*******************************NÃO contém spoiler*******************************
AUTOR: WILLIAM GIBSON
EDITORA ALEPH / IDIOMA: PORTUGUÊS / GÊNERO: FICÇÃO-CIENTÍFICA / 520 PÁGINAS
O que você faria se fosse testemunha de um assassinato ocorrido em uma realidade virtual que parece ser um resquício do futuro? Pois é exatamente diante desta situação que Flynne, uma azarada garota se vê ao substituir o irmão como segurança virtual em um misterioso jogo; e se tornar da noite pro dia a testemunha de um suposto crime. Situada em um mundo em que a impressão de itens em modo 3D são possíveis para serem utilizados como objetivos comuns do dia-a-dia, a jovem se vê diante de uma perigosa trama de intrigas, mentiras e suposições, onde o passado, o presente, o futuro e um suposto futuro, irão se entrelaçar dando vida a uma corrida contra o tempo onde a solução do que presenciou não parece ser a única e necessária preocupação de todos.
Indo e vindo através de duas linhas temporais e focada em dois grupos distintos de personagens, a narrativa de Periféricos do autor William Gibson – escritor também de Neuromancer, a obra que serviu de inspiração para o clássico dos cinemas Matrix – apresenta uma intrincada trama que nos leva a um emaranhado de caminhos em que nem tudo parece ser o que demonstra ser. Com bastante audácia, Gibson entrega um extenso portfólio de personagens que interegem de forma dinâmica, levando a trama adiante – entre idas e vindas temporais – se aproveitando de elementos clássicos e intrínsecos ao gênero.
Indo de encontro ao conto clássico Mozart in Mirrorshades dos escritores Lewis Shiner e Bruce Sterling – o qual o próprio autor cita em seus agradecimentos – Periféricos se desenvolve de maneira a agradar quase que de forma certeira aos fãs tanto do autor quanto das temáticas em si. O que por si só me parece ser realmente o caso, tendo em vista as boas avaliações que vem recebendo de quem já o leu. Mas se eu o indico ou não, sinceramente? Não sei dizer.
MINHAS IMPRESSÕES:
Em se tratando de um autor conceituado e bastante temido por um grande grupo de leitores – devido a sua comentada complexidade narrativa – Periféricos me surpreendeu pela fluidez e facilidade de assimilação em relação a forma em que a tudo é narrado e apresentado ao leitor. Apesar ter me sentido perdido nos primeiros 20% da leitura, não tive uma experiência truncada, desafiadora ou desconfortável.
Os capítulos curtos colaboraram e muito para que as páginas voassem, não cansando ou transformando a leitura em algo enfadonho; o que ocorreria se o texto fosse formado de grandes blocos de capítulos. As explicações entregues também não são das mais difíceis, apesar de causaram estranheza em um primeiro momento. As grandes questões que me atrapalharam foram outras e não as que sustentaram ao longo dos anos e ainda sustentam a fama do autor.
Logo no início da leitura senti uma certa frieza na escrita. Tirando os últimos 10% do livro, não me senti de forma alguma conectado aos personagens e aos mundos apresentados. Os personagens não me causaram empatia e não entregam carisma. Apesar de humanos, parecem em sua maioria e em grande parte da trama como seres nulos de sentimentos ou de qualquer outros aspectos que os classificariam como seres não robóticos.
As ambientações apesar de interessantes, também deixam a desejar. O autor cita em vários momentos elementos acerca das avançadas telecnologias e estruturas sociais e políticas, mas não se aprofunda em nada. Tudo instiga e desanima nas mesmas proporções, fazendo com que eu me sentisse limitado como leitor, já que não me era possível ter um vislumbre amplo, seja ambiental ou situacional.
A parte investigativa é mais um dos elementos que pra mim ficaram aquém do esperado. Comparado com outras obras que misturam o investigativo com a ficção especulativa, como a série dos Robôs de Isaac Asimov e Encarcerados de John Scalzi, classifico Periféricos como um livro muito árido. Entretanto, engana-se quem pensa que o destetei ou terminei a leitura não desejando ler mais nada do autor. Apesar de milhares de ressalvas e escassez de elogios, permaneci durante boa parte do livro investido na leitura. Os últimos capítulos são muito bons, e a ideia do romance como um todo é bacaca, conseguindo me deixar no mínimo curioso para conferir outras obras do referido autor, em especial, aquela que muitos enaltecem e outros tanto nem conseguem passar das primeiras páginas, a temida Neuromancer.
CONSIDERAÇÃO FINAL:
Apesar dos diversos elementos já conhecidos dos leitores, Periféricos transmite uma sensação esquisita de algo inovador, mesmo que não o seja de fato. Para quem está iniciando ou pretende iniciar a leitura do gênero, eu certamente não o indico. Pra quem lê o gênero e gosta, confesso que fico em dúvida. O que posso dizer é: leia por sua conta em risco e tire suas próprias conclusões. Melhor conselho do que este, no momento não me sinto preparado para dar.