******************************NÃO contém spoiler******************************
Que resultado esperamos quando decidimos assistir a um filme como Judas e o Messias Negro? Esperamos que ele nos transforme, nos incomode, nos deixe revoltados e nos suscite reflexões? Importante iniciar este texto com este questionamento: O que você espera de uma obra como essa? Pois é esta tão emblemática questão que poderá ditar sua experiência e percepções acerca do que irá encontrar (ou não). Não espere ter a capacidade isolada de se situar com perfeição e com amplitude. Não espere conseguir embarcar na narrativa sem que o principal aspecto – o histórico – se faça necessário. E talvez a mais importante das ressalvas… não espere passar por ele com indiferença.
Judas e o Messias Negro é aquele tipo de história que possui toda a força necessária para nos imergir em suas tramas e subtramas atemporais, sem se demonstrar desgastada; não no aspecto o qual se inspira para se sustentar quanto narrativa, mas sim no aspecto ficcional e ágil em que é desenvolvido e entregue ao telespectador. Intenso e crítico desde seu título bastante simbólico, sugestivo e assertivo – até sua forma agressiva de narrar os fatos – a questão é que a obra não entrega um entretenimento puro e simples ou meramente panfletário. Trata-se de um enredo duro, cujo discurso impacta e nos deixa a sensação de estarmos amortecidos, durante e depois de sua exibição.
Como um tabuleiro de xadrez, o roteiro funciona de forma dinâmica, impulsionando personagens e telespectadores em um ritmo que impressiona. Posicionando os elementos ficcionais de forma inteligente, Shaka King – o diretor e roteirista – nos instiga de maneira feroz, construindo uma obra que navega por gêneros que se conversam e se complementam, enriquecendo diversos aspectos subjetivos e enaltecendo as brilhantes atuações. As interações entre Fred Hampton (Daniel Kaluuya) e Bill O’Neal (LaKeith Stanfield) – um dos líderes de uma filial do movimento pantera negra e seu companheiro de causa, que na verdade é um infiltrado do FBI – desperta sentimentos conflitantes, nos conectando as lutas, medos e inseguranças a nós impostas pelo roteiro, sendo capaz de elevar e muito a experiência do público como um todo.
Difícil passar por Judas e o Messias Negro sem se sentir de certa forma impactado. É revoltante, é tenso, é reflexivo e infelizmente ainda necessário. Mesmo que a trama possa parecer por vezes teatral demais, os jogos de câmera, os discursos e a trilha sonora não nos permite o classificarmos dessa forma tão imprudente. Judas e o Messias Negro é o tipo de narrativa que na verdade independe das expectativas a ela imposta, sendo na verdade, uma obra com potencial de superar toda e qualquer prévia avaliação a ela empregada. O que você espera de um filme como esse? Em meio a tantas percepções positivas acerca do que vi; percebo agora que tal questionamento se torna irrelevante.
[…] Judas e o Messias Negro | HBO MAX (#Oscar2021) 19 de abril de 2021 […]