******************************NÃO contém spoiler******************************
Desde 2017 venho cogitando fortemente parar de vez de ler fantasia YA, exatamente porque já estou cansado e detesto insta-loves, dramas adolescentes, brigas juvenis entre tantas outras coisas que autores do gênero não se cansam de usar. Mas depois de pensar muito, resolvi ler “A Melodia Feroz”, com os dois pés atrás achando que este livro seria mais do mesmo. Graças a Deus eu estava errado e fui muito surpreendido.
Neste mundo, Victoria Schwab irá nos apresentar uma mitologia bem inovadora. A cada ato de violência praticado por um humano, um monstro surge. Cada tipo de agressão gera um tipo específico de criatura. São eles: Os Malchais, que se alimentam de sangue. Os Corsais que se alimentam de carne e osso e os Sunais que se alimentam da alma das pessoas.
É na cidade de Veracidade que a história irá se desenvolver. Uma cidade dividida por duas famílias. De um lado temos o Harker, um cara ganancioso, manipulador e cruel. Ele possui um certo controle sobre os Corsais e os Malchais que ninguém consegue entender. Demonstra uma sede imensa por poder e deseja quebrar o pacto de paz e causar novamente uma guerra. Do outro lado, temos os Flyn, uma família que luta para preservar a paz e que por algum motivo, conseguiu convencer o líder inimigo a aceitar tal trégua. Do lado dos Harkers conhecemos Kate, filha do líder da cidade que é rejeitada pelo próprio pai e luta pra ser aceita. Do lado dos Flyn conhecemos August, um jovem não humano que deseja ajudar a família a evitar a tal iminente guerra entre os lados.
Durante todo momento, mesmo estando mais que envolvido com a história, fiquei esperando a autora cair nos clichês do gênero. Mas Schwab desenvolve toda a narrativa de maneira que ela esbarra nos clichês, mas não se sucumbe aos mesmos.
Kate é uma excelente protagonista. Inteligente, forte, ativa e não hesita antes de agir. Faz o que precisa para alcançar os seus objetivos. Já o August também é um bom personagem. Entretanto, hesita muito e sua fraqueza as vezes me incomodou. Mas ambos se complementam. Kate é a força enquanto August é o poder.
A escrita é excelente e a mitologia é magnífica. Tudo vai sendo explicado aos poucos de forma que nada fica confuso. É bacana irmos entendendo que ato contribui para a formação de cada monstro. Assim como é bem instigante irmos conhecendo seus poderes e suas fraquezas. A Melodia Feroz é uma fantasia YA que me fez lembrar as razões de eu gostar tanto de ler livros deste gênero.
Mas o livro não tem nenhum problema?
Eu confesso que fiquei um pouco decepcionado com a falta de cenas de ação mais significativas. As que nos são apresentadas são muito boas. Mas o confronto final com três personagens importantes, são desenvolvidas de maneiras muito rápidas. Fiquei esperando a guerra acontecer… Que venha o segundo e que Schwab não me decepcione e me entregue o que tanto quero ler. E por incrível que pareça, eu senti falta do romance. Na verdade, eu gostei muito dos personagens centrais e fiquei torcendo por um envolvimento amoroso. Mas como eu disse anteriormente, pelo menos nesse primeiro volume, a autora não se deixa levar por este famigerado clichê.
Referências:
Pelo nome do livro, já constatamos o óbvio. Uma parte da magia está relacionada diretamente com música. O fato de termos criaturas que não andam a luz do dia e um personagem que usa um instrumento musical como arma, me fez lembrar imediatamente a série “Ciclo das Trevas.” Em vários momentos não lembrar da série de Peter V. Brett foi algo impossível. Claro que as Histórias são bem diferentes, apesar de algumas pequenas semelhanças. Alguns amigos me perguntaram: Seria “A Melodia Feroz” o “Ciclo das Trevas” juvenizado? E eu respondo… Não leiam com este pensamento para não se decepcionarem. As referências (se é que são) são bem bacanas e não atrapalham em nada, só me ajudaram a gostar ainda mais deste livro. A mensagem da história não é a maior inovação do ano. Mas é bem explorada… Violência gera violência!
A Melodia Feroz é uma preciosidade no meio de tanto livro ruim de fantasia YA. Para ser bom não precisa ser o clichê em forma de livro. Me surpreendeu, me viciou, me deixou com sorriso no rosto e mais que ansioso para ler o próximo.