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Trilogia dos Espinhos: Vale a pena a leitura? #11 Trilogia dos Espinhos: Vale a pena a leitura? #11
******************************NÃO contém spoiler****************************** Autor: Mark Lawrence Editora: Darkside Books / Gênero: Dark Fantasy / Idioma: Português / Total de páginas da trilogia: 1.428 Sociopatia,... Trilogia dos Espinhos: Vale a pena a leitura? #11

******************************NÃO contém spoiler******************************

Autor: Mark Lawrence

Editora: Darkside Books / Gênero: Dark Fantasy / Idioma: Português / Total de páginas da trilogia: 1.428

Sociopatia, assassinatos exacerbados, estupros e um adolescente liderando um grupo de assassinos em busca de vingança. Se é fã de fantasia, provavelmente já deve ter ouvido falar da controvérsia e criticada “Trilogia dos Espinhos” de Mark Lawrence lançada pela Darkside Books. Essa talvez seja a trilogia em que mais vejo gente nem sequer terminando o primeiro volume ou terminando para logo em seguida desistir de finalizá-la. Quem decide ler uma fantasia dark fantsasy adulta deve ter em mente que os elementos que irão compor a narrativa são bem mais sanguinários que os que compõem qualquer outra fantasia, seja ela adulta ou não. Na narrativa de Lawrence não temos romance, foco em amizades e um personagem humano. Conforme citado no início deste parágrafo, temos visivelmente um sociopata/psicopata como o grande astro da trama. O que o personagem principal deseja é se vingar do responsável pelo assassinato de sua mãe e irmão, e para isso ele será capaz de tudo. Tudo é permitido desde que ele consiga concretizar sua vingança; nada mais importa.

Acompanhar um jovem liderando um grupo de assassinos cruéis que estupram e matam sem pudor algum é algo que soa no mínimo inverossímil e incômodo, e esse é um dos pontos que muitos criticam. Como fã de anti-heróis e fã de fantasia, confesso que personagens assim não costumam me incomodar. Jorg Ancrath, o protagonista, não possui freio. É determinado e sanguinário como um bom anti-herói de uma fantasia deste tipo deve ser. Diferente do que ocorre em outras obras onde temos personagens jovens demais cometendo atos questionáveis (como já citado na resenha de Peter Pan), em “Prince of Thorns”, o primeiro volume da “Trilogia dos Espinhos”, temos uma contextualização palpável que deixa claro sem brechas para suposições o do porquê do personagem estar cometendo tais atos, o que colaborou para que eu não o enxergasse como apenas um louco sem motivações convincentes. As cenas de estupros me incomodaram, mas não as considerei deslocadas e não senti que o autor pesou a mão (pelo menos não na trilogia em questão). Mark Lawrence é o famoso autor classificado como o escritor que escreve para homens, assim como Bernard Cornwell (acho essas classificações umas idiotices), e por isso em vários momentos temos citações e diálogos machistas. Não acho que isso seja desculpa para relevarmos tais comportarmos criativos; mas diante de tantas obras onde isso ocorre, nas de Lawrence (não englobo aqui a outra trilogia do autor) me incomodei menos do que me incomodei em “Ciclo das Trevas” de Peter V. Brett e em “O Rei do Inverno” de Cornwell.

A ambientação é boa, a escrita é boa (sem floreios) e os personagens são ok. Nada é excepcional, mas não acho que tal trilogia mereça algumas críticas que recebe. Gosto de como o autor constrói e desconstrói sua própria narrativa. Gosto de como ele brinca com a ambientação e de como o protagonista cresce de uma obra para outra, mudando seus objetivos e lutando para alcançá-los. “King of Thorns”, o segundo volume, é um pouco lento demais. Não gosto da personagem feminina que divide espaço com o protagonista e acho que o autor flerta com a prolixidade. Em minha opinião, o livro chega a dar sono em alguns momentos, mas não é uma continuação péssima que prejudique a trilogia como um todo; muito pelo contrário, temos uma evolução narrativa visível, com uma escrita mais madura e um worldbuilding intrigante e instigante. E o terceiro e último volume (Emperor of Thorns) é muito bom, nos entregando diversas respostas que satisfazem, mesmo que muitas sejam apenas obviedades (incluindo o grande plot-twist).

O sistema de magia se baseia em elementos dark (obviamente, estamos falando de dark fantasy), como necromancia, gigantes deformados e exércitos de mortos. Tudo que me agrada, mas que muitos detestam.  A trama é repleta de soluções que brotam do nada e que nos fazem revirar os olhos. Mas ao longo da leitura me acostumei com as aparições repentinas do fabuloso personagem “Deus Ex-Machina. ” “A Trilogia dos Espinhos” é uma jornada de superações, de vingança em um primeiro momento, de conquistas e de poder.  Uma trilogia agridoce, crua, brutal que não deixa espaço para meias opiniões. Uma obra que claramente foi escrita para incomodar, seja através do sanguinário e egoísta protagonista, ou na escrita seca como um deserto, que nos deixa com vontade de descrições mais primorosas e diálogos mais humanos, como um respiro de alívio. Mas o que encontramos é brutalidade atrás de brutalidade. Ler a obra de Lawrence é como mergulhar em uma piscina de sangue que vai nos afogando aos poucos, ou como estramos em um ambiente escuro onde achar a saída é algo quase impossível. Assim como o personagem central que foi testemunha dos assassinatos mencionados no primeiro parágrafo e que ficou preso em uma roseira cheia de espinhos que dilaceraram seu corpo e sua alma, moldando seu espirito; nós leitores muitas vezes nos sentimos assim, como prisioneiros, tendo a trilogia como os espinhos que nos machucam e que nos sufocam. A trilogia é como um jogo sanguinário onde apenas aquele que atacar primeiro é que irá sobreviver. No Império Destruído não há espaço para os fracos. Apenas os fortes sobrevivem. Regras devem ser aprendidas e empecilhos devem ser eliminados. No jogo dos espinhos apenas aquele que souber liderar o ódio e navegar no mar de sangue é que irá governar o obscuro reino. Uma narrativa feroz e descontrolada, que nos desafia a enfrentá-la. Basta termos força para domá-la até o final.

“Uma era de terror está chegando. Um tempo obscuro. As sepulturas continuam a se abrir e o Rei Morto se prepara para navegar. Mas o mundo guarda coisas piores do que homens mortos. Uma era de escuridão está chegando. Minha era. Se isso te ofende… barre-me. ” [Tradução livre]

A trilogia apesar das críticas também recebeu muitos elogios e configurou durante muito tempo na lista dos mais vendidos da editora. Tanto que ganhou posteriormente uma edição Omnibus, luxuosa ao extremo. A trilogia também conta com um livro de contos (Road Brothers) ainda não publicado no Brasil e que deve ser lido apenas por aqueles que já concluíram a leitura de toda a trilogia, já que os contos possuem spoilers. 

 

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(CONFIRA A RESENHA DE CICLO DAS TREVAS CLICANDO AQUI)

(CONFIRA A RESENHA DE PETER PAN CLICANDO AQUI)

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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