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******************************NÃO contém spoiler******************************

Autor: William Faulkner

Editora: Companhia das Letras / Clássico Norte-americano / Idioma: Português / 376 páginas

Como analisar uma obra que tem como ponto forte sua inconsistência narrativa e sua forte potencialidade humana na construção de seus personagens? Considerado como um dos grandes clássicos da literatura norte-americana (senão o grande clássico) e um dos 100 livros essenciais da literatura universal, “O Som  e a Fúria” de William Faulkner  carrega o peso de ser considerado por muitos uma obra difícil de ser lida e interpretada. O que dá vida a uma tensão bastante exagerada por parte seja dos críticos especialistas ou pelos leitores que a leem. A verdade é que “O Som e a Fúria” trata-se de uma obra intrínseca, emotiva e crítica; indo de encontro a moralidade da época que deu origem a tão importante obra literária. O que deixa evidente o conflito entre crítica e literatura, que causa muitas vezes o afastamento de alguns e o fascínio de outros.

Dividido em quatro partes e focado na decadência de uma família sulista dos EUA entre os anos 1910 e 1928, a obra de Faulkner vai se desenvolvendo através de fluxos de consciência, muitas vezes turbulentos e confusos. Sendo a primeira parte da obra narrada por Benjy, o filho mais velho da família que sofre de uma deficiência cognitiva, ocasionando desta forma, em uma narrativa não linear, que mistura passado, presente e futuro em uma única narração; mesclando na maioria das vezes os três períodos em um mesmo parágrafo. O que de fato é complexo ao mesmo tempo que é genial. A forma escolhida pelo autor em narrar tão importante introdução, nos submete a desafios psicológicos e sentimentais que nos imerge em um mundo difícil de ser decifrado e consequentemente compreendido (pelo menos na primeira metade do romance).

Repleto de ironias interpretativas, o romance de Faulkner parece sofrer uma falta gritante de espiritualidade ao mesmo tempo que transborda de antíteses emocionais. Colocando nós leitores no meio de enigmais sentimentais e intelectuais capazes de nos exaurir. Ler “O Som e a Fúria” é como estar preso em um relógio desgovernado onde acompanhamos os ponteiros se moverem sem lógica alguma, para parar no final das contas no mesmo lugar. Causando uma suspensão narrativa cíclica. Em contrapartida, a elogiada obra passa por uma progressão estrutural que transforma o romance – a partir da segunda metade –  em uma obra mais palpável e compreensível.

“Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e néscios.”

 

“E assim disse a mim mesmo para escolher aquele. Porque o pai disse que os relógios matam o tempo. Ele disse, o tempo morre sempre que é medido em estalidos por pequenas engrenagens; é só quando o relógio para que o tempo vive.”

“O Som e a Fúria” aborda com virtuosidade, dramas familiares, preconceito e racismo, tendo o tempo como o cerne de tudo. Um tempo que passa sem passar, que se move sem se mover, como se os personagens estivessem presos em um looping temporal, cujo grande vilão de tudo seria suas próprias emoções. Interessante ressaltar Cleanth Brooks, o crítico que sabiamente definiu “O Som e a Fúria” em 1963 como uma história de obsessão. Enquanto navegamos pelos enigmas de Faulkner, nos deparamos com quatro narradores obcecados, cada um a seu modo, por  algo intrínseco a si mesmos e / ou ao ambiente que os cercam. Benjy, o narrador primário, é obcecado pela imediaticidade e pela irmã, que exerce em sua vida um papel maternal. Quentin, o segundo narrador e um dos filhos da família Compson, é obcecado pela mesma irmã e pelo que ela representa emocionalmente a ele. Trata-se de um personagem muito frágil que tem fascínio pelo que muitos de nós tememos, tendo uma visão deturpada da vida. E Jason, o terceiro narrador, o irmão amargurado que parece odiar tudo e todos, e que tem obsessão por uma justiça inexistente; nos causando repulsa e reflexão quanto aos limites emocionais de nossa condição humana. E temos o quarto narrador…Um ser onisciente e onipresente que não possui obsessão em algo, mas sim que desperta a obsessão em nós leitores, sedentos por respostas que parecem muitas vezes não chegar.

A aclamada obra é composta por diversos elementos, sendo a consciência e a inconsciência dois desses elementos que caminham lado a lado em um mar de coerências e incoerências infinitas… Tendo como protagonista secundário o homem primitivo em contraste com o indivíduo social, diante de mudanças econômicas e sociais que ele se nega em aceitar.  A obra-prima de Faulkner retrata com perfeição a frase de William Shakespeare presente em Macbeth. “A vida é uma história contada por um idiota, cheio de som e de fúria sem sentido algum.”

Segue abaixo um vídeo sobre a obra. (Possui leves spoilers)

 

 

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