******************************NÃO contém spoiler*****************************
Autora: Melissa Bashardoust
Editora: Plataforma 21 / Gênero: Fantasia YA / Idioma: Português / 424 páginas
Mulheres que se odeiam, que disputam o protagonista másculo e que se rivalizam a cada virar de páginas. Um clichê já bastante batido que nada tem a ver com o momento atual, em que o feminismo vem ganhando cada vez mais força, em especial, no ramo literário. Talvez seja isso o grande ponto alto de “Garotas de Neve e Vidro”; já que o romance fantástico de Melissa Bashardoust entrega uma narrativa em que as protagonistas se apoiam, se amam, possuem empatia, e onde a sororidade é a grande protagonista. Um reconto de Branca de Neve moderno, recheado de sutilezas e com personagens carismáticas. Se é uma leitura rápida que deseja, a obra de viés “feminista” de Bashardoust é uma boa história a se conferir. Sente no sofá ou em um lugar confortável, modere as expectativas e embarque na jornada de duas personagens incompletas, que tudo que desejam é entender quais são seus lugares no mundo.
Duas mulheres…Uma feita de vidro; outra feita de neve. Um reino esquecido; outro congelado. Um trono a se ocupar; duas possibilidades. Uma garota destemida e uma rainha gananciosa. Uma amizade inesperada e um mundo a se consertar. “Garotas de Neve e Vidro” é o tipo de fantasia cujo público alvo me parece muito bem delineado. Trata-se de um romance simples, bastante linear, sem grandes surpresas, e com muitas, mas muitas obviedades. E não acho que tamanha simplicidade seja exatamente algo negativo, já que a narrativa me soa mais como um protesto textual, que coloca a sororidade no centro das discussões e que afasta a obra de um caminho mais épico ou até mesmo marcante (o que pode te agradar ou te decepcionar imensamente). O que talvez justifique o carinho e elogios que muitos leitores vem tecendo sobre a leitura. Não há necessidade de colocarmos mulheres para se odiarem ou para disputarem coisas sem sentido; que as inferiorizem intelectualmente ou fisicamente, com a pura intenção de reforçar esteritótipos já ultapassados sobre a figura feminina. O livro tem pontos muitos válidos e uma escrita onde o feminismo é bem abordado, sem ser piegas, sem ser militante demais e sem inferiorizar ou colocar a figura masculina como algo a se desprezar ou qualquer coisa que remeta a briga de gêneros. A obra possui equilíbrio e funciona em seu desenvolvimento quanto ao assunto mencionado.
Contudo, não é o tipo de fantasia que me agrada. Gosto de tramas mais elaboradas, que me surpreendam, que possuam profundidade e que sejam imersivas. A escrita de Melissa Bashardoust é muito simplória, repleta de vícios que me incomodaram (como um repertório pífio de palavras, repetições exageradas dos nomes das protagonistas em um mesmo parágrafo e uma narrativa rasa), com um Worldbuilding mais do que insatisfatório, com personagens coadjuvantes pouco explorados e com um desfecho tão óbvio, que ao invés de me agradar, me deu sono. É bacana, mas tão prevísivel que terminei a leitura incomodado com a falta de criatividade e ousadia da autora. A primeira metade é muito linear, se constratando com a segunda que se torna mais interessante, mas que reforça as obviedades, apresenta um vilão muito mal trabalhado e o desfecho o qual já comentei anteriormente.
Entre as obras fantásticas de cunho feministas, as quais já li, “Garotas de Neve e Vidro” me pareceu brincadeira de criança. Não me entendam errado, falei nos parágrafos anteriores e reforço neste aqui. Enxergo vários pontos positivos e acho que o referido livro tem sua relevância. Mas como fantasia, não me satisfez. Achei simples demais, pouco cativante e com descrições que não me traziam à tona o fantástico da história de forma a me fascinar. O feminismo entregue é legal, mas ainda não se compara com o que encontrei em “As Brumas de Avalon” ou em “The Priory of the Orange Tree”. É mais um livro que entra em minha lista pessoal de indicações para leitores iniciantes do gênero. Simples, leitura rápida, de fácil compreensão e digestão mental e com boas reflexões. Uma obra que mostra que mulheres podem e devem se admirar, se apoiar e serem aquilo que desejarem ser. Uma obra onde duas mulheres se autodescobrem, lutam e se unem para se reformularem e tentarem reformular o mundo em que vivem. Com ressalvas ou sem ressalvas, a verdade é que a obra de Melissa Bashardoust é vendido como uma fantasia feminista e singela. Isso ela de fato é. Sororidade? É o que “Garotas de Neve e Vidro” promete e entrega de forma no mínino satisfatória. Tudo dependerá de sua expectativa e perspectiva de leitor, que decidirá se este ponto basta para classificá-lo como um bom, mediano ou ruim. Pra mim foi um bom ponto, mas não o suficiente.
PS. E o que dizer dessa capa? Linda, mas mais uma capa com coroa. Está faltando criatividade das editoras também. Até quando teremos capas que mais parecem cópias uma das outras?