******************************NÃO contém spoiler*****************************
Autora: Ann Napolitano
Editora: Paralela / Gênero: Drama / Idioma: Português / 304 páginas
Avisos:
Livro não indicado para quem possui aerofobia.
Não leiam a sinopse divulgada pela editora e que consta na contracapa do livro. A mesma possui spoiler de algo que ocorre apenas após 72% da leitura.
Qual a probabilidade de sobreviver a um acidente aéreo? Para muitos, algo impossível de se imaginar. Contudo, na madrugada do dia 12 de maio de 2010, um garoto de 10 anos de idade sobreviveu a um acidente desta magnitude, sendo ele o único sobrevivente da queda do avião que havia partido de Johanesburgo e que vitimizou 103 pessoas. Servindo de inspiração para Querido Edward, romance de Ann Napolitano, o caso real chama a atenção e levanta o questionamento: no meio de tanta dor, como seguir em frente?
Impossível não se imaginar chorando ininterruptamente enquanto lê um romance com tamanha carga emocional. Impossível não imaginar o peso de ser visto como a personificação do milagre enquanto enfrenta a dor de ter perdido os pais e testemunhado o desespero de muitos em um acidente tão aterrador quanto o mencionado. Como se readaptar e como encontrar e ressignificar a felicidade de se estar vivo? Dividido em duas linhas temporais, Querido Edward apresenta de forma dinâmica os momentos que antecederam a queda do avião e os passos do protagonista enquanto tenta reencontrar seu lugar no mundo. Poderia e gostaria muito de dizer que chorei horrores enquanto lia a obra aqui resenhada. Adoraria dizer que amei o protagonista e senti vontade de adentrar as páginas lidas e confortá-lo. Mas infelizmente me senti desconectado da narrativa e da jornada de descobertas do romance de forma bastante incômoda.
Ann Napolitano consegue explorar de maneira interessante as diversas personalidades dos coadjuvantes da obra, mudando com assertividade os pontos de vista dos passageiros do voo, nos forçando a nos apegarmos aos mesmos enquanto encaramos a triste realidade de tantas vidas, sonhos e perspectivas de futuro interrompidas. Contudo, o protagonista que dá nome a obra é por diversas vezes alguém difícil de se apegar. Sua apatia em relação aos outros em alguns momentos me incomodou. A forma como a autora apresentou e construiu as relações pessoais e interpessoais que orbitam ao redor do mesmo me soaram como rasas, artificial ao ponto de eu não conseguir sentir a dor de tamanha perda ao personagem. A monotomia da narrativa também contribuiu de forma a me dar a impressão que o livro tem o dobro das páginas as quais possui. Achei a estrutura e desenvolvimento do romance linear e repetitiva demais, o que me cansou e me decepcionou no quesito emocional.
Entretanto, a leitura é interessante e mostra de forma simples e direta o quanto devemos aproveitar cada segundo de nossas vidas. Mostra o quanto o destino é imprevisível e o quanto o mesmo pode ser cruel. Se ama alguém, diga que a ama; não deixe para depois. Se tem o desejo de fazer algo, faça! Você talvez não tenha tanto tempo assim para postergar tal atitude. Ame a vida, ame e valorize quem também te ama, abrece a todos, sorria, encare os desafios do dia a dia de cabeça erguida e seja feliz. Querido Edward me deixou com ainda mais certeza de que a vida a Deus pertence e que milagres de fato existem. Não me foi um livro repleto de emoções como imaginei que seria. Muita coisa não me convenceu, mas o considero como uma leitura válida. Um romance ok, que vale pela mensagem que deixa e pelos momentos finais que conseguiram mesmo que tardiamente me emocionar um pouco. Por mais difícil que seja seguir em frente, as vezes é o único caminho certo a se seguir. A vida pode ser dolorosa, mas quando temos ao nosso redor o amor e a confiança daqueles que amamos, tudo é possível, e os problemas da vida se tornam frívolos no meio da compaixão daqueles que nos amam.