********************************NÃO contém spoiler********************************
Autora: Shea Ernshaw
Editora: Galera / Gênero: Fantasia YA / Idioma: Português / 320 páginas
Assassinatos em alto mar, três bruxas e uma maldição para se vencer. O que se deve esperar do mais novo lançamento da editora Galera Record?
A Maldição do Mar, o livro o qual iniciei a leitura sem saber absolutamente nada do que iria encontrar, conseguiu me surpreender pelas arriscadas decisões narrativas, pela imersão e pela construção de mundo e personagens. Não que a obra da escritora norte-americana Shea Ernshaw possua uma qualidade de alto nível ou seja digna de se posicionar ao lado das grandes fantasias juvenis/YA que temos por aí. Todavia, a trama se tece por caminhos tortuosos em que personagens e mistérios nos cativam e alguns realmente surpreendem. Em se tratando de uma obra voltada para um público mais jovem que normalmente se caracteriza por seus apreços por enredos mais convenientes, regados de suas inegáveis obviedades; A Maldição do Mar se destaca por ir na contramão em não apenas apresentar situações controvérsias e desfechos agridoces, como os sustenta sem medo – aparentemente – das retaliações dos fiéis leitores do gênero.
Sem entrar em grandes detalhes para evitar os temidos spoilers, devo dizer que por ser um livro corajoso, o romance fantástico de Ernshaw muito me agradou. Gosto de autores (as) que se arriscam, que fogem do comodismo e que vão além do previsível. Por este motivo, o livro acima mencionado provavelmente sofrerá por nadar contra a maré e se posicionar como algo fora da caixinha, tendo assim, grandes chances de desagradar uma boa parcela dos leitores. Com um enredo envolta de assassinatos de garotos que aparecem mortos em alto mar, vítimas dos espíritos vingativos de três bruxas outrora assassinadas neste mesmo local, entrega a princípio mais do mesmo, se desenvolvendo através de aparentes clichês dos romances sobrenaturais sucessos da década passada. Contudo, o desenrolar dos acontecimentos nos coloca no centro de uma narrativa que ebule nossas emoções, efervescendo nossas percepções, e nos deixando a mercê de julgarmos personagens e situações de forma talvez voraz e incômoda demais.
O romance entre os mocinhos é bem desenvolvido e não serve apenas como elemento enfraquecedor ou como facilitador narrativo. Muito pelo contrário, o mesmo entrega dramaticidade e frescor a trama, de forma a agregar e enriquecer o desenrolar dos fatos sem seguir pela fragilidade e por momentos piegas e juvenis demais. Com um excelente background – até onde é possível em uma trama fantástica jovem adulta – protagonista e trama caminham lado a lado fortalecendo o universo e os misticismos apresentados, entregando profundidade e despertando empatia. O processo de leitura me foi realmente o mais agradável possível, me fazendo devorar as páginas em uma velocidade a qual até então exercia apenas em tempos passados.
A Maldição do Mar deve ser lido com maturidade, com mente aberta e com o emocional de alguém disposto a aceitar o além do óbvio. Se analisado de forma racional, tendo suas camadas destrinchadas de forma técnica, devo admitir que o romance de Shea Ernshaw pode ser considerado mediano. Se analisado por mim de forma emocional, o classifico como um bom livro, que merece ser lido e que merece ser devidamente elogiado. Uma trama que carrega em seu cerne a difícil missão de ser “diferente” e audacioso em um mundo em que o comum e o óbvio é que fazem sucesso.
[…] A Maldição do Mar | Shea Ernshaw 29 de abril de 2021 […]