******************************NÃO contém spoiler******************************
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Devo admitir que estava apreensivo com o que iria encontrar na série baseada no universo de Leigh Bardugo. Já sabendo que a tão aguardada adaptação iria misturar a trilogia e a duologia do Grishaverso em uma única série, passei a ter anseios sobre o quão acertada seria essa decisão. Posso começar dizendo que diferente da maioria, não irei tecer apenas elogios a mesma, até porque assim como a trilogia, a série não é perfeita. Gostei da adaptação, mas não passarei pano para o que não me agradou.
Com um elenco muito bem selecionado e aspectos técnicos que se destacam por suas excelentes execuções – dos efeitos especiais ao figurino – , Sombras e Ossos surpreende pelos desenvolvimento imersivo e pelas boas escolhas de transições de cenas e estruturação narrativa. Com boas tomadas e um bom ritmo, a série flui e cativa em poucos minutos de exibição. O elenco demonstra estar a vontade com seus respectivos papéis e alguns se destacam de maneira impressionante, sendo quase que as transcrições perfeitas de suas versões literárias.
Com isso, Sombras e Ossos entrega algumas boas mudanças que conseguem alterar de maneira agradável algumas prévias e negativas percepções de quem leu as obras literárias e se incomodou. Contudo, ainda peca – como ocorre na trilogia – em focar demais no romance entre a protagonista e seu melhor amigo, utilizando tão infame artifício como elemento de humanização da personagem central. Não sendo um grande fã de romances em fantasias – que em suas maiorias mais atrapalham do que ajudam no desenvolvimento da trama e dos personagens – confesso ter ficado impressionado a princípio como o mesmo se inicia particularmente bem, soando de maneira orgânica para logo em seguida se transformar infelizmente no romance juvenil e genérico que enfraquece a protagonista e se torna uma arma a ser usada contra a mesma. O tipo de baboseira que não costumo ter paciência e que com Sombras e Ossos não foi diferente.
Devo também salientar que é difícil ser um fã da autora e do universo Grisha e não se sentir incomodado com as mudanças realizadas quando se trata de Six of Crows e seus fascinantes personagens. Com uma trama excelente e um nível de desenvolvimento que impacta, a duologia se destaca e se diferencia dos livros anteriores por apresentar de maneira clara uma narrativa mais madura e escolhas mais arriscadas. Entretanto, em optarem por misturar ambas as histórias em sua respectiva adaptação, o roteiro renega tão importantes personagens a papéis de coadjuvantes, distorcendo seus arcos e os colocando em posições que não fazem jus as suas importâncias. Posicionando-os em locais e situações que apesar de bem apresentadas e por vezes empolgantes, o roteiro não consegue explorar de maneira profunda suas características únicas e marcantes que os transformam em figuras tão cativantes e interessantes como os poderosos e enigmáticos protagonistas da trilogia que dá nome a série. O que foi um fator crucial para que eu não tenha considerado uma boa escolha a junção de ambas as histórias em uma única adaptação. Alguns arcos soam deslocados e algumas explicações são muito rasas, não soando plausíveis.
A construção de mundo é interessante, mas alguns dos elementos que a compõe são apresentados como se todos os telespectadores fossem conhecedores e leitores das obras originais. Um erro que pode dificultar a compreensão da narrativa ou criar elos desconexos, que para pessoas não familiarizadas com os Grishas, suas classificações e relações, pode ser um problema. No geral, a série tem uma qualidade inegável, mas possui problemas que como fã não consegui relevar. No mais, Sombra e Ossos é um bom início para um universo que pode ainda mais. Só resta esperarmos e rezarmos para que na segunda temporada o nível seja finalmente elevado, valorizando ao máximo os personagens e o tão promissor universo.