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“O caminho lunar tão esperado pelo procurador estendeu-se diretamente até esse jardim, e o cachorro de orelhas pontiagudas foi o primeiro que se pôs a correr por ele. O homem de manto branco com a barra cor de sangue levantou-se da poltrona e gritou algo com a voz rouca e afônica. Não dava para entender se estava chorando ou rindo, nem o que estava gritando. Dava para ver somente que, atrás do fiel vigia, ele também corria pelo caminho lunar.”

 

Difícil saber por onde começar ao falar sobre a obra “O mestre e a Margarida” de Mikhail Bulgákov. Em alguns momentos não parece fazer muito sentido, consertos de magia negra, o diabo em visita a Moscou, bruxas soltas pelo céu noturno russo, gatos anormalmente grandes, sumiços repentinos, mortes injustificáveis, chuva de dinheiro, surto de loucura entre a classe artística moscovita, incêndios, Pôncio Pilatos.

Apesar do aturdimento, as linhas revelam o que viveu o próprio autor durante um período conturbado na Rússia pós-revolução e a angustia de Bulgákov por não encaixar-se nos moldes estéticos do Socialismo, já que o período em que viveu foi marcado por grandes rebuliços políticos, sociais e econômicos, iniciado pela queda dos Czares.

O regime socialista, primordialmente pensado como a solução de problemas vivenciados durante a autocracia dos Romanov, tornou-se um pesadelo, principalmente para homens dedicados a arte. A repressão e a censura vivenciada resultou mesmo em suicídios, como o caso do “poeta oficial da Revolução”, Maiákovski.

Voltando a grande sátira escrita por Bulgákov, pura e simplesmente, ironicamente um sucesso internacional, sendo, em contrapartida, publicada em seu país de origem, mais de vinte anos após seu surgimento, o Mestre a Margarida tem inicio com a chegada de Lucy e sua trupe de demônios (Korôviev-Fagot, Azazello e Behemoth) e a bruxa Hella que resulta, de cara, em morte e no primeiro internamento em sanatório. A partir dai, o circo se arma e toda a Moscou transforma-se em um manicômio a céu aberto, cheio de incongruências, temores, irrealismos, uma espécie de Bole-Bole, como em Saramandaia.

Em meio aos fios de caos, costura-se, também, a história de amor da bela Margarida, ou a bruxa Margot (sua versão de liberdade) e seu amado sem nome, mas cunhado de “Mestre”. Somado a este romance, há o livro que determinei como “o livro da discórdia”, que retrata o episódio encenado por Pôncio Pilatos e o profeta Yeshua Ha-Notzri (mais conhecido por Jesus) e presenciado pelo próprio Woland.

É tudo muito cativante, em oposição a alguns nós formados na mente, distante da crueza do realismo russo, mas tão afiado quanto. Um clássico que merece ser apreciado, mais do que isso, sentido.

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