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******************************NÃO contém spoiler*****************************

A Divina Comédia “publicada” originalmente somente como Comédia é considerado por muitos como sendo o poema épico mais importante da literatura mundial e o mesmo marca o nascimento da literatura italiana. Esta obra-prima foi escrita por Dante Alighieri que não só é o autor ,como é também o personagem principal da história.

Este é sem sombras de dúvidas o livro mais difícil e gratificante que tive a oportunidade de ler. É um livro que exige muito e ensina muito ao leitor. Alighieri nos apresenta um poema escrito de forma tão simétrica que chegou a me deixar de queixo caído. O livro é uma trilogia, composta por Inferno, Purgatório e Paraíso, dividido em cantos, compostos por tercetos. Toda a composição do poema é baseada no simbolismo do número 3 que remete à Santíssima Trindade (O Pai. O filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo).

Muitos consideram a obra de Dante como um poema político e outros como um poema teológico. Eu acredito que ele é a junção dos dois, tamanho o seu conteúdo histórico, politico, teológico e filosófico. Neste livro vamos acompanhar a jornada de Dante pelos mundos espirituais, onde ele será guiado por Virgílio, o autor de Eneida, que o guiará pelo Inferno, depois pelo Purgatório e terminará entregando Dante à Beatriz, que o guiará pelo Paraíso.

Tudo começa quando Dante se perde em uma floresta e é impedido por 3 animais a retornar ao mundo dos homens. Estes animais eram a Onça (a Razão), o Leão (a Humanidade) e a Loba (A Fé). A floresta é tida como a personificação da sociedade em que o autor vivia e que o estava desviando do caminho de Deus, levando-o a conhecer o caminho do pecado.

O autor nos apresenta uma história fascinante, dominada por alegorias que é um dos principais pontos que faz com que ler esta obra seja um desafio. Em muitos momentos eu me senti um analfabeto funcional. Pois lia alguns cantos mais de 10 vezes e continuava não entendo boa parte do que estava escrito. Por isso, precisei ler a obra com a ajuda de milhares de textos de apoio, fazendo com que  minha experiência de leitura se tornasse um processo exaustivo de pesquisa e de estudo aprofundado.

Como dizia o próprio autor:

” O sentido desta obra não é simples, ao contrário, ela é “polisensa”, pois outro é o sentido literal, outro aquele das coisas significadas.”

É impressionante como A Divina Comédia nos choca, nos ensina e nos emociona. Durante a Jornada de Dante, nos chocamos como ele, que ao caminhar pelos 9 círculos do Inferno, fica horrorizado com tudo que vê. É impossível não entender uma das poucos mensagens explícitas deixada pelo autor. “A Justiça de Deus tarda mas não falha. Se você não pagar em vida pelos seus pecados, pagará após a morte.” E como não aprender com Virgílio (a sabedoria humana) que vai explicando ao personagem central que Deus é justo, mas que esta justiça é vista por muitos como crueldade?

Dante (o reflexo da humanidade) é um personagem que aprende muito e que cresce ao longo da narrativa. Ele se apieda dos pecadores, mas termina entendendo que os castigos aplicados aos mesmos nada mais são do que o que eles realmente mereciam. Mas ele não deixa de questionar o tempo inteiro a justiça divina (Deus), que castiga alguns papas e perdoa prostitutas.

A jornada de Dante pelo Purgatório me decepcionou um pouco por eu achar algumas partes arrastadas e desinteressantes. Mas mesmo assim, é um momento onde os ensinamentos transbordam das páginas e eu terminei essa segunda parte arrepiado de perceber o quanto o personagem havia crescido como pessoa.

O momento em que Dante se despede de Virgílio e é entregue à Beatriz (A sabedoria divina), é um dos momentos mais emocionantes do poema. Terminei o canto em que este momento acontece, com lágrimas nos olhos. A jornada de Dante pelo Paraíso, foi meio estranha no começo, devido a divisão geométrica apresentada pelo autor. Mas esta terceira e última parte do livro é emocionante ao ponto de eu ter terminado a leitura não só arrepiado como em prantos.

“Glória ao pai! Glória ao filho! ao Espírito Santo!
Uníssono entoava o paraíso:
3. Senti-me inebriado ao doce canto.

 

Pareceu-me o que eu via um doce riso
Do universo: tomava me a ebriedade
6. Pelos olhos e ouvidos o Juízo
(…)”

É importante ressaltar que Beatriz não só é uma das guias de Alighieri, como foi em vida a mulher que ele mais amou. Ele a retrata no livro como uma divindade, que irá guiá-lo por um caminho que lhe trará a paz divina. Para entendermos ainda mais o final, é importante frisar também que o nome Beatriz tem um significado simbólico em latim. Pois “Triz” na língua supracitada significa “aquela que se doa – a que proporciona algo à alguém – personificação da benevolência”. Entender o nome desta importante personagem é crucial pra entendermos toda a amplitude do que ela de fato proporciona ao poeta Dante Alighieri.

A leitura foi algo que me marcou tanto, que eu termino dizendo que este é um livro de dificuldade tremenda, mas que todo mundo deveria ler pelo menos uma vez na vida. Sei que minha “resenha” está medíocre, mas acredito que diante desta obra prima da literatura, é quase impossível escrever alguma coisa que consiga transmitir a magnitude de tudo que Dante nos proporciona.

A literatura serve para nos mostrar o reflexo de algum momento histórico juntamente com a essência de quem escreve algo. Aristóteles (considerado por muitos como o pai dos estudos literários) afirmava que a literatura apesar de muito semelhante com os estudos históricos, é inegavelmente superior a história, por nos proporcionar não só emoção, como um conhecimento que nos ajuda a entender melhor o mundo e o comportamento das pessoas de maneira mais profunda. Pois a mesma não se preocupa apenas no registro de fatos, mas também na transmissão de sentimentos que junto com os fatos registrados, irá mostrar para quem decidir ler uma obra como A Divina Comédia, que o conhecimento é libertador!

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