INSCREVA-SE NO NOSSO CANAL DO YOUTUBE, RESENHAS DE LIVROS, FILMES, SÉRIES E ANÁLISES

anuncie aqui

******************************NÃO contém spoiler******************************

Falar da trilogia “A Saga do Assassino” da autora Robin Hobb é um desafio. Não só pela importância da obra em si, mas muito mais pela minha relação conflituosa com a mesma. A autora é uma das que mais me surpreende com a escrita, com a criação de mundo e pelas descrições. O worldbuilding de Hobb impressiona e é impecável. Mas a narrativa é lenta e as coisas demoram MUITO para acontecer.

Em “O Aprendiz de Assassino”, conhecemos e acompanhamos Fitz Cavalaria, o filho bastardo do príncipe herdeiro que após ser adotado pela família real, passa a ser treinado para ser assassino do rei, tendo assim, a chance de utilizar um dom secreto que possui… o de falar com os animais (a relação dele com um certo lobo é um dos pontos altos da trama). Magia esta, mal vista pela nobreza e que deve ser usada as escondidas.

Todos os personagens possuem nomes ligados diretamente a alguma virtude que possuem e suas ações são todas respaldadas por esta premissa. A trama é engenhosa e muitas vezes complexa. Como dito no primeiro parágrafo, tudo demora para acontecer e até sair do ponto A e ir para o ponto B, levamos facilmente mais de 200 páginas.

A autora narra não somente a jornada do personagem central como cria um pano de fundo repleto de mistérios, política, intrigas e muitos elementos mágicos. Pilares já obrigatórios quando o assunto é fantasia adulta. Temos inimigos poderosos que ameaçam todo o reino e uma lenda envolvendo seres poderosos conhecidos como “Os Antigos”, que incluem gigantes, dragões etc. Tudo indica que somente estes seres são capazes de vencer o inimigo que se levanta contra o reino.

Fitz é um personagem que muitos amam infinitamente, mas que sinceramente? Não vejo nada de tão fabuloso nele. Sua ligação com o rei e sua lealdade cega, o torna um protagonista engessado. Ele raramente questiona e raramente toma as rédeas das situações. Acho “O Aprendiz de Assassino” um livro enfadonho onde praticamente nada acontece. Mas minha percepção com a série muda quando o assunto passa a ser “O Assassino do Rei”, o segundo volume. A autora narra tudo de maneira mais frenética e mostra um protagonista mais determinado, mais poderoso e mais dinâmico. A trama é repleta de mistérios que nos viciam e que nos deixam apreensivos quanto ao futuro e “desfecho” da saga. É em minha opinião o melhor livro da trilogia e é o que melhor mostra toda a capacidade criativa da autora. É onde também temos um melhor desenvolvimento do sistema de magia que não se limita apenas a manha, o poder de Fitz.

São milhares de questionamentos e pontas soltas que nos levam desesperadamente ao último volume intitulado “A Fúria do Assassino. ” Devo começar dizendo que a fúria do título se limita a isso, ao título. O livro começa muito bem e vamos acompanhando um grupo de heróis em uma jornada árdua nos moldes de “Senhor dos Anéis. ” Mas é uma jornada que parece não ter fim. São 809 páginas onde os mistérios só aumentam e onde a os personagens andam sem sair do lugar; tamanha a morosidade de tal caminhada. Ao mesmo tempo que a autora nos fascina com suas minuciosas descrições, ela também nos cansa com sua prolixidade. Mas devo confessar que apesar disso, sua lentidão narrativa é o que menos me incomoda se comparado com o tão aguardado desfecho.

A “Fúria do Assassino” é um livro que tem um final agridoce, daqueles que chega a ser quase amargo. São milhares de pontas que a autora não amarra satisfatoriamente. Eu gosto bastante dela, mas o desfecho da “Saga do Assassino” não me agrada. Ela apresenta aspectos anticlimáticos e não desenvolve o grande confronto de maneira visual. Costumo sim ter problemas com finais de séries (como já citei em outras resenhas), mas conversando com outras pessoas que também leram esta trilogia, percebi que desta vez eu não sou exceção. Claro que ela agrada muito mais do que desagrada, mas você precisa controlar suas expectativas e precisa embarcar na leitura sabendo que o final não é o típico final feliz, não é triste (não tenho certeza quanto a isso) e também não é de todo ruim. Complicado falar mais sem dar spoiler.

“A Saga do Assassino” é apenas a primeira trilogia de um vasto universo criado por Robin Hobb. É apenas a ponta de um imenso iceberg e não ter todas as respostas deste mundo ao terminarmos esta trilogia, é algo bastante compreensível. Mas a questão não é essa, só para deixar claro. O final desse primeiro arco é que é estranho quando o enxergamos como o desfecho da primeira saga. Terminei a leitura sem ter respostas de questões importantes. São muitas pontas soltas que são abandonadas pelo caminho. Fora o primeiro volume, os outros dois são bem extensos e ler milhares de páginas para não ter minhas expectativas saciadas, me deixou com a sensação que a trilogia é composta muito mais por encheção de linguiça do que por coisas de fato relevantes.

Espero que minhas dúvidas sejam esclarecidas conforme eu for lendo as outras trilogias que completam este universo? Claro que sim. Mas independente delas serem ou não respondidas posteriormente, não irá mudar minha opinião de que 1.966 páginas são mais que o suficiente para que as respostas levantadas na trilogia fossem respondidas na trilogia. Não há a necessidade de jogá-las para trilogias vindouras.

Mesmo com as ressalvas expostas, quero reforçar que gosto muito de Robin Hobb, caso não tenha ficado claro.  Se você gosta e procura fantasias bem escritas, que possuem peso dentro do gênero, com descrições sólidas, bons personagens e uma ambientação excelente (medieval), Robin Hobb e “A Saga do Assassino” é investimento que vale a pena. E para quem acompanha os lançamentos de fantasias fervorosamente assim como eu e está com dúvidas, eu respondo. Sim… “O Navio Arcano” lançado pela editora Leya em setembro de 2017, faz sim parte do mesmo universo. Funciona de maneira independente, apesar de trazer referências a primeira trilogia. Diferente do que já vi alguns afirmarem, o romance em questão não se trata do quarto livro da “Saga do Assassino” e sim o primeiro livro da segunda trilogia de seu universo conhecido por “Reino dos Antigos. ”

Como diz George R. R. Martin (faço das dele minhas palavras):

“Entre as inúmeras obras de fantasia lançadas atualmente, os livros de Robin Hobb são como diamantes em um mar de falsos brilhantes. ”

Compartilhe
Share
Share
0
Adoraria ver seu comentário ♥x