Nica cresceu em um orfanato e os contos de fada eram seu único conforto em meio aos terrores reais que assombravam os corredores da instituição. Agora que é adolescente, escolheu deixar as fantasias infantis para trás e focar no seu sonho de ser adotada. Mas, quando o sr. e a sra. Milligan adotam Nica, para a surpresa dela, também decidem acolher Rigel, um misterioso e inteligente garoto que nunca se deixou ser adotado… até agora. E, apesar de ambos compartilharem o mesmo passado, a convivência não será nada fácil ― ainda mais porque Rigel aproveita qualquer oportunidade para relembrá-la do quanto a despreza.
Livro recomendado para maiores de 18 anos.
Sempre acreditei em contos de fadas.
Sempre esperei viver um.
E agora… eu estava dentro de um deles.
Caminhava entre páginas, percorria caminhos de papel.
Mas a tinta estava vazando.
Eu tinha ido parar na história errada.
Após perder os pais em um acidente, Nica foi mandada para o Orfanato Grave, um lugar cinzento e terrível, onde a única companhia das crianças era a esperança de um dia saírem dali, alimentada pelas histórias sussurradas.
Após 17 anos de espera, desejando com todo o seu coração ser adotada, isso finalmente acontece. Mas, como em todas as histórias de drama, Nica se depara com uma situação desconfortável: o casal gentil que a escolheu também ficou encantado com outro órfão — Rigel, o garoto problemático e mal-encarado que, desde a infância, parece odiá-la.
Rigel dava puxões bruscos nas minhas roupas, puxava as pontas do meu cabelo, desfazia as minhas tranças; as fitas caíam aos seus pés como se fossem borboletas mortas e, entre os cílios úmidos, eu via o sorriso cruel se abrir nos lábios dele antes de fugir.
Por mais que não seja o cenário ideal, Nica decide fazer de tudo para que os Milligan não repensem a adoção, isso inclui convencer Rigel de que eles precisam manter uma relação amigável e serem civilizados um com o outro, mas Rigel não parece querer o mesmo, para ele, só o que importa é que Nica o deixe em paz e não cruze o seu caminho.

Ao decorrer do livro, percebemos que os personagens carregam cicatrizes emocionais e traumas que vão muito além do fato de terem crescido no Grave. As feridas profundas ainda lhes causam dor e, por vezes, ditam as decisões e comportamentos que desempenham na história.
Outros personagens também se mostram mais complexos e cheios de nuances, como Anna e Norman, os pais adotivos de Nica, que perderam o filho biológico há alguns anos e ainda carregam essa dor. Adeline, a melhor amiga de Nica, também cresceu com ela no orfanato e possui muitos traumas e crenças limitantes.
Billie, uma garota gentil que Nica conhece na nova escola, demonstra ao longo das páginas o quanto sente falta dos pais, que estão sempre viajando a trabalho e nunca têm tempo para ela. Já Miki, melhor amiga de Billie, ainda está descobrindo quem é de verdade.
Por fim, Lionel, um garoto que desde o início desenvolve um interesse platônico por Nica, desempenha um papel crucial na história, demonstrando como um relacionamento pode se tornar problemático e perigoso.
Então, apoiei-me sobre os braços, instável, e o gosto de ferro do sangue encharcou a minha língua. As pálpebras não paravam de arder. Com os olhos trêmulos e lacrimejantes, encarei o culpado pelo golpe.
Conforme a leitura avança percebemos que o drama, o suspense e o romance se misturam de forma harmônica, criando um cenário sombrio, mas que consegue cativar o leitor, fazendo-o desejar que os personagens se entendam e que consigam realizar os seus sonhos.
A autora, Erin Doom, na minha opinião, conseguiu criar uma história sem pontas soltas, pois, nas 556 páginas, tudo se encaixa e é resolvido com perfeição – coisa que não encontramos em todas as histórias.
FILME DA NETFLIX
Em abril de 2024, a Netflix lançou o filme O Fabricante de Lágrimas, mas não conseguiu entregar um bom trabalho, criando uma adaptação confusa, maçante e com personagens superficiais.
Há alguns acertos na adaptação cinematográfica, como a estética e a trilha sonora, mas no geral, o filme ficou confuso e raso.
VOCÊ DEVE LER O FABRICANTE DE LÁGRIMAS?
O livro, diferente do filme, é bem construído, com personagens profundos e que, ao decorrer da narrativa, vão se desenvolvendo, amadurecendo e curando os traumas que carregam.
A história começa lenta, mas logo pega ritmo, com muitas cenas de suspense, drama e romance, fazendo com que as peças do quebra-cabeça se encaixem.
É importante, porém, se atentar ao fato de que o livro é um Dark Romance e, por causa disso, trata de temas como obsessão, manipulação, relacionamento abusivo e desafios psicológicos e emocionais, o que, para muitos leitores, pode tornar a leitura desconfortável.
Se você gosta de um romance mais sombrio, acompanhe a Resenha do primeiro livro da série Devil’s Night.