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******************************NÃO contém spoiler******************************

Autor: Arthur C. Clarke

Editora: Aleph / Gênero: Ficção-Científica / Idioma: português / 320 páginas

Idealizado no início dos anos 50 e publicado em 1953, “O Fim da Infância”, o romance tido como o livro menos Arthur C. Clarke de seu portfólio, surpreende pelas questões levantadas e pelo desenvolvimento magistral. Intitulado como soft science fiction, a obra de Clarke nos apresenta uma invasão alienígena pacifista que traz prosperidade, eliminação de males e estagnação ao planeta. Com a população outrora revoltada e amedrontada, temos a evolução da adaptação humana diante de uma nova realidade, e questões filosóficas acerca de nossa condição e suposta inferioridade humana.

Tendo como base a segunda guerra mundiala guerra fria, o autor tece uma narrativa curiosa, repleta de mistérios e reflexões sobre metafísica, se aprofundando muito nas questões que nos fazem humanos, não pesando a mão nos elementos clássicos do gênero. Nos deixando apreensivos sobre diversas questões, o autor levanta questionamentos pertinentes que vão ganhando formas com o virar das páginas e que nos  fazem devorar e apreciar cada momento da trama. Qual o real motivo de tal invasão? O que tais seres procuram? O que mais o universo nos esconde? Seria nossas ambições o que levaria a nossa extinção?

Criando um mundo onde tudo é dado de mão beijada para a raça humana e não havendo mais a necessidade de explorações artísticas e científicas, um mundo utópico é criado e os seres humanos entram em um estágio de domesticação, perdendo suas reais liberdades, enfraquecendo as essências que nos tornam o que somos. Não possuindo mais ambições, nos tornamos apenas fantoches de um sistema criado pelo Senhores Supremos; como são denominados os invasores da instigante narrativa de Arthur C. Clarke. Com críticas pesadas, princialmente no que tange o socialismo, o comunismo e até mesmo algumas passagens críticas quanto ao capitalismo, “O Fim da Infância” nos deixa pensativos. Se tivéssemos tudo que desejamos e que precisamos para viver, seriamos felizes?

“Nenhuma utopia é capaz de satisfazer a todos o tempo todo. À medida que suas condições materiais melhoram, os homens vão se tornando descontentes com os poderes e as posses que antes lhes teria parecido inacessíveis. E, mesmo quando o mundo  exterior lhes concedeu tudo o que podia, ainda permanecem as demandas da mente e os desejos do coração.”

 

“Uma sociedade consiste em seres humanos cujo comportamento, como indivíduos, é imprevisível”

Com uma estrutura que entrega ao leitor longas passagens de anos, a obra do aclamado escritor não se apega ao desenvolvimento de personagens, mas sim de mundo e dos temas abordados.  O que nos deixa órfãos quanto a um personagem para nos apegarmos do início ao fim da narrativa. Os desdobramentos da ficção-científica de Clarke me deixaram surpreso e o desfecho amado por muitos, mas também criticado por outros, me soou como algo interessante, para dizer o mínimo. Temos também debates sobre religião versus ciência e sobre nosso papel no imenso universo que nos cerca. Afinal de contas, qual o sentido de existirmos?

Conhecidíssimo por “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o autor também  foi indicado em 2014 com o livro aqui resenhado para o prêmio Hugo Awards Retrô. Mesmo não tendo saído vencedor, devo dizer que é uma baita obra que todos deveriam conferir. Um romance sublime que confronta nossas arrogâncias e certezas como seres humanos. Em um universo tão gigantesco como  que fazemos parte, não seriamos apenas simples elementos como pequenos grãos de areia no deserto? Uma questão para se refletir enquanto nossa existência permitir.

1. “O Fim da Infância” se originou do conto “Anjo da Guarda” também do autor e presente na edição da editora Aleph.

2. Há uma minissérie televisiva produzida pelo canal Syfy.

3. Caso note alguma cena que te lembre de “Independence Day”, saiba que não se trata de plágio. Pelo menos não do lado de Arthur C. Clarke, já que sua obra veio primeiro

 

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