*******************************NÃO contém spoiler*******************************
Seria Cidade Invisível como citado em uma reportagem do site UOL o Sítio do Pica-Pau Amarelo para adultos? Baseada em uma história co-desenvolvida pelos escritores Raphael Draccon e Carolina Múnhoz, o mais novo sucesso da Netflix navega pela trama policial abordando o folclore brasileiro e trazendo à vida personagens que marcaram a infância de muitos graças ao escritor Monteiro Lobato. De forma inteligente, acompanhamos o policial Eric na intensa investigação da morte de sua esposa enquanto se envolve em um submundo em que criaturas mitológicas tomam vida e vivem à margem da sociedade.
Protagonizada pelo ator Marcos Pigossi, Cidade Invísivel nos mostra a versatilidade da líder dos streaming entregando aos telespectadores um roteiro instigante, muito brasileiro e com atuações e um desenvolvimento que nos fazem devorar a série. Os famosos personagens são bem inseridos e a forma como suas lendas são desenvolvidas sofrem poucas alterações (se tivermos como base as lendas originais), sem perder suas essências e profundidades, transformando a série em uma narrativa que vai muito além do nosso folclore.
Pra quem aprecia uma boa história de fantasia em que a magia parece não ter limites, Cidade Invisível é uma boa escolha para passar o tempo e se eventurar em uma trama divertida e obscura. Os episódios são bem dirigidos e as lendas escolhidas funcionam bem, nos deixando ansiosos para as demais que poderão ser abordadas na já confirmada segunda temporada. Os personagens são bem incorporados pelos atores escolhidos, o que atenua um pouco a polêmica da não escalação de atores indígenas para a interpretação das icônicas entidades.
Temas importantes e que nunca perdem suas relevâncias, como negligência parental, fé e questões ambientações, enriquecem a narrativa e colaboram para que que muito mais do que apenas uma aventura fantasiosa, Cidade Invisível se consagre como uma história perfeita que nos dá a oportunidade de refletirmos sobre questões que fazem parte de nossa realidade, e que está além da tela que nos separa da ficção apresentada. Muito mais do que o Sítio do Pica-Pau Amarelo para adultos, a série em que Carlos Saldanha exerce a função de showrunner vai fundo no debate sobre ambição capitalista versus anscestralidade, nos entregando uma trama rica em seu cerne e nos pilares que a sustenta.
Contudo, a série em questão sofre alguns pequenos deslizes narrativos quanto as obviedades e clichês de tramas policiais, mas não perde a graça por conta da fantasia regional que são nostálgicas e realmente mágicas. Divertem, sobem um degrau se comparada com as aventuras infantis de Lobato e encantam pelas interações dos atores e caminhos escolhidos pelos roteiristas. O sucesso é justificável e mesmo que alguns possam torcer o nariz ao se depararem com algumas abordagens escolhidas, é inegável que Cidade Invisível possui tudo para se tornar o que se tornou, um sucesso mundial, que valoriza nossa cultura e que mostra que para fazer sucesso não precisamos navegar nas culturas alheias.