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Caixa de Pássaros: Análise da obra e segunda opinião Caixa de Pássaros: Análise da obra e segunda opinião
*******************CONTÉM 2 pontos sobre o monstro do livro que alguns podem considerar spoiler****************************** (Confira a primeira resenha de Caixa de Pássaros clicando AQUI) ***... Caixa de Pássaros: Análise da obra e segunda opinião

*******************CONTÉM 2 pontos sobre o monstro do livro que alguns podem considerar spoiler******************************

(Confira a primeira resenha de Caixa de Pássaros clicando AQUI)

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Foi em 08/08/2015 às 3h00min da manhã que terminei de ler Caixa de Pássaros. Estava chovendo, com a lua encoberta pelas nuvens, com as gotas da chuva escorrendo pela janela e eu sentado na cama, com as pernas cobertas pela coberta e sem saber exatamente o que pensar. Lembro até hoje de todas as sensações que este livro me proporcionou. Eu não escondo e nunca escondi de ninguém que gosto demais deste livro, o que não significa que sou um fã invertebrado do autor e que não sei enxergar as inconstâncias narrativas que a obra possui. Caixa de Pássaros é o tipo de história amada por muitos e odiada por tantos outros.

Como é possível um leitor exigente e chato como você gostar de uma obra sem pé nem cabeça como a escrita por alguém que claramente não sabia o que estava escrevendo? Esta é uma das milhares de perguntas que me fazem ao descobrirem que não só dei 5 estrelas, como favoritei o livro que hoje virou febre indiscutível, ainda mais graças a aclamada adaptação da Netflix protagonizada por Sandra Bullock.

A questão é: O que me faz amá-lo tanto?

Primeiramente, gostaria de deixar claro que esta resenha não tem o objetivo de justificar  minha avaliação e muito menos de convencer quem não gostou de que este livro é sim bom ou no mínimo uma leitura válida. Cada leitura nos proporciona uma experiência individual e única e avaliá-lo com nota máximo e favoritá-lo não significa e nunca significou que eu o coloco no mesmo patamar de IT, A Coisa, Os Miseráveis, A Divina Comédia ou de E O Vento Levou… Obras que não só são minhas favoritas como as considero monumentais.

Caixa de Pássaros é uma história metafórica de um autor metafórico. Josh Malerman é claramente o tipo de escritor que detesta entregar respostas. O enxergo não como um escritor incompetente, mas sim como alguém que deseja fazer o leitor pensar; algo que vem se tornando cada vez mais raro, infelizmente não só no meio literário. Seja por parte de escritores que preferem entregar respostas para evitar encheção de saco ou por parte de leitores preguiçosos que não querem raciocinar.

Situar a narrativa em um ambiente pós-apocalíptico, onde os personagens precisam lidar com o desconhecido, não é algo inovador. Já vimos isso em obras como A Dança da Morte do mestre Stephen King, em Eu, sou a Lenda de Richard Matheson e em filmes como o aclamado e mais recente Um Lugar Silencioso de John Krasinski. O que diferencia Caixa de Pássaros destas outras obras é que ele é um livro sensorial. Trata-se de uma narrativa onde o que você enxerga pode te matar. Não abrir os olhos pode ser sua única salvação. É uma obra cheia de limitações, que é desenvolvida em duas linhas temporais que se encontram ao final.

As metáforas estão por todas as partes. Desde o título que se remete não somente a caixa carregada pela protagonista, como está muito mais relacionado à situação em que os personagens se encontram. Presos, desesperados, lutando pela sobrevivência e pela liberdade, como pássaros engaiolados. Algo muito mais palpável e de fácil compreensão quando vemos a adaptação.

O livro é repleto de momentos tensos que podem te fazer suar dos pés a cabeça se você se permitir imergir nas páginas. A narrativa considerada por muitos como monótona, faz jus a situação criada pelo autor. Como disse anteriormente, as limitações estão em todo lugar, não somente quando o assunto é atrelado a questão visual. Como explicar o que nem mesmo os personagens sabem do que se trata? Como descrever ambientes os quais nem mesmo os personagens conseguem e podem vislumbrar? Como descrever as criaturas assassinas se os personagens não a veem e os que veem se matam logo em seguida? As limitações existem propositalmente.  Em minha opinião, tais respostas não fariam sentido.

Além do mais, gosto demais de narrativas que se focam em amor materno e na luta constante pela sobrevivência. Onde muitos perdem as esperanças, mas muitos continuam a lutar. O amor da personagem central pelos filhos e sua resistência, me fizeram amar tanto ela quanto sua jornada. É uma obra onde os personagens precisam lutar contra o desconhecido, se adaptando  a uma situação a qual eles não pediram e nem se colocaram na mesma. Algo que não acontece em Piano Vermelho, outra das obras metafóricas de Malerman,  a qual eu detesto por sinal.

As teorias acerca das criaturas que assombram os seres humanos são várias. Muitos afirmam que elas são uma analogia  à depressão. Teoria esta, não refutada pelo autor. São monstros que assombram o psicológico, fazendo muitos se suicidarem. Uma analogia criada pelo autor e bem desenvolvida pela diretora Susanne Bier. Que mostra aos telespectadores que a depressão é um mal que vem assolando mais e mais pessoas e que não devemos tapar os olhos diante de uma situação como essa. As diversas situações tanto do livro quanto do filme são mais uma vez metáforas sobre as diversas dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia. O árduo percurso da protagonista com os filhos no rio, mostra claramente que a vida não é fácil, mas que sempre há uma luz no fim do túnel. Interpretação esta, bem exposta em ambas as mídias em que a narrativa é desenvolvida.

A adaptação é repleta de diálogos expositivos. Algo que não temos no livro e que obviamente eu detestei no filme. Sim, eu defendo e continuo defendendo que Caixa de Pássaros é uma história que não precisa de respostas. Tanta tentativa de tentar responder o que não foi respondido nem pelo próprio autor, é claramente uma tentativa de agradar quem não gostou do livro. Não que o filme mostre as criaturas, mas deixa “no ar” uma explicação mitológica. Para quem não entendeu ou não concorda com a teoria psicológica defendida pela diretora e por psicólogos, existe também a explicação exposta através de um diálogo do filme. As criaturas seriam personificações de Aka Manah da antiga lenda dos Zoroastra. Ou o Surgat, das antigas crenças ocultistas cristãs. Faces de uma mesma criatura, um ser capaz de fazer você encarar o seu pior medo ou encarar um trauma que você ainda não superou. Um impacto capaz de te levar à loucura e até mesmo ao suicídio.

Caixa de Pássaros é uma metáfora sobre a vida. Uma narrativa que trata de maternidade, de amizade, de desespero humano diante do que não entendemos, de adaptação e aceitação ao novo, de confiança e da importância de nunca perdermos as esperanças. Entendo perfeitamente quem não gostou do livro, mas pra mim foi algo funcionou que me fez refletir sobre os caminhos tortuosos da vida, os quais nem sempre precisamos entender. Tudo vai de como os encaramos. Nem sempre respostas são as soluções, mas sim como encaramos e nos adaptamos ao que não pode ser compreendido.

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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