INSCREVA-SE NO NOSSO CANAL DO YOUTUBE, RESENHAS DE LIVROS, FILMES, SÉRIES E ANÁLISES

anuncie aqui

******************************NÃO contém spoiler******************************

“O conto da Aia” da escritora canadense Margaret Atwood foi lançado pela primeira vez em 1985 e é considerado um dos romances mais importantes da língua inglesa. É uma história reflexiva que aborda a inferiorização da mulher em uma sociedade onde elas são vistas exclusivamente como óvulos ambulantes.

É um livro político e distópico que mostra todo o horror que o homem pode causar com a intenção de criar uma sociedade mais funcional. Tudo na história tem um respaldo histórico e religioso que é muito bem inserido por Atwood. “O conto da Aia” é um relato de quem foi testemunha e vítima de um sistema hierarquizado onde os únicos que eram imunizados eram os homens detentores do poder.

Nossa protagonista é Jules, uma mulher que do dia pra noite se vê anulada de qualquer direito que possuía. Sendo fértil, ela se vê transformada em uma aia; uma mulher que terá como função ser barriga de aluguel da família de um general. Após o nascimento da criança, é transferida para outra residência para cumprir o mesmo papel. Não tendo direito absolutamente nenhum sobre o próprio filho e muito menos sobre o próprio corpo.

É um livro que levanta ao longo da leitura diversas perguntas onde muitas nem sequer são respondidas. As cenas de sexo com o intuito de procriar, nada mais são do que cenas de estupro institucionalizadas; onde a própria esposa do general participa do ritual, segurando os braços da aia (a mulher estuprada). Os estudiosos da época de antes (termo utilizado pela personagem principal), são vistos como criminosos e são caçados como tais. Tudo é defendido de maneira racional e religiosa, capaz de deixar alguns leitores no mínimo desconfortáveis.

Diante de tudo que nos é apresentado, podemos deturpar a mensagem da história achando que se trata de uma narrativa que relata a luta contra um sistema totalitário. Mas na verdade, mesmo com a resistência de alguns personagens, este livro não é sobre a luta da minoria a favor de um sistema mais justo. É na verdade a história de seres humanos amortecidos, condicionados a aceitarem o seu novo papel. Como diz uma reportagem na revista Carta Capital:

“Não é uma história sobre resistência, sobre mulheres ou sobre ficção-científica. É sobre horror. Ainda pior quando Margaret Atwood declara para New York Times que uma de suas regras era apenas utilizar eventos que tivessem acontecido na história.”

“O conto da Aia” tem uma escrita impecável, porém lenta. Algumas situações são apresentadas de maneira repetitiva com a intenção de fortalecer a vulnerabilidade da protagonista diante de situações tão absurdas. As Aias perdem seus nomes e passam a ser tratadas por termos mais específicos. A protagonista é chamada de OFFred, onde “of” é uma palavra do inglês que significa “de” ou “do”. Nada mais explícito do que este termo que deixa claro o poder de posse do homem sobre a mulher.

É um livro excelente, cansativo em alguns momentos, mas muito bom e muito indicável para quem gosta deste tipo de história. Deixa pontas soltas, mas as notas históricas após o final da história principal trazem um peso para a narrativa que nos deixa pensativos. E se tudo apresentado de fato acontecesse? O problema é que esquecemos que tudo já está acontecendo. Talvez, assim como Jules, estejamos amortecidos a respeitos das injustiças do mundo ou preferimos nos fazer de cegos para não nos incomodarmos.

Quantas mulheres de outras países não fogem buscando refúgio e uma maneira mais justa de serem tratadas? Sentimos pena delas como sentimos das Aias do livro? Infelizmente, muitas são expulsas como animais. O romance de Atwood infelizmente não é somente ficção, é uma realidade a qual fazemos parte, direta ou indiretamente.

Tenham senso crítico quando forem ler e não tenham pressa quanto as respostas. É um livro que não entrega nada de bandeja ao leitor. Se forem ler, saibam que terão que refletir e criar paralelos. “O conto da Aia” é uma história cruel, mas necessária. Ela mostra que não evoluímos para melhor, apenas estamos reproduzindo fatos passados. A história se repete e a crueldade humana se intensifica. O importante é termos forças para resistir!

Compartilhe
Share
Share
0
Adoraria ver seu comentário ♥x