******************************NÃO contém spoiler******************************
Sendo uma das apostas na categoria de melhor filme do Oscar deste ano, o filme Bela Vingança – Promising Young Woman no original – protagonizado por Carey Mulligan, dirigido e roteirizado pela estreante Emerald Fennel, nos leva a um efeito catártico predominante e avassalador durante suas quase duas horas de duração. Com um enredo bastante ácido, irônico e muitas vezes assustador, o tão comentado longa parece ter objetivos muito claros, os quais não ficam apenas na promessa. As mensagens e críticas impostas aos telespectadores não se amedrontam diante de uma possível desvirtuação interpretativa de um público talvez desavisado ou mal intencionado em suas pessoais avaliações, indo de forma corajosa a fundo no que se propõem em entregar.
A trama de Cassandra Thomas, uma mulher por volta de seus trinta anos, que noite a noite se finge de bêbada nas baladas para atrair e se vingar dos predatórios seres masculinos que desejam se aproveitar de sua vulnerabilidade, chama a atenção logo em seus primeiros minutos de exibição, pela montagem entregue e pela brilhante (por assim dizer) atuação de Mulligan – também indicada ao Oscar na categoria melhor atriz.
Com cortes abruptos e uma trilha sonora que se une com perfeição as cenas, o filme em questão nos intriga e nos instiga a seguir em frente na inevitável intensão de desvendarmos todas as camadas que o formam, nos possibilitando criar teorias enquanto mergulhamos na densa narrativa proposta. Não trata-se de um enredo com mensagens vagas ou somente negativas acerca da figura masculina; mas sim de um drama psicológico que traz a tona a fragilidade das mulheres diante de um mundo machista, sexista e preconceituoso, que se sustenta na premissa de que a culpa é sempre da vítima e não do agressor. Uma crítica válida e certeira a respeito da indigesta cultura do estupro.
Com um bom enquadramento de câmera que se alinha com perfeição aos demais aspectos cinematográficos da obra, Bela Vingança nos entrega uma experiência completa, que é bem executada e que funciona de forma a justificar – sem nos deixar na dúvida – sua indicação na mais importante categoria do maior e mais significativo evento de cinema do mundo.
Não há a necessidade de saber mais do que a básica sinopse apresentada no segundo parágrafo da crítica aqui apresentada. Te aconselho a começar a vê-lo estando praticamente no escuro do que irá encontrar, se dando a oportunidade de sentir todas as emoções que ele provavelmente irá te despertar, te surpreendendo e te deixando provavelmente pensativo diante das escolhas narrativas e dos desfechos escolhidos. Bela Vingança é um filme que assusta (ou assustará) não apenas os homens de plantão, como deixa uma mensagem bastante agridoce que deve ser consumida e digerida pelo público em geral, por mais difícil e desagradável que a experiência possa ser em um primeiro momento. Um drama psicológico de alto nível que não exagera, que não fica na superfície e que não irá agradar a todo mundo; exatamente o que uma boa história deve ser.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A tão elogiada atuação de Carey Mulligan como a vingativa e enigmática protagonista realmente surpreendente. Contudo, devo confessar sem medo de ser julgado, que em diversos momentos duvidei de tal performance, por sentir que sua intérprete ainda poderia mais do que o que me foi entregue.
Todavia, sua segurança e seu talento em saber equilibrar as ebulições sentimentais da personagem central, fazem de sua atuação o grande trunfo do longo, ofuscando os demais atores e personagens, que em sua maioria soam como foscos diante do brilhantismo da grande estrela do filme.
Devo também frisar que a trama que caminha através de duas linhas narrativas, perde força quando em determinado momento se envereda por um caminho mais ameno, deixando a trama morna demais, o que pode exercer ao telespectador a indesejável função de desconexão e desinteresse; o que para um filme como esse não trata-se de um elemento assertivo quanto a sua composição criativa. No mais, Bela Vingança cumpre o que promete, deixando agora no ar a dúvida se isso será o suficiente para que consiga levar para a casa algumas das tão desejadas estatuetas do polêmico Oscar.
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