Trilogia Feita de Fumaça & Osso: Vale a pena a leitura? #10

******************************NÃO contém spoiler******************************

Autora: Laini Taylor

Editora: Intrínseca / Gênero: Fantasia / Idioma: Português / Total de páginas da trilogia: 1.492

 

“ERA UMA VEZ UM ANJO E UM DEMÔNIO QUE SE APAIXONARAM. A HISTÓRIA NÃO ACABOU BEM. ”

“Feita de Fumaça & Osso” é uma das trilogias que mais indico e uma das que mais vejo pessoas torcerem o nariz, seja pelas capas carnavalescas que mais afastam do que atraem leitores, ou pelo fato de ser fantasia YA com o foco em romance sobrenatural, pois quantos livros deste gênero já não temos disponíveis por aí? Mas engana-se quem pensa que a trilogia de Laini Taylor é mais do mesmo. Não se deixem enganar pelas capas; tal trilogia é fantástica e merece ser conferida.

“Pelos quatro cantos da Terra, marcas de mãos negras aparecem nas portas das casas, gravadas a fogo por seres alados que surgem de uma fenda no céu.

Em uma loja sombria e empoeirada, o estoque de dentes de um demônio está perigosamente baixo.

E nas tumultuadas ruas de Praga, uma jovem estudante de arte está prestes a se envolver em uma guerra sem precedentes. ”

A escrita de Taylor é única, simples, engenhosa e poética. A autora brinca com as palavras tornando descrições em momentos únicos de leitura. Misturando contemporaneidade com fantasia, a autora ultrapassa os limites de um simples romance fantástico e mescla elementos básicos com fantasia adulta e épica. Você não irá encontrar em “Feita de Fumaça & Osso” apenas um romance proibido que o coloque no mesmo patamar de outros romances sobrenaturais como a “trilogia Fallen”, a “trilogia Halo”, a “quadrilogia Sussurro” ou até mesmo o já considerado clássico YA “Crepúsculo. ” “Feita de Fumaça & Osso” está em outro patamar.

A jornada da protagonista é intrigante ao ponto de em vários momentos não sabermos quem devemos enxergar como amigos, aliados ou inimigos. A construção de mundo é impecável e o romance é convincente, possuindo um background já utilizado por outras autoras, mas que quando utilizado por Taylor, torna-se apenas mais um elemento que enriquece toda a trama. Todos os personagens são bem trabalhados e cada um tem o seu espaço bem explorado, não ficando nenhum na sombra do outro.

O mundo e mitologia são incríveis, imersivos e fascinantes. Ler “Feita de Fumaça & Osso” é como embarcar em uma viagem inesquecível, que nos marca de maneira permanente. Conforme vamos avançando na leitura, vamos sentindo toda a preciosidade do que temos em mãos. Se no primeiro volume, que dá nome a trilogia, terminamos a leitura com a sensação de termos lido um bom livro; com a leitura de “Dias de Sangue & Estrelas” ficamos com a sensação de que não estamos lendo apenas mais uma fantasia. O segundo volume nos empurra para um mundo fascinante, com personagens odiosos e adoráveis ao mesmo tempo. Daqueles que amamos odiar. Toda a trama promete muito e a iminente guerra entre anjos e quimeras nos deixa ansiosos para o grande momento do embate entre as raças. Uma guerra milenar onde temos uma humana entre eles. Que lado ela deve escolher? Quem de fato é esta personagem? Que mistérios estão por trás deste conflito?

“VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU ALGUMA VEZ SE OS MONSTROS FAZEM AS GUERRAS OU SE AS GUERRAS É QUE FAZEM OS MONSTROS? ”

Cada página nos puxa cada vez mais ao ponto de quase nos teletransportar para o mundo criado por Taylor, como se fôssemos o protagonista do clássico fantástico “História sem Fim ” de Michael Ende. O poder narrativo da escritora é tão impactante, que me pegou de surpresa e chegou em vários momentos a me deixar sem ar. Sua escrita possui tanta poesia (ou até mais) quanto a de V. E. Schwab. Não irei negar, a narrativa oscila e nem sempre é frenética. Temos momentos lentos e uma certa estagnação quanto aos cenários, mas afirmo que vale a pena persistir na leitura. Se deixe envolver, seja a mosca e permita que a autora seja a aranha que irá te prender nas fabulosas teias narrativas que compõem esta trilogia.

“Feita de Fumaça & Osso” é fantasia YA, mas também é meio adulta. Possui política, segredos, batalhas, romance, momentos cômicos, excelentes vilões e excelentes revelações e reviravoltas. O último volume (Sonhos com Deuses & Monstros) é incrível e tem um final satisfatório, apesar de não ser excelente devido a pouquíssimas ressalvas que possuo. É certamente uma das trilogias que sempre defenderei com unhas e dentes. Laini Taylor é uma escritora fabulosa, que conseguiu com sua trilogia marcar meu corpo e minha alma como poucos autores conseguiram fazer. Indico de olhos fechados.

MAS QUAIS SÃO MINHAS RESSALVAS?

Em alguns momentos a protagonista me incomodou. Sua inanição diante de algumas situações me deixou mais que irritado. Gosto de personagens mais badass, que não baixam a cabeça e que em alguns momentos até flertem com o anti-heroismo.  Não costumo ter paciência com choradeira e momentos de vitimismo. Graças a Deus essas situações são quase nulas e se “perdem” no meio de tantos pontos positivos. E o grande e esperado último volume (Sonhos com Deuses & Monstros), apesar de ser excelente e flertar e muito com a perfeição, possui pontas soltas e algumas batalhas as quais nós leitores não temos todo o vislumbre, devido a cortes abruptos que servem como um balde de água fria pra quem lê ansioso para chegar no grande clímax. Como já disse anteriormente, o final é satisfatório, mas não é perfeito (chega perto, bem perto). A autora nos deixa com a sensação de que há grandes chances de novos livros nesse universo. Enquanto aguardo isso acontecer, lerei tudo que ela escrever. Como dizem algumas pessoas que me dou o direito de aqui plagiar; da Laini Taylor eu leria até sua lista de compras do supermercado.

“SUA ALMA CANTA PARA A MINHA. MINHA ALMA É A SUA, E SEMPRE SERÁ, EM QUALQUER MUNDO. NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA…”

 

Ps. A trilogia conta com um livro extra. Uma novela (Noite de Bolos & Marionetes) que se foca no casal de amigos da protagonista. É divertida e romântica e também vale muito a pena. A escrita continua poética e a trama envolvente, mesmo não possuindo todo o ar épico do plot principal. 

Compartilhe