******************************NÃO contém spoiler******************************
É muito fácil e muito mais cômodo julgarmos os outros do que tentarmos entender suas realidades. A empatia é algo fácil de se defender, mas para muitos, muito difícil de ser colocada em prática. Toda essa resistência na desconstrução do pensamento sócio histórico, é resultado da engenharia do consenso, que nada mais é do que a manipulação midiática que nos faz alimentar preconceitos acerca de assuntos relevantes como a cultura de outrem.
Persépolis, a autobiografia em quadrinhos de Marjane Satrapi, é assim como “Palestina: Uma nação ocupada” (Confira a resenha AQUI); o jornalismo em quadrinhos de Joe Sacco, uma excelente contribuição para a quebra de preconceitos pré-estabelecidos.
Com uma narrativa fluída e com traços realistas, a autora vai apresentando sua história de vida de maneira cativante, chocante e muitas vezes reflexivas. Os fatos expostos nos fazem perceber que julgar uma nação inteira e rotular os outros disso ou daquilo com base em informações limitadas provenientes de uma mídia preconceituosa, é um erro repugnante que devemos evitar.
Toda a trajetória da autora é uma lição de vida. Seus comportamentos e suas buscas por descobrimentos e aceitações nos ensinam muito sobre o que é ser humano. Errar e aprender com os nossos erros é essencial para nos tornarmos pessoas melhores. Acompanhar seus erros, suas derrotas, suas inseguranças e suas vitórias é fascinante tanto no quesito literário quanto no quesito realístico.
Ler esta HQ foi uma experiência incrível e complementar ao que eu já havia visto na premiada HQ de Sacco citada no segundo parágrafo. Conhecer melhor os sofrimentos e as lutas ocorridas no Oriente Médio, só fazem com que eu perceba cada vez mais o quanto fui alienado durante anos, quando o assunto era este povo que também julgava de maneira leviana, denominando-o apenas como terrorista.
Lutar sempre é possível, mesmo em ambientes opressores como a região a qual a autora nasceu e cresceu. A liberdade tem um preço; mas um preço que vale a pena ser pago se sua intenção é lutar por um lugar melhor para viver, ou quando sua intenção é se libertar, como um pássaro ao sair de uma gaiola.
Marjane Satrapi é uma guerreira que nunca teve medo de se opor ao regime que ela sempre desprezou. O verdadeiro exemplo do que é ser feminista em um local onde um fio de cabelo fora do lugar é visto como um crime, punível com torturas, prisões e até mesmo estupros. São de pássaros como ela que o mundo precisa. Ser engaiolado é algo imposto. Ficar aprisionado é uma escolha!
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Nota extra:
Há uma adaptação francesa que foi escrita e dirigida pela própria autora em parceria com Vincent Paronnaud e lançada em 2007 no festival de Cannes, cujo prêmio foi vencedora, escolhida pelo júri. A mesma foi indicada também ao Oscar na categoria de melhor animação, mas perdeu para Ratatouille.
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