Mundo das Resenhas
Quincas Borba – Machado de Assis | Ao vencedor, as batatas! Quincas Borba – Machado de Assis | Ao vencedor, as batatas!
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Autor: Machado de Assis

Editora: Nova Fronteira / Literatura brasileira / 256 páginas

Ah… A loucura! A verdadeira forma lúcida de enxergar o mundo e suas distorções. A maneira tresloucada de ser são em uma sociedade doente. Seria a insanidade a válvula de escape ideial para quem procura a clareza diante da escuraridão da sociedade? Um questionamento tão tresloucado e sem sentido quanto as afirmações realizadas por Quincas Borbas acerca do mundo e suas relações interpessoais, impostas no romance que leva seu nome. Ou seriam tais indagações a pura lucidez e a insesatez estaria na verdade em quem as nega? Chegaremos lá caros leitores… uma coisa por vez.

O importante de se saber acerca deste aclamado romance, amado por muitos e detestado por vários outros, é que Quincas Borba não trata-se de uma obra enigmática difícil de ser compreendida. A sátira empregada na narrativa e suas camadas textuais são bastantes lineares e compreensivas, apesar de suas curvas, metafóras e analogias, muito presentes e que exercem muito mais do que apenas um elemento textual explanativo. O que faz da leitura de tão exigido clássico, em um processo divertido e muito mais fluído do que o esperado a princípio. Considerado por alguns a continuação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba se aprofunda nas questões humanitistas apresentadas brevemente no romance que o antecede, por assim dizer. Apresentando um personagem que herda de forma indireta a herança do personagem título – através do apadrinhamento de seu cachorro também chamado de Quincas Borba – acompanhamos a jornada de um “inocente indíviduo” que se deixa embrenhar em um suposto triangulo amoroso, que existe sem propriamente existir e que se desenvolve de maneira predatória e sem grandes freios emocionais e racionais.

Machado de Assis se utiliza de subterfúgios narrativos para nos prender em sua trama e nos fazer refletir sobre as questões entregues pelo personagem central, desenvolvendo uma história que nos obriga a interpelarmos sobre os acontecimentos, que ganham maiores solidez com os fatos ocorridos e que reforçam por vezes as afirmações de Rubião (o protagonista) acerca da sociedade a qual faz parte. Seria o homem um ser que se rejubila apenas com aquilo que te traz vantagem? A guerra seria inevitável e necessária na manutenção de uma sociedade? E negarmos os conflitos humanos e lutarmos por um mundo mais igualitário seria o que poderia nos levar ao iminente fracasso e extinção? Questões ao meu ver bastante assertivas e que nos leva de volta ao primeiro páragrafo desta resenha. Seria Quincas Borba (o falecido e não o cachorro) e seu discípulo Rubião realmente loucos?

Indo na contramão dos pensamentos Sócrateanos e do Drawinismo, Machado de Assis satiriza as teorias de sua época, criando uma que fosse talvez mais identificável e espelho da sociedade em si. Trazendo à tona o humanitismo, a teoria que defende a soberania do mais forte sobre os mais fracos, e que deu origem a célebre frase do romance, “[…]Ao vencedor as Batatas!”, deixando claro que quem vence é que fica com o que estava sendo disputado, uma lógica inevitável nas relações humanas, segundo os personagens supracitados.

Escrito e lançado em 1891, estando entre Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1899), Quincas Borba é muito mais do que apenas um dos três grandes romances da tríade Machadiana, considerada como a trilogia realista de Machado de Assis. Consolidou-se ao longo dos anos como uma obra obrigatória no âmbito literário, que explora a fundo as condições sociais, tornando-se em um estudo sobre o homem como indíviduo e como engregagem mais que necessária para o funcionamento da sociedade no geral. Um romance que aborda a usurpação da sanidade alheia, que trata a fundo sobre a ânsia pela ascensão social, que tenta normalizar através do humanitismo as barbáries humanas e que apresenta a lucidez como loucura e a loucura como lucidez, tudo dependerá de sua interpretação como leitor. Dos três livros da famosa tríade, Quincas Borba é o que menos aprecio e o que menos me envolveu, apesar das diversas reflexões que me suscitou. É uma obra magnífica, que exige uma leitura atenta e que nos agrega muito como leitores. Muitas questões a se pensar, muitas críticas e metáforas a se destrinchar e muitas discussões a se adentrar. Em uma sociedade tão doente como a nossa, talvez sejamos todos loucos, só não percebemos ainda que nossa suposta lucidez é apenas a loucura que move o mundo…. Aos vencedores, as batatas!

 

 

 

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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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