Autora: Han Kang / Literatura Sul-Coreana / Ficção Histórica / Editora: Todavia / 192 páginas
“Ser humilhado, ferido, assassinado, é isso que a história provou ser a natureza humana?”
Um soco no estômago e totalmente à deriva. É assim que descrevo meu estado de espírito e psicológico ao terminar Atos Humanos, obra-prima da autora sul coreana e vendedora do Nobel de literatura Han Kang.
Como poucos em meia a muitos, o referido romance se prova em pouco tempo, como algo que vai além de apenas uma leitura passageira, se consagrando como um desabafo, uma revolta em palavras que se eterniza ao enfrentar o tempo e a dor que carrega, marcando a fundo aqueles que aceitam encará-lo.
Subvertendo o processo literário primário – como descrevo o simples ato de ler sem se ater – Atos Humanos surpreende com o lirismo e a beleza profunda da escrita da autora, em meio aos horrores relatados de um dos períodos mais cruéis do país de Kang e também da humanodade: A ditadura militar Sul-coreana e o massacre de Gwandju de 1980.
“Estou lutando. Luto todos os dias, sozinho. Luto contra a vergonha de ter sobrevivido, por ainda estar vivo. Luto contra o fato de que sou um ser humano. Luto contra o pensamento de que a morte é a única maneira de escapar desse fato. O senhor, ser humano igual a mim, qual resposta poderia me dar?”
Recorte histórico e literatura pseudo jornalística ficcional, Atos Humanos é um desafio doloroso, mas necessário. Um livro que precisa ser lido, relido e passado a diante para que todos o leiam, releiam e o indiquem, fortalecendo essa cadeia de informação e conhecimento que a literatura ajuda a formentar.
Com uma narrativa polifônica e as vezes com necroperspectiva, o romance de Kang pode parecer confuso no início, mas vale o breve esforço e nos compensa e muito ao longo da leitura, superando qualquer estranheza inicial.
Poucos livros ou narrativas conseguiram me chocar. Mas assim como Ainda Estou Aqui – livro que iniciei, mas não terminei por questões emocionais – e A Guerra não tem rosto de Mulher, Atos Humanos é a típica história que infelizmente me faz perder a fé na humanidade. Talvez com recuo psicológico e com muita terapia e estudo, um dia eu consiga entender o que leva os tidos animais racionais agirem como meros carniceiros irracionais. Por enquanto, fico com minha revolta e questionamentos, e em minha consciência profunda, essa que hoje entra no meu seletivo portfólio de melhores obras que já li na vida. Só leiam!
