Mundo das Resenhas
(HQ) Maus: A história de um sobrevivente (HQ) Maus: A história de um sobrevivente
******************************NÃO contém spoiler***************************** Autor: Art Spiegelman Editora: Quadrinhos na Companhia / Gênero: Autobiografia / Idioma: Português / 296 páginas Não sei nem por onde... (HQ) Maus: A história de um sobrevivente

******************************NÃO contém spoiler*****************************

Autor: Art Spiegelman

Editora: Quadrinhos na Companhia / Gênero: Autobiografia / Idioma: Português / 296 páginas

Não sei nem por onde começar. Se você gosta de histórias em quadrinhos, provavelmente já ouviu falar de Maus, uma das mais premiadas e importantes narrativas sobre o holocausto já escrita. Um desabafo e transcrições narrados e passados para o leitor de forma catártica. Uma realidade nua e crua que manchou as páginas da História de forma a nos fazer conviver com os fantasmas do passado, não apenas de forma brutal, mas também traumática, até mesmo pra quem não passou por aquilo. Passado este, que deve ser estudado a fundo para não ser repetido.  Art Spiegelman nos choca e nos emociona com páginas e mais páginas de relatos de seu pai, uma das vítimas deste horrendo período histórico, e que convive com seus traumas que transparecem através de seus excêntricos comportamentos desenvolvimentos ao longo dos anos.

Narrado de forma visceral, os fatos expostos pelo autor possuem força e a capacidade de despertar em nossos íntimos, repulsas incontroláveis e questionamentos profundos acerca da capacidade do ser-humano em ser mal. Como é possível que achassem normal agredir os outros sem motivos aparentes? Como achar normal envenenar, queimar, negar comida, abrigo, tendo como justificativa apenas a nacionalidade de outrem? E em pleno século XXI, como é possível existirem pessoas que acham engraçado e certo fazer piada com um assunto tão triste e tão repugnante? Já dizia Goethe:

“wir sind gewohnt dass die menschen verhöhnen was sie nicht verstehen.

*Estamos acostumados a convivermos com pessoas que zombam do que não entendem. ”

Maus, vencedor do prêmio Pulitzer em 1993 (premiação nunca antes dada para uma graphic novel), foi publicado originalmente entre 1980 e 1991 na revista Underground Raw; com metáforas audaciosas, empregadas nos traços antropomórficos dos personagens, a graphic novel se prova como um soco no estômago e como algo capaz de nos amortecer. Os judeus são ratos, os poloneses porcos, os alemães gatos, os franceses sapos, os americanos cachorros e por aí vai. A HQ assusta pelas maldades narradas e pelas marcas deixadas por atrocidades àqueles que sobreviveram.

Por diversas vezes tive que interromper minha leitura pra digerir e refletir sobre o que havia acabado de ler. Tudo só piora e eu não consegui sentir nada além de nojo, ódio, repulsa e pena. Pena daqueles que tiveram que passar por tudo aquilo. Pena dos que sobreviveram, mas que viveram com medo de tudo e de todos. E pena (desta vez de forma asquerosa) dos que distorcem os fatos afirmando que nem tudo é como contado. Infelizmente muitos não tiveram a chance de contar o seu lado da história, morreram antes que isso se tornasse possível. O mínimo que devemos a eles é respeito! Vamos parar de fazer piada com isso ou com qualquer outro assunto que faça parte de momentos históricos como esse. O mundo precisa de pessoas conscientes para que nada disso volte a acontecer.

Os traços de Spiegelman não são fantásticos, mas nem precisam. Pois a narrativa se sustenta por si só; e os traços (obviamente importantes) servem mais como pilares de sustentação e reafirmação satírica e simbológica. O texto se divide entre diálogos colocados na parte interna dos requadros e narrativas externas, de um narrador a parte (o pai do autor) na parte inferior e superior dos requadros, realocados externamente.

Maus é uma leitura mais que obrigatória, é necessária! Uma obra fantástica, ácida e que me fez um ser-humano melhor. Não posso dizer que sou o mesmo de quando iniciei a leitura. Dizem que a literatura tem o poder de nos transformar. Eu sou a prova concreta de que isso é verdade.

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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