desesperados.

Idealizado em 1991, “A Guerra dos Tronos”, o primeiro volume do que deveria ser uma trilogia, foi lançado em 1996 tendo uma recepção mediana por parte da mídia e dos leitores. Galgando degraus aos poucos, graças ao marketing boca a boca de livreiros que se viram chocados com o que haviam lido, o romance ganhou notoriedade e passou a ser visto como algo a ser levado em consideração, passando a ser disputado pelas grandes editoras.

A série apresenta um mundo extenso que não choca apenas por sua complexidade, mas também pelas diversas curvas narrativas empregadas que nos pegam de surpresa e nos deixam extasiados sem saber o que esperar. Vários personagens lutam pelo Trono de Ferro de Westeros, o reino que guarda segredos que todos desejam desvendar. De um lado, temos um rei assassinado misteriosamente, onde seu melhor amigo e mão real se vê investigando a causa de tal crime, onde a rainha pode ser a mandante. Do outro lado do reino temos uma jovem que almeja ocupar o trono que outrora fora de seus ancestrais que governaram Westeros e que cavalgavam dragões; criaturas aparentemente extintas. No meio dessa disputa, temos vários outros pequenos reinados entrando em uma guerra onde tudo é permitido. Nada é o que parece e plot-twist é o que não falta. Personagens femininas empoderadas, personagens memoráveis e cenas que embrulham o estômago. Heróis e anti-heróis. Justiça e vingança. Diálogos dúbios e diálogos fortes. Cenas de estupros, cenas de incesto e cenas de massacres. Em “As Crônicas de Gelo e Fogo” tudo caminha lado a lado. Tudo faz sentido ao mesmo tempo que não faz. Aqueles que estão ganhando o jogo dos tronos em um capítulo, passam a perder no outro.

George R. R. Martin colaborou e muito para que a fantasia passasse a ser vista muito mais do que apenas entretenimento, assim como seus antecessores; como Tolkien, J. K. Rowling e Robert Howard. Se inspirando em fatos históricos como a guerra das rosas, o autor narra tudo com muita brutalidade e tudo de forma bastante verossímil, apesar dos elementos fantasiosos que permeiam o seu mundo. A série inova logo no primeiro volume e as coisas só vão melhorando. “A Fúria dos Reis” é tão bom quanto o primeiro volume. O mundo é tão magnífico, que cada personagem nos encanta com suas personalidades, suas inteligências e suas sedes por poder. Lembro que quando li o primeiro livro, fiquei um pouco chocado com a narrativa e com os acontecimentos. Não soube por um tempo lidar com tudo aquilo e imediatamente corri ler o segundo volume, que também devorei. Fiquei tão imerso na leitura, que durante a mesma me vi almejando o trono como se fosse mais um dos tantos personagens criados por Martin. Chegava a sentir o cheiro de suor, sangue e cadáveres como se estivesse nos campos de batalha. Me via arquitetando planos e me via desejando derrotar os inimigos antes que eu fosse derrotado. Era um mundo novo que eu desejava avidamente explorar mais e mais. Nada era capaz de me tirar deste universo. Não queria comer, tomar banho, trabalhar… só queria passar dias, tardes e madrugadas lendo como se não houvesse o amanhã. A única outra série que me deixou tão alucinado assim, ao ponto de acharem que eu estava surtando mais do que o normal, foi Harry Potter (minha série infanto-juvenil favorita). Imediatamente “As Crônicas de Gelo e Fogo” se tornou minha série de fantasia adulta favorita acima de qualquer outra que eu já tenha lido.

“A Tormenta de Espadas”, o terceiro volume, é até hoje um dos melhores livros que já li. Lembro que nem eu acreditei que o li em três dias quando terminei a leitura. Foi algo inacreditável até para mim que costumo ser acusado de ler na velocidade da luz. Me senti mal e fascinado com a leitura. Me senti banhado em sangue de maneira tão visceral, que de fato fiquei enojado com alguns acontecimentos e com essa estranha sensação. Foi um livro tão brutal, que chorei e ri ao mesmo tempo. Chegou um momento que comecei a questionar minha própria sanidade. O mundo real me parecia preto e branco perto do universo de “As Crônicas de Gelo e Fogo”. A série passou a me alimentar e me exaurir como um ser cósmico que sugava minhas energias. Me exauria de forma macabra ao mesmo tempo que me alimentava e me dava um motivo para acordar desesperado após pequenos cochilos realizados, por pura necessidade fisiológica, quando nem garrafas de café e pó de guaraná não davam mais conta de me manterem acordado. Foi uma experiência que me marcou tanto, que até hoje lembro como um marco em minha vida literária.

Se você me perguntar se consigo indicar algum ponto negativo, a única coisa que conseguirei dizer é que “O Festim dos Corvos”, o quarto volume (parte do quinto que precisou ser dividido por exigências editoriais) é um ponto fora da curva. É o que menos me agrada exatamente por dar espaço a personagens que não me agradam tanto. Não se foca nos personagens principais que amo infinitamente, o que torna a narrativa um pouco mais lenta e transforma o romance em um “empecilho” para a fluidez da trama principal. Mas ele tem sua importância exatamente por apresentar pontos de vista necessários para a consolidação de fatos importantes, que levam a decisões políticas cruciais. Não gosto tanto assim, mas ele é uma peça fundamental para toda a contextualização narrativa.

“A Dança dos Dragões”, o quinto e último volume lançado até agora, é espetacular e supriu minhas expectativas do começo ao fim. Tem momentos mais lentos que costumam incomodar alguns leitores, mas que me foram pertinentes. Esta série é pra mim hors concours das fantasias atuais. Não ache que assistir a série televisa inválida a leitura dos livros. Esse é um engano que muitos cometem e que os impedem de ler algo tão magnífico. Ainda estou no aguardo do lançamento do sexto livro, mas até que este momento histórico ocorra, só me resta ler os spin-offs e reler a série toda milhares e milhares de vezes até ser capaz de recitar cada livro de maneira “perfeita”, como os poetas outrora faziam com os grandes clássicos da época. Esta série é meu combustível e minha referência analítica. Se não leu ainda, corra ler! Sangue escorre das páginas e forma um mar que quase nos afoga em desespero e intrigas, nos deixando exauridos após a leitura. Mas é algo tão surreal, que sempre torço para que eu não seja a única pessoa a ter essa experiência.

 

PRÊMIOS:

  1. “A Guerra dos Tronos” foi vencedor do prêmio Locus em 1997.
  2. “A Fúria dos Reis” foi vencedor do prêmio Locus em 1999.
  3. “A Tormenta de Espadas” foi vencedor do prêmio Locus  em 2001, sendo também indicado para o prêmio Nebula. Foi indicado também ao prêmio Hugo, mas perdeu para “Harry Potter e o Cálice de Fogo” de J. K. Rowling.

INDICAÇÕES:

  1. “O Festim dos Corvos” e “A Dança dos Dragões” foram indicados em 2006 e 2012 respectivamente, aos prêmios Locus, Nebula e Hugo, mas acabaram não angariando nenhum dos prêmios.

CURIOSIDADES:

  1. A narrativa se intercala através dos pontos de vista de personagens diversos. “A Guerra dos Tronos” se inicia com 9 narrativas distintas, todas em terceira pessoa; e quando chegamos em “A Dança dos Dragões”, já nos deparamos com 31 PoVs.
  2.  E como todos já sabem, a série de livros serviu de inspiração para a famosa série da HBO, “Game of Thrones.” 

 

 

 

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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[…] CONFIRA A RESENHA DE AS CRÔNICAS DE GELO E FOGO CLICANDO AQUI […]

Isabela
Visitante.
Isabela
2 anos atrás

Essa com certeza foi a melhor resenha que já li! Me deixou com muita muita vontade de ler, mas eu talvez não esteja preparada….

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