Mundo das Resenhas
Uma Vida Pequena: Doloroso, perturbador e emocionante! Uma Vida Pequena: Doloroso, perturbador e emocionante!
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******************************NÃO contém spoiler****************************** Autora: Hanya Yanagihara Editora: Record / Gênero: Drama / Idioma: Português / 784 páginas   “Resenha dedicada à Wellington Alemão. Um... Uma Vida Pequena: Doloroso, perturbador e emocionante!

******************************NÃO contém spoiler******************************

Autora: Hanya Yanagihara

Editora: Record / Gênero: Drama / Idioma: Português / 784 páginas

 

“Resenha dedicada à Wellington Alemão. Um amigo, um parceiraço, um irmão que amei em vida e que amarei para todo o sempre!”

Com o celular na mão, sentado em minha cama, respirava arduamente sem saber o que pensar. O ano era 2017, final de tarde, com os vizinhos gargalhando em suas sacadas como se aquele fosse o dia mais feliz de suas vidas. Pra mim, foi um dia obscuro, o início de uma noite em que eu havia acabado de receber a notícia de que um grande amigo meu havia se matado. Ele se foi, não sei dizer para onde; e mesmo não sendo uma pessoa extremamente religiosa, naquele momento me agarrei a uma fé que até então desconhecia que possuía, e rezei para que ele tivesse ido para um lugar melhor. Comigo ficou a dor, a culpa e questões que até hoje me atormentam. Onde foi que errei como amigo? Eu poderia ter evitado que ele cometesse tal ato contra sua própria vida? Como foi que não percebi que ele estava tão mal ao ponto de cometer suicídio? Durante muito tempo chorei sua perda e sinto até hoje sua falta. Talvez sejam esses sentimentos que tanto luto para superar, que me fizeram durante anos postergar a leitura de “Uma Vida Pequena” de Hanya Yanagihara. Agora em pleno 2020, me senti preparado para embarcar nessa leitura, e digo que infelizmente estava errado. Eu não estava tão preparado quanto imaginei que estava. Ler tal obra foi uma experiência dolorosa que trouxe à superfície meus sentimentos turbulentos de culpa e de responsabilidade não cumprida.

Acompanhar a jornada de quatro amigos, cuja amizade orbita ao redor de Jude, um jovem prodígio, taciturno e repleto de cicatrizes tanto no corpo quanto na alma, me sufocou, me fez odiá-lo, julgá-lo, sentir nojo de mim mesmo por meus pensamentos julgatórios e questionar o verdadeiro sentido de ser amigo. Ser amigo é uma responsabilidade, muito mais do que apenas uma palavra ou o ato de ocupar o espaço na vida de alguém. Ser amigo é se doar, compartilhar os bons e os maus momentos, não julgar, apoiar e se dispor a estar sempre ao lado de alguém aconteça o que acontecer. É transpor o real sentido de amar. Eu adoraria dizer que “Uma Vida Pequena” me acalentou no final e que por isso eu indico esse livro de olhos fechados. Mas não posso mentir nem para mim e nem para vocês que estão se dispondo a ler o texto aqui exponho. Já falhei com meu amigo e não vou falhar com vocês. Portanto, digo que a obra de Hanya Yanagihara não é uma leitura pra todo mundo. Trata-se de uma obra que vai fundo nas camadas psicológicas do ser humano, abordando temas que podem servir de gatilho para muitos leitores. Pedofilia, prostituição infantil, sequestro, tortura, estupro, relacionamentos abusivos, agressão física e psicológica, depressão, autoflagelo, uso de drogas, sexualidade, relacionamentos tanto de amizade quanto familiar, e a dificuldade de esquecer o passado e seguir em frente.

A autora pesa a mão e não nos dá a oportunidade de respirarmos. São 784 páginas de puro sofrimento e tragédias atrás de tragédias. Me senti afundando nas dores do protagonista, e muitas vezes precisei interromper a leitura pra respirar, enxugar as lágrimas e repetir em minha cabeça um mantra que me acompanhou do início ao fim da leitura. “É SÓ UM LIVRO, É SÓ UM LIVRO, É SÓ UM LIVRO!” Talvez para muitos esse seja um dos grandes, senão a maior crítica à obra. Qual a razão de tanta tragédia? O que Hanya Yanagihara quer nos provar? O desenvolvimento da trama pode te impactar emocionalmente, ou pode te amortecer ao ponto de tantos sofrimentos seguidos não te causar mais nada ao chegar em certo ponto da história. Os comportamentos do protagonista podem te irritar, te fazer julgá-lo ou até mesmo intitulá-lo como covarde. Mas a questão que fica é: Que direito temos de julgar alguém e suas dores?

A escrita da autora é simples, nada rebuscada ou cheia de técnicas narrativas de alto nível. Seu desenvolvimento de personagens é um pouco falho e mesmo que se passe anos, décadas das vidas dos protagonistas, não senti em momento algum o surgimento de suas maturidades. Continuam se comportando e se expressando como adolescentes, mesmo quando já estão em idades mais avançadas tidas como a terceira idade. Todavia, mesmo que não seja um livro “perfeito”, “Uma Vida Pequena” é de uma profundidade assustadora que me tocou e me assustou como poucos livros foram capazes de fazer ao longo de minha vida como leitor. Me fez chorar e encarar meus medos e culpas já a muito escondidos. Uma obra que traz à tona a importância e significado dos pequenos momentos felizes que temos ao longo desse tsunami chamado vida, que muitas vezes se torna uma avalanche de feridas que nunca se cicatrizam.

Não sei dizer exatamente o que estou sentindo mesmo após ter terminado a leitura. O que sei é que mesmo que eu tenha falhado com meu amigo, o amei como irmão e o admirei como poucos. “Uma Vida Pequena”, apesar de todos os sofrimentos que me entregou e pelos momentos dolorosos que quase me fizeram abandoná-lo, foi uma leitura que me fez refletir durante horas sobre o significado de viver. Apesar das dores e adversidades da vida, pra mim ainda é belo viver, apesar de tudo!

PS. Uma Vida Pequena foi candidato ao prêmio Pulitzer de 2016 e é considerado por alguns críticos literários um dos melhores livros da década. 

Se sentirem que estão deprimidos e começarem a ter pensamentos tumultuosos sobre a vida, ou se conhecer alguém que estiver passando por isso, procure ajuda! Há o CVV (CENTRO DE VALORIZAÇÃO DA VIDA). Acredito que toda cidade tenha um escritório de tal centro. 

[stellar]
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Fernando Lafaiete

O que vocês devem saber sobre mim? Me Chamo Fernando Henrique Lafaiete, mas vocês podem me chamar de China. Apelido este, dado pelos meus melhores amigos. Sou viciado em leitura, sou poliglota, auditor de hotel, professor de inglês, fã de fantasia, fã de livros policiais, fã de YA, fã terror e fã de clássicos. Luto ao máximo contra o preconceito literário que alimenta a conduta dos pseudo-intelectuais e sou fã de animes e qualquer coisa que envolva super-heróis. Amo escrever todo tipo de texto, em especial resenhas. Espero que minhas opiniões sejam de alguma valia para todos que tiverem acesso as mesmas. Sou sempre sincero e me comprometo a dividir minhas opiniões da maneira mais verdadeira possível. Agradeço o convite para fazer parte do grupo de resenhistas do site e que minha presença aqui seja duradoura.

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