******************************NÃO contém spoiler******************************
A RESENHA A SEGUIR POSSUI TRIGGER-WARNING
Editora: Panini – Crossed: A Primeira Vez
Autor: Garth Ennis / Ilustrador: Jacen Burrows / Gênero: Terror e suspense psicológico / Idioma: Português / 256 páginas
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Editora: Avatar Press – Crossed: Family Values (Crossed #02)
Autor: David Lapham / Editor: William Christensen / Ilustrador: Javier Barreno / Gênero: Terror e suspense psicológico / Idioma: Inglês / 176 páginas
“Crossed: A Primeira Vez” é certamente uma das coisas mais brutais que já li na vida. A estória criada por Garth Ennis aborda uma doença que da noite pro dia infecta boa parte da população, transformando quase todos em sádicos, psicopatas, loucos e assassinos cruéis. Uma realidade absurda que leva a humanidade praticamente à extinção. Vemos situações que são capazes de embrulhar o estômago de qualquer um. Pais estuprando filhos, cenas de canibalismo, incesto, infanticídio, torturas físicas e psicológicas e desmembramentos de corpos com as vítimas ainda vivas. É correria e sangue por toda parte.
Uma realidade mais que assustadora que entrega uma violência exacerbada que chegou a me dar pesadelos e dor de cabeça. Foi uma leitura complicada e de difícil digestão mental; levei dois meses para ler os dois primeiros arcos. O primeiro volume lançado pela editora Panini em fevereiro deste ano é um compilado dos dez primeiros fascículos e trata de um grupo de pessoas que se reúne na intenção de sobreviver ao caos que se instala no mundo. Apesar de possuir situações complicadas e muita violência ao ponto de me deixar com vontade de abandonar a leitura e partir para algo que não me deixasse semidepressivo, o primeiro arco é bem leve se comparado com o que encontrei em “Crossed: Family Values”, o segundo volume; um compilado de seis estórias que se focam na luta de uma família pela sobrevivência. O primeiro volume traz muitos diálogos, contextualizações, planejamentos de sobrevivência e entrega ao leitor momentos que nos possibilita respirar um pouco. Dá momentos de descanso, mesmo que sejam muito curtos. Já o segundo volume não nos dá essa possibilidade, é desgraça atrás de desgraça desde a primeira página. No decorrer da estória temos cenas absurdas de um pai estuprando uma filha, de uma mãe sendo conivente com a situação, gente correndo com machado degolando quem tenta em vão escapar, filho transando com mãe, mãe querendo transar com filhos, cenas de desmembramentos em momentos de relações sexuais, carcaças humanas servindo de vestimentas… e tudo isso sendo feito por pessoas que gargalham enquanto colocam essas atrocidades em prática.
Os seres humanos infectados se tornam animais irracionais que só querem matar e matar sem descanso algum. Possuem uma ferida no rosto em forma de cruz e além da sede por sangue, possuem uma necessidade insaciável por sexo. Não importa se é criança, idoso ou até mesmo bebês, qualquer um pode ser estuprado se for capturado. Tudo horrível de ser lido e digerido, conforme já mencionado. Se você não está em uma boa fase da sua vida e não possui um psicológico muito bom, a dica que eu dou é: PASSE LONGE DESSAS HQS!
Eu gostei da leitura, me prendeu e me fez roer as unhas. Mas não sei ainda quando é que lerei os demais volumes… realmente gostei, por ter me despertado sentimentos de repulsa e exasperação (gosto de leituras que mexem comigo), mas não me fez bem. É o tipo de coisa pra quem gosta de narrativas insanas. Se não é o seu caso, acredito que você achará descartável, e repleta de violência gratuita. As HQs possuem alguns questionamentos interessantes, como a perda da humanidade até mesmo dos não contaminados, o limite do que somos capazes de fazer para sobrevivermos e traz até algumas questões religiosas. Mas tudo isso se perde no mar de loucura e crueldade que se tornam as protagonistas das estórias. Crossed é o exemplo perfeito do quão cruel o ser-humano pode se tornar. Assustadora em um nível difícil de explicar. Mesmo que eu tente, minhas palavras não serão capazes de expor o quão absurdo é o mundo criado por Garth Ennis. Embarque na leitura por sua conta em risco. Já diria o ditado: Quem avisa, amigo é.
O que achei dos traços e da colorização?
Tanto os traços de Jacen Burrows em “Crossed: A Primeira Vez” quanto os de Javier Barreno em “Crossed: Family Values” me agradaram. Ambos apresentam em pouquíssimos momentos algumas oscilações, mas são quase nulas e não atrapalham em nada a leitura. As fisionomias dementes dos personagens assassinos chegam a arrepiar tanto quanto os olhares assustados e desesperados dos que tentam sobreviver. A colorização está muito boa e o roteiro também (Tanto de Garth Ennis, quanto de David Lapham no segundo volume). É uma leitura mais que incômoda, mas em relação aos pontos citados eu não tenho o que reclamar. Talvez eu tenha sido tão impactado que acabei nem conseguindo analisar de maneira mais crítica.