*******************************NÃO contém spoiler*******************************
Autor: Jay Kristoff
Editora: Plataforma 21 / Gênero: Fantasia / Idioma: Português / 976 páginas
Em um mundo sem luz, onde os mortos se levantam e uma guerra ancestral acontece, a única salvação é se agarrar a uma inquestionável fé e rezar para que Deus nos escute? Ou devemos temer Àquele que deveria nos proteger? Em um mundo apocalíptico onde lutar pode ser a única alternativa viável, Jay Kristoff nos imerge em um assombroso e cativante mundo, onde todos podem ser mocinhos e vilões. Onde Deus nos guia ao mesmo tempo que nos ignora. Onde Mortos, vampiros, mestiços e humanos travam uma luta em prol da preservação/destruição da humanidade e a continuação/queda do Império.
Com referência a aclamadas obras como Entrevista com Vampiro, O Nome do Vento e A Passagem, a elogiada narrativa vampiresca de Kristoff parece ser o tiro certo que vem para arrebatar os leitores de fantasia adulta que desejam não apenas se aventurarem pelas páginas de uma boa obra especulativa, como também se depararão com reflexões sobre relações humanas, fé, perdão e perseverança.
Com uma escrita mais madura e com personagens mais complexos, o famoso autor da trilogia Crônicas da Quasinoite nos entrega uma trama que empolga, que nos guia linha a linha a um universo repleto de cenas cinematográficas, que muito bem escritas, descrevem com maestria os sentimentos das personas, que mesmo ficcionais, quase saltam das páginas transcendendo o imaginativo dos leitores.
Sendo uma narrativa de jornada em que acompanhamos o famoso, carrancudo e enigmático Gabriel de Léon, em meio a um excêntrico e enigmático grupo de personagens codajuvantes – que parecem protagonistas tanto quanto – Império de Vampiro se eleva pelos magníficos diálogos, acontecimentos, representatividades bem inseridas e trabalhadas, e pelos questionamentos sobre religião, machismo e a liberdade de sermos quem somos e de amarmos livremente.
Contudo, a obra aqui resenhada peca ao meu ver, pelo ritmo por vezes arrastado e repetitivo, o que o assemelha e muito a escritos de autores como Robin Hobb e o já citado Patrick Rothfuss. O que não diminui a grandiosidade textual do autor; mas que impacta – ou pode vir a impactar – na agilidade e talvez imersão da obra em si. Além de alguns plot-twists que por serem quase em sua maioria óbvios demais, acabam perdendo a força e não gerando o impacto que gerariam – e que deveriam gerar – se tivessem sido melhores elaborados e inseridos na trama.
Em suma, Império do Vampiro é um livro de alto nível, que não o distancia em nada se comparado com tantas outras obras de fantasia adulta que temos no mercado; e que mostra de forma palpável que Jay Kristoff é um baita de um escritor que vai muito além de seus já conhecidos clichês, decisões equivocadas e cenas exageradas e problemáticas. O que temos aqui é algo que já considero como um suprassumo da literatura fantástica. Se não leu, leia!
“NÃO ME PERGUNTE SE Deus existe, mas por que ele á tão cretino?
Nem o maior dos tolos pode negar a existência do mal. Nós vivemos em sua sombra todos os dias. Os melhores de nós se erguem acima dele, os piores, o engolem por inteiro, mas todos caminhamos mergulhados no mal até a cintura, todos os momentos de nossas vidas. Maldições e bênçãos recaem igualmente sobre o cruel e o justo. Para cada oração atendida, dez mil ficam sem resposta. E santos sofrem junto com os pecadores, presas de monstros cuspidos direto do estômago do inferno. […] Você já se perguntou o que nós fizemos para que ELE nos odeie tanto?”