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(CONFIRA A RESENHA DA TRILOGIA FEITA DE FUMAÇA & OSSO CLICANDO AQUI)
Autora: Laini Taylor
Editora: Universo dos Livros / Gênero: Fantasia / Idioma: Português / 544 páginas
Em “Um Estranho Sonhador”, o novo romance de Laini Taylor, autora da trilogia “Feita de Fumaça & Osso”, o sonho escolhe o sonhador e não o contrário. Sonhos estes, que moldam os objetivos dos personagens e suas personalidades. Acompanhamos Lazlo Estranho, um órfão de guerra que não sabe quem é e de nem de onde veio. O respectivo personagem apenas possui um objetivo; descobrir tudo que puder sobre uma misteriosa e lendária cidade, que outrora pode ter existido, mas que agora tanto ela como seu nome foram apagados das mentes dos que ainda caminham sobre a terra. Que cidade é essa? Por que apenas ele lembra de seu nome e de onde vem tanta obsessão em desvendar os segredos deste local?
Com uma escrita lúdica e poética, marcas registradas da escritora, Taylor vai construindo uma narrativa cativante onde as lendas parecem ter vida própria. A autora vai apresentando aos poucos elementos narrativos que instigam nossa curiosidade e que alimentam todo o mistério principal da trama. Ao se ver cara a cara com uma inusitada situação, o personagem central terá a oportunidade de embarcar em uma aventura onde nem tudo o que parece é. Sonhos e pesadelos tomam formam, deuses podem existir, anjos podem ter papel essencial no universo e ambições e vinganças são planejadas como se as vidas dos personagens dependessem disso.
Com uma estrutura que nos entrega duas narrativas em primeira pessoa, Laini Taylor vai apresentando dois protagonistas humanos, inocentes, cativantes e misteriosos. Cada um com seus aspectos únicos, que se complementam e que juntos podem mudar toda a perspectiva do que é sonho e do que é real. O poder criativo da autora tem força e com suas descrições vívidas, embarcamos em viagens que ultrapassam a linha tênue da imaginação. O universo é complexo e milhares de perguntas são apresentadas. Algumas respostas são óbvias, mas outras nem tanto. Mesmo após terminar a leitura, ainda me vejo tentando desvendar alguns dos mistérios que foram apresentados, cujas respostas ainda não me foram entregues.
Gostei bastante e me vi em diversos momentos tão imerso, que interromper a leitura para dar prosseguimento a minha vida, me era um fardo. Apesar de ter de fato gostado, não me vi tão encantado assim, como me vi com a trilogia citada no primeiro parágrafo. Achei alguns personagens coadjuvantes muito mal trabalhados, e apesar de ter gostado dos protagonistas, achei que tanto foco neles fez com que não houvesse um equilíbrio narrativo convincente, o que ao meu ver, acabou enfraquecendo um pouco a polivalência narrativa. Determinados personagens são extremamente interessantes e seus backgrounds muito me interessam. Os quais desejo que sejam melhores explorados no segundo e último volume, já que se trata de uma duologia. Alguns diálogos também me incomodaram por soarem infantis demais, além de algumas situações que reforçaram esta minha percepção.
Outro ponto que preciso frisar, são os “vilões. ” Sei da capacidade da autora em criar personagens odiosos, mas em “Um Estranho Sonhador” não odiei nenhum personagem como imaginei que fosse ocorrer. Entendi as ações do que foram apresentados como os bad guys da vez. Achei determinadas atitudes (que sinto que eu deveria ter detestado) plausíveis e gostaria de ter me deparado com personagens que me causassem uma avalanche de emoções mais palpáveis. Achei tudo muito vago, e a falta de vislumbres maiores do passado deste universo, fez com que eu não sentisse muita coisa além de curiosidade.
“Um Estranho Sonhador” de Laini Taylor nos conquista com uma história que muitas vezes soa como poesia e que nos aproxima do universo pelo poder fantasioso da obra. Um poder onde a fantasia está no ato de sonhar. No mais novo romance da elogiada autora, sonhar não é somente permitido como necessário. Em “Um Estranho Sonhador” a imaginação não tem limites.
Obs. Muita da poesia impregnada na escrita da autora se perde com a tradução. No original nos deparamos muito com palavras que soam parecidas e que juntas no mesmo parágrafo trazem uma sonoridade única que nos encanta e nos deixa embasbacados. Li em português, mas em alguns momentos fiz leitura comparativa, comparando o original com o trabalho realizado pela editora “Universo dos Livros. ” Apesar de não encontramos na edição brasileira todo o poder poético da obra, devo parabenizar a editora em questão. Traduzir obras que possuem este tipo de particularidade não é um trabalho fácil. Manter a sonoridade do original exigiria coisas como neologismos ou trocas de palavras, o que poderia mudar o significado real de algum trecho; prejudicando o entendimento geral da trama. Mas mesmo diante deste pequeno e inevitável problema, a editora fez um bom trabalho, e ainda conseguimos sentir traços poéticos, sejam pelas lúdicas descrições ou até mesmo por alguns trechos onde a sonoridade conseguiu se manter.