
Mulher-Maravilha 1984 | Valeu todo o tempo de espera?

*****************************NÃO contém spoiler*****************************
Roteiro: Patty Jenkins, Geoff Johns & David Callaham / Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal
Alguns filmes de super-heróis são feitos para fãs fervorosos, outros para divertirem e supreenderem com cenas de ação repletas de efeitos especiais e que são vendidos como filmes para toda a família; e alguns são feitos para serem o que devem ser, a junção dos dois em apenas um… trazendo diversão, referências dos quadrinhos e o resgate com afinco da essência do que um herói deve ser. Não posso dizer que Mulher-Maravilha 1984 seja um filme perfeito, que tenha suprido minhas expectativas ou que irá agradar a todo mundo. Mas posso respirar aliviado e dizer com sorrido no rosto que o mesmo é um grande acerto e o filme que muitos de nós precisávamos. Mais contido, mais equilibrado, divertido, nostálgico e emocionante, são alguns dos adjetivos que posso com tranquilidade atribuir a esta tão aguardada continuação. Trabalhar com personagens que se assemelham a deuses como são os super-heróis da DC Comics (em sua maioria) é um trabalho árduo que exige dos diretores e dos demais profissionais envolvidos uma visão bastante assertiva do que, e o que abordar sem esbarrar nos exageros. Com filmes de sucesso do universo Marvel e com alguns da DC (elogiados por alguns e detestados por outros), Patty Jenkins tinha em mão a missão de inovar (se é que isto seria possível) e consertar o que talvez não tenha agradado aos fãs e ao público no geral no filme antecessor. Ela alcançou estes objetivos?
Responder tão importante questão é bastante complicada e deve ser analisada com cuidado. Mulher-Maravilha 1984 não se trata de um filme de grandes cenas de ação, explosões e vilões endeusados. A trama que desta vez se passa nos 80 – como o título deixa mais que claro – se desenvolve de forma bastante divertida, correta, explorando com inteligência os diversos elementos que fazem deste ano um período memorável, desenvolvendo os personagens de forma interessante. A ambientação se expande de forma excepcional e traz ao filme um ar de pura nostalgia que a diretora sabe trabalhar com maestria. Como assistir a um episódio da série protagonizada por Lynda Carter, o referido filme se consagra como um ponto fora da curva, entregando aos fãs um bom filme, que não se assemelha ao que vemos aos montes por aí, se aproximando e muito a famosa telesérie da personagem. Uma homenagem primorosa a heroína e a sua intérprete dos anos 70.
Reutilizando de alguns elementos do primeiro filme, Jenkins desta vez trabalha com a inversão de papeis entre a mocinha e seu par romântico, entregando mais uma vez bons diálogos, cenas divertidas e uma química magnífica entre os atores, algo já visto no filme antecessor e que aqui fica ainda mais nítido; Gal Gadot e Chris Pine foram feitos para contracenarem juntos. As demais interações também funcionam e são agradáveis de acompanhar. Contudo, não posso deixar de mencionar que achei a atuação de Pedro Pascal (um dos vilões do filme) muito caricata. Em alguns momentos a achei deveras exagerada, o que destoava um pouco das demais atuações. Kristen Wiig me convenceu como Mulher-Leopardo e me surpreendeu a forma como abraçou a personagem, decidindo claramente entrar de cabeça no papel. Outro ponto que me agradou foi o ritmo entregue e como a trama vai ganhando proporções descontroláveis aos personagens, o que trouxe muito emoção ao filme. Algumas cenas apesar de não me supreenderem, me fizeram bater palmas de pé para a diretora, me deixaram o tempo todo feliz com o que estava vendo e me fizeram enxergar certos momentos como um presente aos fãs. A origem da vilã não me satisfez por completo (assim como seu visual) e algumas cenas de ação me deixaram com a sensação de que poderiam ter ido além. Mas como disse no primeiro parágrafo, Mulher-Maravilha 1984 é um filme mais contido, com os três atos muito bem delineados, equilibrados e sem exageros.
Ainda estou digerindo o que vi e por este motivo é difícil me posicionar neste momento de forma definitiva. Entretanto, por enquanto, apesar de eu considerar o filme atual superior ao primeiro, ainda gosto mais de Mulher-Maravilha, que em suas imperfeições, conseguiu me entregar cenas mais épicas e algumas que nunca me canso de assistir. Em suma, Mulher-Maravilha 1984 é a leveza que precisávamos. Um filme que trabalha diversas camadas da personagem central, a aproximando ainda mais da humanidade (elevando suas angústias humanas e incertezas), sem deixar de explorar seu lado endeusado, que a colocam no patamar de deuses. Mulher-Maravilha 1984 é um filme sobre amor, amizade e acima de tudo esperança. Um filme que mostra com assertismo o que um verdadeiro herói deve ser.