*****************************NÃO possui spoiler******************************
Trigger warning: Este livro contém cenas de estupro.
Sabe aquele tipo de livro que começa lento, vai se desenvolvendo de maneira assustadora e termina de forma a nos deixar chocados? Então… No Escuro é este tipo de livro. Senti várias emoções lendo e muitas vezes confesso que cheguei a ascender à luz do meu quarto, porque fiquei com uma sensação estranha de que estava sendo vigiado. Sei que é algo absurdo, mas imergi tanto na história que cheguei a ficar de fato assustado com a força da escrita de Elizabeth Haynes.
No Escuro é sem sombras de dúvidas um dos melhores thrillers psicológicos que já li na vida. O único outro thriller que lembro de ter sido uma leitura incomoda, foi Misery do Stephen King. A obra de Haynes se propõe a contar uma trama onde o foco é um relacionamento abusivo e cumpre esse objetivo de maneira espetacular. Cathy é a protagonista e leva uma vida de baladas e sexo em lugares públicos. Durante uma saída, acaba conhecendo Lee, que aparenta ser o cara perfeito. Perfeição esta, que vai se esvaindo como um castelo de areia construído em um dia chuvoso. Ele é magistralmente criado pela autora para ser a personificação do mal… A representação perfeita do que é ser um psicopata. A trama começa morna, tendo um desenvolvimento que vai te puxando para um abismo recheado de torturas tanto físicas quanto psicológicas.
Já fica o aviso, este livro pode não parecer em um primeiro momento possuir uma carga emocional tão palpável assim. Mas acreditem; ele é pesado de maneira extremamente visceral. A protagonista é excelente, os diálogos são muito bons e a estrutura narrativa é incrível. A mesma é dividida em 2 linhas temporais; que vão se intercalando de maneira a alimentar tanto o nosso desespero, quanto o da protagonista. Conhecemos dois lados da personagem e a tensão vai nos envolvendo de maneira bem desesperadora. Os capítulos são curtos e isso colabora bastante para a fluidez.
As 100 primeiras páginas foram bem mornas e eu comecei a sentir que uma implicância estava querendo brotar. Mas do nada me vi roendo as unhas e olhando pela janela para ver se tinha alguém do lado de fora que pudesse violar a segurança do meu quarto. Eu adorei sentir esse medo enquanto lia. Me irritei em vários momentos com todo o absurdo que estava lendo e me peguei socando o travesseiro de odeio por ver tudo aquilo acontecendo e não poder fazer nada… Foi uma impotência que me deixou amortecido. Entre Quatro Paredes do autor B. A. Paris, que trata do mesmo assunto e o qual eu gostei, apesar dos pesares, parece ter sido escrito por uma criança, agora que tenho No Escuro como referência.
É realmente um livro excelente e agora posso dizer por experiência própria que entendo o surto que meus amigos tiveram quando o leram e o porquê deles me infernizarem tanto, durante 2 anos, para que eu parasse de postergar e lesse logo este livro. Foi uma experiência que transcendeu minhas expectativas e que me fez ficar encarando a parede durante uns 5 minutos após ler o último parágrafo.
Se você conhece alguém que passou por uma mudança comportamental repentina, passando de extrovertido para introvertido, comece a desconfiar!! Não duvide caso ela diga que está sendo vítima de um relacionamento abusivo. A ajude, a apoie e faça alguma coisa. É revoltante saber que muitas vezes estas pessoas são deixadas a mercê porque o psicopata o qual elas estão envolvidas, manipula tudo e todos que os cercam. Lembrem-se: um psicopata não aparenta ser um psicopata. Eles normalmente são cativantes, educados e te fazem acreditar que a pessoa agredida é louca e a verdadeira psicopata da história. Senti nojo de ver o quanto a protagonista se sentia sozinha. Mas me surpreendi ao ver a força que emana dela, mesmo que muitas vezes ela pareça fraca.
Um livro espetacular, perturbador e que indico de olhos fechados!
Lembretes importantes:
1. Caso seja vítima ou desconfie de que alguma amiga ou alguém está sendo, disque 180 que é a central de atendimento às vítimas criada pela secretária de políticas para as mulheres (SPM)
2. Pode recorrer também ao Disque Direitos Humanos, o DiSQUE 100.
3. Há ainda a possibilidade de entrar em contato com a delegacia da mulher de sua cidade e fazer uma denúncia anônima, sempre levando em conta a lei Maria da Penha.
Independente de qualquer coisa, não se cale. Denuncie!!