********************NÃO contém spoiler********************
Uma garota em luto, um poder paranormal e adolescentes se descobrindo em meio a bullyings e anseios juvenis. Talvez você já tenha visto isso em diversas outras séries e filmes; mas garanto que apesar das repetições narrativas, I Am Not Ok With This é o tipo de série a nos deixar curiosos, atentos e sedentos por uma segunda temporada. Protagonizada por Sophia Lillis, a trama de amadurecimento nos agracia com referências divertidas a quadrinhos e a famosa história de Carrie, A Estranha do saudosíssimo Stephen King.
Baseada na série de quadrinhos de Charles Forsman (o mesmo quadrinista de The End of the F**ing World) e dirigida por Jonathan Entwistle (também um dos roteiristas), a nova série da Netflix apesar de se manter na superficialidade dos temas abordados, nos diverte ao mesmo tempo que apresenta atuações cruas, muitas vezes esquisitas, mas que agradam aos olhos e nos deixa com uma sensação a ser decifrada. Com episódios curtos de no máximo 23/28 minutos cada um, a dinâmica da trama como um todo nos prende e chega até a nos surpreender em alguns momentos. A personagem central é estranha, insegura, amargurada e honesta em sua esquisitice. Com questionamentos acerca de sua sexualidade – mais um ponto positivo para a série que entrega representatividade – com um relacionamento duro com a mãe e com relações a serem construídas com os colegas de escola, Syd tenta se encaixar em um mundo que sente não pertencer.
Com uma estrutura bastante linear, I Am Not Ok With This tem seus momentos interessantes e tem seus momentos brevemente tediosos. Mas mesmo com altos e baixos (em minha percepção), a série se tornou uma de minhas queridinhas atuais, e graças ao ultimo episódio que achei espetacular; preciso imediatamente da segunda temporada. Uma série gostosinha de acompanhar e perfeita para maratonar. Em momentos de distanciamento social ou até mesmo de quarentena; a nova série da Netflix serve como o alívio que muitos de nós precisamos.
E o que dizer da HQ?
Talvez eu tenha ido com expectativas demais. Me decepcionar com uma HQ que serviu de inspiração para uma série que me agradou, me surpreendeu e me frustrou. A história obviamente é a mesma e a série foi bem fiel, melhorando diversos aspectos da obra original. A leitura é rápida, já que muitos requadros possuem apenas imagens; além dos diálogos apresentados serem mais que breves. Todavia, o traço é muito simplório e o desenvolvimento dos personagens é raso ao ponto de deixar toda a narrativa ainda mais superficial do que ela já é. Os dramas psicológicos da personagem central são mal trabalhados e a falta de profundidade dos temas abordados consegue ser ainda mais raso do que a superficialidade entregue pela série. É tudo muito frenético e a decepção é grande quando percebo que respostas que imaginei que viriam, nunca chegaram.
Esta é uma das raras exceções que posso dizer com convicção que a série é melhor que a HQ a qual se inspirou. Pra quem procura uma leitura rápida e um complemento (nem tanto assim) pra série, talvez a leitura valha a pena. Os finais são diferentes – o da série é melhor, mas o da HQ é mais impactante quanto a questão psicológica da obra, sendo passível de discussões importantes e necessárias sobre depressão – e apesar dos dois serem chocantes, eles se complementam de formas distintas e nos deixa pensativos. O final da HQ seria o final inevitável da segunda temporada? Algo a se pensar e a se torcer para que não aconteça. Em meio a tantas leituras, a versão quadrinizada de I Am Not Ok With This entra infelizmente em minha lista de leituras esquecíveis.