******************************NÃO contém spoiler******************************
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Editora: Harpervoyager
Autora: Robin Hobb / Gênero: Fantasia / Idioma: Inglês / 915 páginas
O que posso dizer sobre “The Mad Ship” (*O Navio Insano)? Melhor que “ O Navio Arcano? ” Robin Hobb se superou e nesta continuação consertou a personalidade problemática dos personagens centrais? Sim e não. Devo dizer que admiro a criatividade e a escrita de Hobb. Como um aspirante a escritor, Robin Hobb é uma das escritoras que mais me influência no quesito escrita; mas passa longe de me influenciar no quesito narrativo.
O segundo volume da trilogia “Os Mercadores de Navios-Vivos” começa muito bem e apresenta personagens mais maduros e mais determinados. Não temos a choradeira e lamentações infinitas do livro anterior. A autora nos entrega mais sobre a situação política do país e não decepciona a nos instigar a querer saber mais sobre a concepção dos misteriosos navios que falam.
Todavia, a autora continua pecando no ritmo narrativo. Importante salientar que Robin Hobb é uma escritora de personagens e não de ação. Reforcei na resenha do primeiro volume e irei repetir aqui. Tanto o anterior quanto esta continuação possuem narrativas lineares do começo ao fim. A autora arrasta as situações o máximo que ela pode e não pode. Existe uma obviedade desde o primeiro volume e que inclusive poderia já ter acontecido no referido livro. Mas por algum motivo, a autora achou que as 864 páginas do primogênito de sua nova trilogia não eram suficientes para que ela já apresentasse tal situação. Sendo assim, o que ela decide fazer? Não só joga tal acontecimento para o próximo volume, como demora mais 400 páginas para finalmente fazer com que os personagens tomassem determinada atitude. Me incomodei? Óbvio.
Como ela não se importa em inserir ação, acompanhamos 915 páginas de diálogos repetitivos. Não há necessidade de focar em tais repetições o tempo inteiro. Acredito que um ou dois capítulos já seriam suficientes para os leitores se contextualizarem e se prepararem para o que viria logo à seguir. Ainda mais se levarmos em consideração que seus capítulos são longos (em torno de 50, 60 páginas cada um). Cheguei a ler um capítulo que tinha 80 páginas. O livro é bom? Sim, ele é extremamente bem escrito. A autora descreve tudo minuciosamente e constrói seus personagens com maestria. É tudo muito visual, desde as vestimentas até as partes que compõem os fabulosos navios. Mas ler um calhamaço de quase 1000 páginas, composto 98% só de diálogos e descrições, deixou a experiência de leitura bem cansativa. Levei três meses para ler este livro. Nem o volume único de “Senhor dos Anéis” me tomou tanto tempo (apenas um mês).
Gosto de não ter uma definição de quem é vilão e de quem é mocinho. Gosto de como a autora tece o caráter dos personagens e de como ela muitas vezes brinca com o anti-heroísmo. Toda a ambiguidade dos comportamentos apresentados colabora para a humanização dos personagens. Porém, os aspectos positivos citados, pelo menos para mim, não são o suficiente para sustentar a obra. Em se tratando de um livro com piratas, navios que possuem vida própria, serpentes marinhas, ilhas com tesouro etc…, esperava algo mais dinâmico e com mais ação, nos moldes de “Piratas do Caribe” (mesmo sabendo que este não costuma ser o foco de Hobb). A autora tinha nas mãos caminhos tortuosos que possibilitariam a ela navegar por terras mais perigosas, com guerras em alto mar, com navios explodindo e com lutas de espada. Mas ela infelizmente (ou felizmente, depende do que você gosta de ler) escolheu o caminho mais morno possível.
Indico esta trilogia e esta autora? Com certeza. Mas preciso avisar. Se você gosta de fantasia e está mais acostumado (a) com autores como J. K. Rowling, Brandon Sanderson, Rick Riordan, Terry Pratchett, Peter V. Brett, que possuem narrativas mais frenéticas, talvez possa estranhar Robin Hobb e ter uma experiência negativa. Fazer a transição destes autores para Hobb, pode ser um processo complicado. Vá com calma! Se curte Tolkien e está acostumado com narrativas mais pesadas, leia Hoob sem medo. “The Mad Ship” é um livro muito bom, mas que não achei superior ao primeiro; achei ambos no mesmo nível. Robin Hobb agradará mais facilmente, acredito eu, os leitores de Patrick Rothfuss, Deborah Harkness e o já citado Tolkien. Pelo fato destes autores terem narrativas mais lentas se comparadas com a narrativas dos autores que citei no começo deste parágrafo.
Cansei, me incomodei, mas também me surpreendi com alguns personagens. O desenvolvimento da maioria é muito bem executado, não sendo menos que espetacular. Destaque para Malta, Keffria e Etta. A trilogia “Mercadores de Navios-Vivos” é a personificação da lentidão, mas não é considerada à toa uma das trilogias mais importantes da literatura fantástica da era de ouro da literatura. Embarque na leitura e conheça este fascinante universo. Robin Hobb te levará a uma jornada que poderá te conquistar!
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*Obs. O Navio Insano é o título utilizado em Portugal. Não há confirmação alguma da editora Leya de que utilizarão a mesma tradução.
Gostei muito da tua resenha, sincera e apontando a questão da imensidade de diálogos e descrições. Ainda tenho dúvidas se lerei o livro, mas certamente melhorou minha visão sobre a obra.
Muito obrigado pelo comentário Amarelo Carmesim. Das autoras de fantasia, a Robin Hobb é em minha opinião uma das melhores, com uma escrita afiada e detalhada. Entretanto, tem que gostar de histórias com muitas descrições e com um foco menor em ação. Grande abraço!! 🙂
Olá Amarelo, fico muito feliz de saber que gostou da resenha. Apesar dos pesares, trata-se de um livro muito bom. S2
Oi, tudo bom? (sim, é um vício começar qualquer comentário desse jeito, mas espero sinceramente que esteja tudo em paz por ai). Adorei ler sua resenha, principalmente porque discordamos em gosto no que se refere a narrativa e é muito bom poder ver expresso a opinião de outro leitor. Espero ansiosamente a tradução para o Português (afinal, isso anda demorando muito para sair de forma legal ou ilegal (tradução “livre”), e infelizmente não entendo o suficiente para encarar o volume em inglês) para continuar a narrativa. Concordo com vários pontos que apresentou, principalmente sobre a escritora focar mais na profundidade de seus personagens (coisa que me atrai profundamente) e em decorrência disso alongar bastante seus capítulos (que parecem nunca serem o suficiente, nunca profundo demais), assim como também concordo que para aqueles que gostam mais do dinamismo isso é um terrível ponto contra.
Entretanto o efeito que isso causa em mim é interessante, não é só a motivação para devorar as páginas e querer saber mais e mais da história e do desenrolar da personalidade de cada um, é a criação de toda uma atmosfera de expectativa e imersão que poucos livros conseguem fazer surgir. Rothfuss foi muito bem citado, inclusive, A Cronica do Matador do Rei é uma das minhas coleções favoritas justamente por conseguir me arrebatar (e também um pouquinho pela forma como ela é contada e enlaçada dentro da prórpia narrativa); diferentemente de O Senhor do Aneis (que acabei faz uma semana). Ambas as obras são “pesadas”, e aqui eu poderia incluir As Crônicas de Gelo e Fogo também, mas o efeito que elas causam são muito diferentes (talvez por livros serem únicos?! Talvez hehe) e me indigna não chegar a conclusão do fator que existe nelas para gerar sensações e motivações tão dispares (perdão, eu sou totalmente sinestésica).
Assim como ocorre com você, muitas fantasias me despertam sensações incontroláveis, mesmo que de forma distintas. Sou fã de As Crônicas de Gelo e Fogo (sendo minha fantasia favorita, me fascinando e sendo imersiva sem nunca me cansar). Outras me deixam em estado de êxtase, mas me cansam, me irritam e perdem o rumo, como ocorreu quando li a série Ciclo das Trevas. Outras chegam em um nível tão grande de qualidade que nem sei explicar (Jardins da Lua e Os Portões da Casa dos Mortos é um exemplo). Acredito que as sensações dispares que citou, ocorrem de forma muito particular; tendo a ver com o nível de imersão que temos ao longo da leitura.
Boa tarde Castrinho, tudo bem?
Eu adoro a Hobb, apesar de muitas vezes a narrativa de fato me cansar ao mesmo tempo que me fascina. O mesmo me ocorreu quando li Senhor dos Anéis. Acho a escrita e construção de personagens espetacular. Agradeço o comentário e seja bem-vindo ao Mundo das Resenhas!
Atenciosamente,
Fernando Lafaiete
Li “O navio arcano” e fiquei na expectativa do segundo livro “O navio Insano”, mas ele foi lançado no Brasil?
Aparentemente não, to procurando o pdf do navio insano em PT-pt e nada