******************************NÃO contém spoiler********************************
Autor: Oscar Wilde / Gênero: Literatura clássica / Editora: Biblioteca Azul / 354 páginas
Muito pode ser dito sobre O Retrato de Dorian Gray, a obra clássica que exalta, codifica e personifica de maneira sombria os aspectos literários do esteticismo, movimento que enfatiza os valores estéticos em detrimento dos sociais. Polêmico? Talvez. Vulgar e uma afronta a boa literatura? Jamais. Compreensível que Wilde tenha incomodado com sua obra uma sociedade mesquinha, preconceituosa e hipócrita; fruto de seu tempo e escrava de suas superficiais certezas do que era aceitável, do que era correto e sobretudo o que era arte.
Difícil e inaceitável definir O Retrato de Dorian apenas como a magnum opus da literatura homoafetiva. Isso seria renegar os demais aspectos de tão importante romance e seria acima de tudo, diminuir sua importância artística em prol de definições e afirmações deveras absurdas; que resistiram aos tempos sombrios de sua época e que ainda hoje insistem em salientar infame descrição quando se trata do romance clássico de Oscar Wilde. Mas como destrinchar e compreender todos os significados de um romance sobre alguém cuja beleza é eternizada em uma pintura, que ganha vida e que passa a ressaltar as mazelas da alma do personagem central?
Impossível caro leitor, não nos fascinarmos com a metalinguagem do romance em si e não nos vermos diante de uma reflexão da captação do imperceptível e do enigmático, da mais pura intelectualidade que um escritor pode exercer em um texto. Crítico, voraz, venenoso e reflexivo, são apenas alguns dos adjetivos que fomentam o texto de Oscar Wilde e que o coloca como a mais pura significação do que é arte em sua forma bruta. Como afirma o crítico literário Victor Chlovsky:
“[…] a arte existe a fim de que se possa recuperar a sensação da vida: ela existe para fazer com que as pessoas sintam as coisas, para fazer com que uma pedra seja pétrea. O propósito da arte é revelar a sensação das coisas como elas são percebidas, e não como são conhecidas”
Wilde não estava errado quando descreveu seu mais célebre romance como o mártir do esteticismo. A crítica não se eleva apenas quando confronta a sociedade e seus dilemas, mas se torna ainda mais mordaz quando enfrenta o movimento e suas afirmações do que deveria ser abordado e venerado. Seria a beleza a grande arma do homem perante as significações do que a sociedade preza e abomina?
Com pinceladas semi biográficas, e com uma estrutura textual que mistura gêneros – do romance de costumes ao suspense psicológico – O Retrato de Dorian Gray não enfatiza nenhuma moral de forma explícita, apenas a traz a superfície através do drama e das questões filosóficas que suscita. Permite diversas interpretações e indagações, tonando-se ao longo dos anos e permanecendo como uma obra múltipla em significados e camadas. O Retrato de Dorian Gray é onde a arte transcende o limitado e nos mostra de maneira mórbida, que o romance tão criticado quanto amado, talvez seja onde o aspecto artístico ganha a representação da tragédia da alma do próprio Oscar Wilde. Mais simbólico do que isso, impossível!
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