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A produção literária sempre esteve atrelada a história da civilização humana como forma de manifestação cultural e perpetuação de conhecimentos. Com o passar dos séculos, foi lapidada e aperfeiçoada para representar, por meio das palavras, os avanços – a meu ver, alguns retrocessos – sociais, bem como prelúdios destes, agradando ou despertando ódio.
No âmbito da literatura enquanto manifestação cultural, algumas produções polêmicas chocaram a sociedade por abordarem temas considerados restritos, os chamados “tabus sociais”. A obra “Lolita” de Vladimir Nabokov, finalizado em 1953, com lançamento em 1955, seis anos após a vinda ao mundo de “O segundo sexo” de Simone de Beauvoir, pode ser inclusa na lista de livros que causaram grandes rebuliços em sua estreia.
Considerado pela maioria dos críticos como “lixo obsceno”, “Lolita” não foi bem recebido, tendo a venda proibida em muitos países da Europa e na Argentina. Além do conteúdo em si, o processo criativo envolvendo o livro também foi questionado. A autora do livro “A verdadeira Lolita: o sequestro de Sally Horneo” – The real Lolita: the kidnnaping of Sally Horneo -, Sarah Weinman, afirma com veemência que Nabokov baseou toda sua narrativa no caso “Sally Horneo”, uma garotinha de 11 anos, sequestrada por Frank la Salle, 50.
O criador de “Lolita” negou categoricamente que Sally tenha servido de molde para Dolores Haze, segundo ele “Lolita nunca teve um original”, conclui que na época, várias notícias sobre adultos perseguidores de crianças surgiram e que tudo não passou de coincidência.
Apesar de todas as controvérsias que envolveram os primeiros momentos de vida da obra, “Lolita” logo alcançou o status de clássico literário, sendo publicado no novo continente em 1967. A primeira adaptação direcionada ao cinema data-se em 1962, a segunda e a mais famosa, em 1997, conduzida por Adrian Lyne.
Mas afinal de contas, o que torna o mais conhecido livro de Vladimir Nabokov tão excêntrico e famoso? Basicamente, “Lolita” encerra as lembranças de Humbert Humbert, ou apenas senhor Humbert, um imigrante europeu que vai para a América em busca da realização de seus desejos mais recônditos, e sua obsessão por uma “ninfeta” de 12 anos. O protagonista supracitado parece saído do mesmo consultório do nosso “Bentinho” machadiano, tendo em vista que a história é contada sobre o ponto de vista do próprio Humbert, desde seus traumas de infância envolvendo um amor não consumado, perpassando pelo primeiro casamento frustrado, incidindo na ocasião que Dolores Haze surge em sua vida, como que enviada diretamente dos jardins límbicos da mitologia “humbertiana”, ao desfecho trágico e solitário do narrador.
A verdade é que “Lolita” não pode ser designado apenas como um romance de caráter erótico. Poderão contar como certa a decepção daqueles que pretendem lê-lo pelo simples interesse em um relato picante, cheio de detalhes chulos, beirando a sordidez, sobre a relação de um homem e uma criança. Toda o enredo, bordado em fios de seda, possui uma delicadeza única, sem, no entanto, camuflar a seriedade dos temas-componentes.
A pedofilia é tida como a questão-cerne por muitos, mas há muitas outras questões humanas inclusas. O jogo de conveniências, narcisismos, a sexualidade, a submissão, os adventos do feminismo, o fanatismo, entre outros que colocam em xeque a natureza humana e o húmus que a compõe. Muito se vê do realismo tão presente na literatura russa.
“Lolita” não é apenas sobre uma garotinha que dá mostras desde muito cedo de um sex appeal poderoso, como faz crer as adaptações cinematográficas que compartilham seu nome. É um apanhado complexo da degradação humana, feito de uma maneira bastante inteligente. O cheiro leve e suportável, de início, dá lugar ao forte odor de putrefação ao final. Muito embora o óbvio esteja adornado com luzes de led, particularmente, considero-me incapaz de integrar-me ao júri convocado para julgar H.H. ou mesmo a pequena Dolores Haze, da mesma forma que não sei dizer se Capitu traiu Bentinho ou se Remédios amou Aureliano. As conclusões e reações são incertas, mas mesmo assim, a leitura vale a pena.
Fiz o caminho inverso: anos atrás assisti o remake de 1997 e recentemente o filme original de 1962. Só agora li e terminei o livro de Nabokov. E apesar de saber dos “spoilers” da trama, o livro se me mostrou EXCELENTE! Verdadeira obra-prima! Confirmo a genialidade da obra de Nabokov e recomendo a leitura, pois é muito superior ao conteúdo das adaptações cinematográficas.
Resta dizer que gostei dos dois filmes, mas vejo que cada um deles tem pontos fracos que considero DESNECESSÁRIOS: no filme de 1962 é o humor pastelão e caricato do personagem de Peter Sellers; no de 1997, é o fato de aparentemente tornar H. H. como sendo uma vítima de Lolita e ser o herói da trama contra o satânico C. Q. (sendo ambos pedófilos imperdoáveis). Mas os dois filmes tem seus méritos e valem a conferida.
Olá, Sidcley! Obrigada por ler a resenha! Nabokov é maravilhoso mesmo. Lolita, em especial, mexe com a gente justo por abordar um tema tão complexo.
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OIá!! Nossa, pode deixar! Obrigada pelo convite para conhecer seu trabalho! Desejo sucesso!
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