******************************NÃO contém spoiler******************************
Como é possível viver em um país como a Palestina? Impossível não nos fazermos esta pergunta enquanto lemos “Palestina: Uma Nação Ocupada”. Com sua reportagem em quadrinhos, o escritor Joe Sacco nos apresenta uma realidade opressora que nos deixa com uma sensação de desespero e claustrofobia enquanto avançamos na leitura.
O autor consegue com maestria transmitir uma realidade oposta à nossa com uma narrativa verdadeira e palpável em um estilo de texto até então criticado por muitos: O jornalismo em quadrinhos. A narrativa visual é mais que funcional e a linguagem tradicional funciona em boa parte da obra como um mero reforço as imagens traçadas por Sacco.
Após ter passado 2 meses no Orien”te Médio, mais precisamente no país que dá nome a obra, o autor coletou relatos e vivenciou situações capazes de abalar o emocional de qualquer um. A objetividade e verossimilhança, características importantes de um texto jornalístico, estão presentes e criam um equilíbrio com o imaginativo e com a linguagem subjetiva do autor, transcendendo a arte vista por muitos como a principal e única característica das histórias em quadrinhos.
O texto exposto e desenvolvido pelo jornalista, explora o conflito entre Israelenses e Palestinos… Conflito este que ocorre desde 1890. “Palestina, a terra sem povo. Palestinos, o povo sem-terra.” Com justificativas religiosas deturpadas e com atitudes que extrapolam o absurdo da agressividade humana, Israel massacra um povo que deseja apenas o que qualquer pessoa sã desejaria: Viver em paz.
“Palestina: Uma Nação Ocupada” foi vencedora do American Book Award e do HQ Mix 2000. Com descrições de torturas tanto físicas quanto psicológicas, a HQ em questão mostra o sofrimento diário de pessoas que não vivem, sobrevivem. Casas são invadidas sem justificativas plausíveis. Pessoas são agredidas, pacientes em leitos de morte são interrogados e os médicos são desrespeitados em seus ambientes de trabalho; sendo muitas vezes impedidos de exercerem sua profissão. Escolas são depredadas e crianças e idosos são constantemente ameaçados. Pessoas inocentes são presas, vítimas do que eles chamam de prisões administrativas… carceres que duram 6 meses e podem do nada serem renovados para mais 6 meses. O povo palestino vive uma situação de liberdade provisória. Para quem reclamar? Que atitude tomar além de continuar lutando? Não há para onde fugir…, como muitos disseram ao autor, a única solução é lutar ou aceitar ser tratado como alguém que não merece respeito.
No prefácio, o jornalista que o escreve, deixa claro também que todos somos vítimas do que ele chama de “engenharia do consenso”, que nada mais é do que a manipulação midiática que nos faz criar preconceitos acerca deste povo tão injustiçado. Terroristas e machistas são alguns dos termos que muitos de nós adoramos usar para nos referirmos ao povo residente do Oriente Médio. Criticamos e julgamos uma realidade que não conhecemos e que muitas vezes não fazemos questão alguma de conhecer. Não seríamos cúmplice indiretos e apoiadores da inércia governamental internacional, por aceitarmos de maneira morna o que nos é entregado pela mídia?
O autor também dá voz à Israelenses que não concordam com as ações de seus país, mas que acabam se alistando ao exército para não serem considerados inimigos do Estado. O autor também dedica alguns capítulos às mulheres, expondo ao leitor, a luta diária dessas, que são agredidas abertamente por motivos diversos.
Os traços de Joe Sacco são excepcionais, os requadros (os quadrinhos onde a história é inserida) não seguem o padrão tradicional; mas tal mudança colabora para a imersão da história e traz mais amplitude às imagens. O autor quase não utiliza de onomatopeia; o que não se torna um problema já que muitas imagens de conflitos falam por si só e não necessitam deste recurso narrativo. As calhas (espaços entre um requadro e outro) são quase nulas o que deixa claro a amplitude da ambientação e nos dá mais polivalência sobre o que está acontecendo no local.
A premiada HQ possui 3 textos de apoio. Sendo um prefácio escrito pelo jornalista José Arnex e uma introdução e um texto de contextualização histórica, ambas escritas pelo próprio autor.” Palestina: Uma Nação Ocupada” é uma HQ completa e fantástica. Terminei as 160 páginas sentindo que havia lido umas 600. É mais uma obra que deveria ser leitura obrigatória!
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