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Quem é você, Alasca? Série HULU Quem é você, Alasca? Série HULU
“Quem é você Alasca?” é um dos livros mais queridos e vendidos de John Green, sendo a primeira obra do conhecido e aclamado escritor,... Quem é você, Alasca? Série HULU

Quem é você Alasca?” é um dos livros mais queridos e vendidos de John Green, sendo a primeira obra do conhecido e aclamado escritor, sobretudo entre os jovens que desde 2005 acompanham o seu trabalho e vêm se apaixonando pela sua forma leve de escrever sobre assuntos complexos, onde as mentes adolescentes costumam transitar, nos dando cenários perfeitamente vislumbrados e emoções mais do que absolutamente compartilhadas entre personagem e leitor.

O livro de estréia de John Green se trata de um romance diretamente inspirado em coisas que ele viveu em sua juventude, na escola Indian Spring, mas não vamos nos ater aqui a história da obra em si, se vocês desejarem posso me aprofundar em um novo post sobre isso, mas por hora iremos tratar da adaptação cinematográfica da mesma.

Durante muito tempo os fãs da obra cobraram essa tal adaptação, que venhamos e convenhamos demorou um pouco a chegar a TV, quando apenas em 2018 Josh Schwartz publicou que iria produzir uma série baseada no livro ao lado de Stephanie Savage.

Quem é Você Alasca? ou Looking for Alaska (título original) conta a história de Miles (Charlie Plummer), um adolescente que sai de sua cidade natal na Flórida, no último ano do ensino médio, para estudar na mesma escola em que seu pai estudou, Culver Creek Prep, no Alabama, buscando encontrar o seu “grande talvez”, ideia esta que partiu das últimas palavras do poeta François Rabelais. E já que falamos sobre as tais últimas palavras, Miles no decorrer de sua vida desenvolveu uma enorme estima por elas, sempre buscando o que grandes nomes e personalidades deixaram em seu leito de morte.
Ao chegar na nova escola, Miles, um garoto que costumava ser reservado acaba por fazer amizade com um grupo de amigos um tanto peculiar. Em primeiro lugar, Coronel (Denny Love), que é seu colega de quarto; Takumi (Jay Lee) e finalmente Alasca Young (Kristine Froseth), mas guardaremos esses nomes para um próximo parágrafo onde falarei isoladamente de cada personagem.

No decorrer da trama somos apresentados a muitos dos problemas que jovens enfrentam no decorrer do seu amadurecimento, os típicos trotes, as primeiras experiências amorosas, bebidas, rivalidades, entre outras “prineiras vezes”, mas o enredo de Alasca é um pouco mais intenso que isso.

Talvez nesse momento para quem não chegou a ler o livro fique o questionamento “Mas se a história conta a vida de Miles porque a protagonista parece ser Alasca?”. Bem, para responder essa pergunta primeiro preciso falar sobre qual foi a maior diferença que senti entre a série e o livro. No livro tudo é narrado em primeira pessoa, nós escutamos a voz de Miles, um adolescente que almeja e procura responder seus dilemas internos, mas que encontra o ápice da sua vida – talvez possamos definir assim – em uma garota incomum. A série por sua vez, narrada em terceira pessoa abre um pouco nossa perspectiva, nos pondo a conhecer mais sobre Alasca do que nos é permitido no livro, onde apenas a vemos sob o olhar apaixonado e, consequentemente assim, muito subjetivo do menino Miles, carinhosamente – e ironicamente – apelidado de Gordo.

Alerta de spolier

Eu não vejo como essa expansão possa ser negativa, mas sem dúvidas ela deixa margem para uma conclusão e sobretudo uma reflexão muito diferente da obra, pelo menos aconteceu assim comigo. Em todas as vezes em que li “Quem é você, Alasca?” ou reli algum trecho perdido, encontrei nela uma imagem de força e resiliência, uma personagem que arrisco dizer ter sido a que mais me marcou em todo o mundo literário. Eu me apaixonei por ela em cada entrelinha, em cada nova frase de efeito, na complexidade do pensamento de uma menina tão jovem, mas a sensação que ficou no meu peito após assistir a série quase toda – ainda não tive coragem para ver o último episódio, sei que alguns fãs irão me entender nesse ponto – foi a de que Alasca, de certo modo, foi humanizada, vulnerabilizada, mostrada apenas como ela é: uma garota enfrentando seus demônios sendo engolida por traumas ao mesmo tempo em que jura estar tudo bem. Fiquei pensando sobre isso durante muito tempo, confesso, como muitas vezes nutrimos uma admiração cega pelas pessoas que amamos, e sem dúvidas eu amei Alasca, pelas suas qualidades, pelos seus problemas e até pelos seus mistérios, do início ao fim. Para mim, em particular, ela nunca poderia ter desistido, porque se tem alguém que era capaz de transformar uma situação ruim em uma boa memória, este alguém era Alasca Young. Essa desmitificação que ocorreu na série não tirou em nenhum momento sua intensidade, se as pessoas fossem chuva, Alasca ainda seria furacão.

“Se as pessoas fossem chuva, eu era garoa e ela, um furacão.” – Miles Halter

No mais, não senti nenhuma diferença na série, ela foi fiel e superou as minhas expectativas, trazendo inclusive cenários melhores dos que os que me dispus a imaginar. Um ponto muito forte da narrativa também é a maturidade que vislumbramos em alguns personagens, todas as lições sobre amor e reflexões a respeito da vida, quando somos convidados também a responder o que pode ser o maior questionamento desta, o labirinto seria ela própria ou uma situação?

“Passamos a vida inteira no labirinto, perdidos, pensando em como um dia conseguiremos escapar e em como será legal. Imaginar esse futuro é o que nos impulsiona para a frente, mas nunca fazemos nada. Simplesmente usamos o futuro para escapar do presente.” – Alasca Young

A trama da Hulu ainda é contada em “antes e depois” algo que trouxe uma alegria imensa para mim, pois preservou uma das mensagens mais intrínsecas que John Green compilou em sua obra, que é a idéia de que existem fatos ou situações que nos mudam de tal forma que passamos a dividir nossa vida em um momento anterior e outro posterior àquilo. A explicação para isso já foi definida pelo autor em entrevistas que podem ser encontradas na edição comemorativa de dez anos do livro, que explana para nós que em 2005, quando escreveu o título, houvera acabado de viver uma grande ruptura de relacionamento e depois de muitos dias em casa acabou por encontrar inspiração para escrever seu primeiro romance, onde somos apresentados pois, a cento e trinta e seis dias antes do momento em que a vida de Miles mudou para um cenário que hora antecede, hora relembra.

“Isso é o medo: Perdi uma coisa importante, não consigo achá-la, preciso dela.”


Finalmente sobre os personagens, cabe, é claro, começar por Alasca. Na minha concepção ela é marcada por traumas familiares que caberiam em uma produção inteira caso fossem abordados em sua integralidade. Creio eu que tenha sido uma tarefa árdua trabalhar na personagem para que ela transmitisse ao vivo e a cores a linha tênue que é viver imersa em problemas ao mesmo tempo em que não apenas transmite o melhor de si, mas que também cativa. A “biblioteca da minha vida”, seu sonho vivo de ser escritora, o como interage e ainda desperta admiração de pessoas muito mais velhas que ela no auge de sua puberdade e sem sombra de dúvidas o quanto parece viver muito além do que seus poucos anos.

“Fria num dia, meiga no outro; irresistivelmente sedutora num momento e insuportavelmente chata no outro.”

Coronel foi um dos personagens que mais ganharam espaço na adaptação, pois também, ao conhecê-lo na trama e ver sob uma perspectiva diferente os seus próprios conflitos internos, acabamos nos identificando um pouco mais com seu personagem. Alguns dizem que o mérito disso é do ator que o interpretou, mas acredito que o crédito vai além dele e cai sob um roteiro impecável.

Sobre Takumi senti por ele o mesmo que no livro; dentre todos ele me parece o mais bem resolvido sobre os seus sentimentos, talvez eu esteja errada, talvez não, mas é isso que sinto em relação ao personagem. Para ser absolutamente sincera não tenho muito mais a apontar sobre ele.

Lara, embora não tenha falado nela ainda, também é uma das personagens principais, por ser a protagonista de algumas das primeiras vezes de Miles, alguém que se apaixonou por ele mas acabou por não encontrar a intensidade que estava disposta a depositar. Vejo ela como uma menina forte, mas invariavelmente uma menina que ainda deve crescer muito para compreender coisas que vão além dela.

Sobre alguns outros personagens coadjuvantes como os guerreiros dos dias de semana, Sara, a mãe do Coronel – que também foi muito bem trabalhada na série – ou até mesmo o Águia (humanizado rs), prefiro deixar reflexões sobre eles a serem tomadas por vocês.

Eu não tiraria nem acrescentaria nenhuma palavra ao livro e com certeza nenhum segundo à série. Ela foi distribuída em 8 episódios e com certeza foi umas das mais importantes pra mim, tão quanto o livro. Mas desde cedo alerto que não é uma série leve, e fiquei muito mais reflexiva após o seu fim do que talvez possa resumir. Muitas pessoas me perguntaram como consegui encontrar a série na internet, já que até o momento só foi transmitida pela plataforma de streaming da Hulu, nao disponível para o Brasil. Porém, depois de procurar e tentar muito entre sites encontrei esse aqui, com todos os episódios devidamente legendados e com boa qualidade.

Alerta de spolier

Sobre a morte de Alasca, pegando novamente emprestadas as palavras de John Green, assim como ele não esteve, nenhum leitor pôde estar no carro com ela. Esse é um questionamento e um mistério entre a vida e morte que possivelmente não solucionaremos. Mas dando a minha opinião como boa crítica que sou, acho que Alasca não entrou no carro com sua vida decidida, mas em algum momento na estrada, não sóbrio, soube que já não sairia mais dali e deixou o impulso ganhar uma rapidez direta. Esse instante é sobre tudo que a obra trata, é a explosão de todas as coisas que foram guardadas, escondidas, então novamente, como fiz antes ao resenhar 13rw alerto para importância que existe em conversar, dialogar e buscar soluções para os nossos problemas, pois elas existem! Para uns simples, para outros não tanto assim, mas existem. Então se você por ventura vier a vivenciar algo parecido ou acreditar que um amigo pode estar passando por uma situação ruim não tome ou dê espaço, esteja perto! Diga que está ali por ele, que ele é amado e não está sozinho.

Era o que eu diria para Alasca hoje.

“Tantos de nós teríamos de conviver com coisas feitas e deixadas por fazer naquele dia. Coisas que terminaram mal, coisas que pareceram normais na hora, porque não tínhamos como prever o futuro. Se ao menos conseguíssemos enxergar a infinita cadeia de consequências que resultariam das nossas pequenas decisões. Mas só percebemos tarde demais, quando perceber é inútil.” – Miles Halter.

[stellar]
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Leticia

19, paraibana. Grande admiradora de John Green, Nicholas Sparks e Isabela Freitas.

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