Mundo das Resenhas
Drácula: O que dizer da obra-prima de Bram Stoker? Drácula: O que dizer da obra-prima de Bram Stoker?
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******************************NÃO contém spoiler****************************** Autor: Bram Stoker Editora: Nova Fronteira / Idioma: Português / Tradutora: Adriana Lisboa / Gênero: Literatura gótica / 446 páginas Drácula;... Drácula: O que dizer da obra-prima de Bram Stoker?

******************************NÃO contém spoiler******************************

Autor: Bram Stoker

Editora: Nova Fronteira / Idioma: Português / Tradutora: Adriana Lisboa / Gênero: Literatura gótica / 446 páginas

Drácula; um personagem, uma obra-prima ou apenas a representação aristocrática de um tempo a ser combatido e reestruturado? A resposta para tal questionamento está muito além de uma análise primária de um dos romances mais importantes já escritos. Drácula trata-se de um romance sentimental, crítico, histórico e transformador. Uma obra que exerce um poder reflexivo poderoso, que vai além do tempo o qual ele foi escrito, tornando-o assim, a exemplificação “perfeita” do termo “atemporal.” Devo salientar também que o romance em questão se revela em camadas muito bem estruturadas, seja no quesito narrativo ou psicológico; se desenvolvendo em estruturas discursivas sólidas e convincentes.

Escrito em 1987 pelo autor anglo-irlandês Bram Stoker, Drácula narra a história de um grupo de personagens que se unem para combater o mal na forma de uma criatura mítica,que passa a assombrar a Inglaterra e seus habitantes. Criatura esta, que nada mais é que um vampiro, figura muito conhecida na cultura popular. Apresentado através de uma estrutura epistolar, o livro se divide entre pontos de vista dos personagens centrais que vão dividindo suas perspectivas sobre os fatos narrados. Uma obra cheia de simbolismos sociais e descrições denotativas que vão se fundindo com o sentimentalismo dos personagens; indo de encontro com o status quo da época em que a obra foi escrita e que serve também de ambientação para a história em si. Stoker traz à superfície de sua narrativa os sentimentos de suas personas ficcionais, demonstrando o elo emocional que um tem pelo outro, seja no âmbito da amizade ou no âmbito do romance. Característica que transforma o clássico gótico de Bram Stoker em uma obra cujo um de seus pilares narrativos é o sentimentalismo emocional como personagem participativo, abstrato e essencial, já que é tal aspecto que guia muitas vezes as ações dos personagens.

Como texto crítico e transformador, o discurso ficcional do escritor nos agracia com uma personagem feminina forte, de importância inquestionável e de significação social e transformatória. Apesar de em um certo momento um personagem se referir a ela como uma mulher que possui um cérebro masculino, tal figura feminina traz a nós leitores atuais uma mulher que representa a quebra de paradigmas de uma sociedade que definia, ou desejava definir os comportamentos e posições que uma mulher deveria ter. Nem mesmo uma frase machista proveniente e reflexo da esfera social da época é capaz de diminuir tal personagem, ou de tirar sua importância narrativa. O que me faz ir contra afirmações que apresentam Drácula como uma obra machista. O clássico aqui resenhado e analisado é reflexo de seu tempo e apresenta com maestria o período histórico escolhido e descrito pelo autor. O que aproxima a obra da verossimilhança e a distancia do machismo puro e simples.

Como citado  no segundo parágrafo, as descrições denotativas trazem imagens que distorcem a ambientação, trazendo o ar dark da escrita e se destacando como um show a parte. Os personagens são excelentes, e o desenvolvimento narrativo apesar de ser muito lento em vários momentos, entrega um desfecho fantástico. Tudo fica ainda mais fascinante quando nos contextualizamos e nos deparamos com as interlocuções sobre ciência e medicina, que conectam a ficção com a realidade que estava se deparando com os avanços dos assuntos mencionados.

“Às vezes,  quando a estrada atravessava os pinheirais que na escuridão pareciam se fechar sobre nós, grandes volumes de uma neblina cinzenta cobriam num ponto ou noutro as árvores , produzindo um efeito peculiarmente estranho e solene; assim, perpetuavam-se os pensamentos e as soturnas fantasias engendradas mais cedo, quando o poente fazia com que as nuvens fantasmagóricas que ali no Cárpatos parecem deslizar incessantemente por entre os vales parecessem  estar em alto-relevo.” p. 15

 

“Dormi apenas umas poucas horas quando fui para cama, e, sentindo que não conseguia dormir mais, levantei-me. Pendurara meu espelho junto à janela e começava a me barbear. Subitamente, senti que punham a mão em meu ombro, e ouvi a voz do conde a me dizer um bom-dia. Fiquei surpreso, pois me intrigava o fato de não tê-lo visto, já que o reflexo do espelho abarcava todo o quarto às minhas costas.” p. 35

 

“[…] Em resposta , o conde fez que sim com a cabeça. Uma das mulheres se adiantou e abriu o saco. Se meus ouvidos não me traíram, houve um arquejo e um gemido baixinho, como se estivesse ali uma criança meio sufocada. As mulheres cercaram-na. Eu estava estupefato, aterrorizado.” p. 50

A intenção de minha resenha não é esmiuçar as inquietudes e reflexões da obra em sua profundidade; até por que não me sinto capaz de tal função. Tive apenas a intenção de apresentar aspectos os quais consegui identificar após uma releitura mais atenta. Drácula é uma obra tridimensional que navega em várias esferas, indo da ficcional, passando pela psicológica e se aprofundando nas esferas que a consagraram como uma das três obras clássicas da literatura gótica. Sem sombras de dúvidas, é uma obra-prima para lermos e refletirmos a fundo sobre suas mensagens, sejam elas simbólicas ou de aspecto crítico mais palpável. Uma obra de cunho intelectual impressionante, que apesar de abordar temas considerados por alguns como datados, não só pode como deve ser considerado uma obra atemporal, pela importância e contribuição que realizou e que continua realizando no meio literário e social.

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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