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Esta peça de teatro, escrita em 1947 por Tennessee Williams, consagrou muito o gênero de teatro, principalmente por usar muito bem os elementos mais modernos para a época. As luzes, sombras e sons foram usados de uma maneira para favorecer o clima animado, triste e dramático que muitas vezes vemos na trama.

Algo interessante é o modo como o dramaturgo envolve a trilha sonora, ou seja, os responsáveis pela trilha sonora na peça. Temos constantemente cenas que são tomadas por sons de blues, polca, canções populares, entre outras, que deixam a cena no ritmo e estilo pretendido por Tennessee Williams. As formas que tais “trilhas sonoras” são inseridas de uma maneira simples. A trama se passa em New Orleans e temos perto da casa dos personagens um bar que funciona a todo momento. E é dessa maneira, no bar, que os blues são tocados, dando de colher cheia a trilha sonora do teatro. Podemos dizer que o Sr. Tenessi Williams usou esse bar como pretexto para sempre ter música tocando no teatro.

Antes da tomada da cena, (às vezes no meio dela) e a cada momento, tanto a música, como as luzes dispostas, são destacadas para preparar o ambiente e o clima da trama. Vamos ao momento destacado para melhor compreensão:

(…)”Nessa parte de Nova Orleans, na realidade, sempre se está próximo de uma esquina e sempre se ouve algumas portas mais abaixo, na rua, o som estranho de um piano que está sendo tocado com a apaixonado fluência de dedos escuros. Esse piano tocando blues expressa o espírito da vida que se leva nesse lugar.” (…)

A partir daí temos uma noção de como será a cena apresentada e o ritmo que segue quase toda a trama. Algumas cenas terão o clima mais sombrio ou mais escuro de acordo com o personagem que entra na cena ou ação ocorrida no contexto.

Os  momentos mais interessantes ocorrem quando uma personagem entra na história, que é a Blanche, irmã de Stella que é casada com Stanley. Essa moça possui um destaque particular. Obcecada com a sua beleza e enraivecida com sua idade, faz de tudo para que quem está ao seu lado não repare em suas marcas de idade. Outra coisa que sua obsessão faz é ficar longe de luzes, então Blanche sempre fica em lugares mal iluminados e ou usa quilos de maquiagem para disfarçar sua idade:

“Blanche – deixe-me olhar para você. Não, mas não olhe para mim agora, não até mais tarde (…) E apague essa luz de cima, não espero que ninguém me veja nesse fulgor impiedoso” (…)

Ou vemos também momentos em que ela disfarça sua idade tirando a atenção dos homens com a ajuda de sombras.

“O quarto de dormir está relativamente escuro, iluminado apenas pela luz que se filtra entre os reposteiros e através de ampla janela que dá para a rua (…)”

Nesse momento, no jogo de poker, os homens perceberam a Blanche através da sombra, mais tarde vemos até que o jogo de cartas se silenciou indicando que ela foi notada, então temos a seguinte situação:

                                                    “Stanley – olhando pelas cortinas (salta e se move bruscamente fechando as cortinas com um                                                              gesto violento)” (…)

Blanche sabe que seu corpo pode desviar a atenção para a pessoa não olhar para seu rosto. A peça continua com altas reviravoltas, mas percebemos que quando Blanche não está protegida nas sombras, ou pelo papel chinês na lâmpada, acaba ficando nervosa e suas mãos começam a tremer. Esse comportamento pode ser uma estratégia para a atenção se desviar para seu corpo, no caso, a mão.

O fato de Blanche ser fissurada pela jovialidade é percebido também quando ela beija um jovem na rua, o jornaleiro, mas mesmo assim ainda continua protegida pelas sombras, ocultando assim os detalhes de seu rosto.

A irmã de Stella acaba se apaixonando por um amigo de Stanley, Mitch. Porém mesmo com esse amor, no qual eles declaram, ele não é capaz de fazer com que Blanche se mostre como ela realmente é, mentindo inclusive sua idade, que ora é 25, ora 27.

O teatro segue então com Blanche sempre se escondendo da luz. Isso é mostrado a todo o tempo, mas só sabemos o motivo disto no final. Afinal, um amor perdido na jovialidade pode trazer problemas graves, fazendo Blanche querer ser jovem sempre. A obsessão pela beleza se tornou um problema pois quando estavam prestes a descobrir que ela não era tão jovem, acabava por terminar o relacionamento. O fato dela ter saído de sua pequena cidade se dá pelo motivo de todos saberem de seus segredos e também por ter se envolvido em um relacionamento com um de seus alunos da escola onde lecionava.

Blanche é a personagem mais completa na trama, contendo um passado triste e por isso ela quer ocultar sua idade, assim ela esconde coisas que aconteceram no passado e não as quer em sua mente. Sente medo também dos relacionamentos terminarem da mesma forma que foi no passado. O modo como ela bebe sem parar e por tomar banhos demorados indicam que ela não quer lembrar do passado triste que teve,

Mas o que mais me tocou foi como os jogos de luzes, música e enredo foram descritos, dando para poder imaginar exatamente como será a cena apresentada. Separei as que achei interessantes:

“(…) Enquanto as luzes vão diminuindo com uma luminosidade que permanece mostrando o abraço dos dois, a música do piano “blue” com trompete e bateria, se faz ouvir. (…)”

“Na pausa que se segue ouve-se o piano “blue” que continua pelo resto da cena e na abertura da cena seguinte.”

Gostei destas partes por marcar um ritmo e estilo nas cenas. O modo como é descrito é excepcional e num estilo muito simples. Assim como a cena também. A peça por ser simples e cheia de cenas do cotidiano, acaba sendo muito próximo do real. Tenessi William é considerado o melhor dramaturgo depois de Shakespeare.

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