******************************NÃO contém spoiler******************************
Autor: Terry Hayes
Editora: Intrínseca / Gênero: Thriller policial / Idioma: Português / 688 páginas
Como lidar com três crimes “perfeitos”? Como caçar alguém que parece não existir? Como lutar contra quem utiliza de seu próprio conhecimento contra você mesmo? Quando três situações misteriosas e mais que bem planejadas ocorrem quase simultaneamente em partes diversas do planeta, um ex-agente secreto da CIA é localizado e recrutado mais uma vez para que tais crimes sejam solucionados antes que seja tarde demais. A sobrevivência da humanidade depende do sucesso de tal missão. Um agente inteligente e meticuloso caçando criminosos que possuem tanta inteligência quanto ele, e que atuam de forma a “não deixar” rastros de suas ações. É como se não passassem de fantasmas. Uma corrida contra o tempo se inicia e vamos de um lugar do planeta a outro em busca de respostas ou de qualquer pista que nos ajude junto com o protagonista a desvendar todos os mistérios provenientes de crimes tão bem executados.
“Eu Sou o Peregrino”, o romance policial de Terry Hayes é como um fósforo em uma palha. Um livro que começa lento, com muitas situações que parecem não possuir ligações, mas que aos poucos vão pegando fogo, ao ponto de quase explodirem. Uma verdadeira bomba relógio em forma de livro. A estrutura narrativa do autor é como as narrativas clássicas, com um desenvolvimento inteligente, bem planejado e que nos instiga, nos alimentando aos poucos com mistérios que beiram o absurdo, tamanho a audácia e a perfeição de tais atitudes criminosas. O protagonista é o que diz o título, um peregrino, alguém sem lar, sem uma identidade ou um lugar para chamar de seu. Sua missão é investigar e desvendar sem ser de fato percebido. A competência em forma humana. Características que podem ser aplicadas da mesma maneira aos vilões.
Os capítulos se dividem entre passado e presente, onde vamos aos poucos entendendo tanto o protagonista quanto o antagonista principal. Vamos acompanhando suas motivações através de falshbacks que compõem seus psicológicos e justificam suas ações, ao mesmo tempo que debates sobre injustiças e fanatismos religiosos vão sendo apresentados. O livro é excelente, surpreende, e apesar da lentidão inicial terminei a leitura satisfeito. Confesso que esperava encontrar algo mais no estilo de investigação forense como “O Colecionador de Ossos” do autor Jeffery Deaver (o meu segundo romance policial favorito da vida), e algo mais frenético e com mais reviravoltas como o que encontramos em “A Verdade sobre o Caso Harry Quebert” do autor Joel Dicker. Mas a premiada obra de Hayes se propõe a contar uma trama mais emergencial, onde as ações tomam proporções mais desesperadoras, o que o difere dos romances supracitados.
Narrado em primeira pessoa, temos capítulos com ótimos ganchos e que nos entregam possíveis spoilers que funcionam como um combustível, nos impulsionando para o próximo capítulo, ao mesmo tempo que aumentam nossos batimentos cardíacos com a possibilidade de que tudo dê errado no final. Uma técnica vantajosa e bem parecida com a utilizada por Stephen King.
Ao completar um pouco mais de 150 páginas lidas, pensei se valeria realmente a pena dar continuidade a um livro lento que não estava suprindo minhas expectativas. Mas como um leitor insistente que sou, segui a leitura até o ponto onde não consegui mais parar. “Eu Sou o Peregrino” é uma leitura fantástica, merecendo ser colocado no meu top 10 de melhores romances policiais que já li. Não o achei perfeito, mas é bem escrito e passa longe de ser um livro qualquer. Alguns momentos se arrastam além do necessário e algumas respostas demoram demais para ser entregues; além dos excessivos flashbacks, que pra mim, em muitos momentos funcionaram mais como elementos anticlimáticos do que um acerto narrativo quando o assunto é ritmo e dinamismo. Sem contar que demorei umas 200 páginas para começar a me importar com os personagens e com as situações apresentadas, tendo me incomodado também com alguns trechos que esbarram na xenofobia. Mas ainda assim reforço, o vencedor do National Book Awards de 2014 do Reino Unido de melhor thriller policial merece ser lido e relido algumas vezes. Terry Hayes me mostrou que seu talento vai muito além do de roteirista de filmes como os da franquia Mad Max. “Eu Sou o Peregrino” deve ser encarado como um banquete, sendo degustado aos poucos, aproveitando cada momento entregue pelo autor. Uma jornada envolvente cujo desfecho aplaudi de pé.