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******************************NÃO contém spoiler******************************

(Fonte: Planocritico,com)

“Crime e Castigo”, o aclamado romance do autor russo Fiódor Dostoiévski lançado em 1866, não é apenas uma narrativa sobre um homem que decide cometer um crime. É uma obra que leva os leitores à uma viagem pela consciência de um criminoso, apresentando questionamentos acerca da existência humana em frente a dilemas como justiça, crime, legalidade e o processo de culpa que atormenta o protagonista após cometer o crime que dá nome à obra.

O autor apresenta um protagonista complexo que após decidir cometer um crime tendo como justificativa o seu estado social e sua visão de mundo do que é ou não aceitável em um ato criminoso, passa a sofrer direta e indiretamente uma pressão da sociedade, juntamente com a culpa que vai consumindo-o aos poucos.

A narrativa incomoda ao apresentar um personagem central frio, que não hesita. A cena do crime choca devido a brutalidade do personagem e da escrita do famoso autor. A narrativa é direta, muito bem articulada ao ponto de nos deixar tão amortecidos e perturbados quanto Raskólnikov, o famigerado personagem.

“Crime e Castigo” tem uma escrita impecável. Os personagens são reais, os diálogos são fortes e o desenvolvimento da trama é uma completa perfeição. Os personagens coadjuvantes são tão bem trabalhados quanto o protagonista. O autor tece uma narrativa árida cheia de críticas que nos deixam pensativos: Quem tem o direito de decidir qual crime deve ser válido? Qual o peso de nossa consciência? São essas questões que atormenta o enigmático personagem.

“Mas onde teria ele ido buscar esses sentimentos? (…) tal era o vazio que de súbito, se apoderara do seu coração. Uma infinita solidão e alheamento se revelava subitamente à sua consciência”

O importante romance tem a capacidade de apresentar uma situação difícil de ser digerida ao mesmo tempo que humaniza o protagonista e reforça o lado humano tanto de quem lê quanto de quem faz parte da estória. Fiódor Dostoiévski mostra que a culpa é o equivalente psicológico da dor física. A dor é o caminho para a salvação, é praticamente impossível viver sem a mesma. Confesso que para mim não foi uma leitura fácil exatamente por eu ter criado uma barreira em relação ao personagem central. Eu o detestei tanto, que só fui me importar com o mesmo após começar a ler o epílogo; que é comovente sem ser exagerado.

A carga psicológica desta obra foi para mim tão incomoda quanto a que encontrei em “Lolita” de Vladimir Nobokov, em ” A Metamorfose” de Franz Kafka e em “O Morro dos Ventos Uivantes” de Emily Bronte. Uma obra que trouxe um peso que permanecerá comigo mesmo não tendo se tornado um dos meus clássicos favoritos da vida.

Por ter a capacidade de nos humanizar mesmo que seja perante a condição de um criminoso, a obra merece ser lida por todos. O autor não banaliza a criminalidade, mas deixa claro que todos merecem o direito do arrependimento. Ainda estou pensando a respeito destas questões.

A introspecção dos personagens, o realismo do enredo e o desfecho excepcional fazem de “Crime e Castigo” muito mais do que um clássico da literatura mundial. É uma obra que nos incomoda por nos fazer mergulharmos nos meandros de nossa consciência da forma mais incômoda possível.

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