******************************NÃO contém spoiler******************************
Autora: Leigh Bardugo
Editora: Gutenberg / Gênero: Fantasia YA / Idioma: Português / Total de páginas da trilogia: 1.057
Enquanto a escuridão se alastra pelo reino, transformando-se em um um lugar escuro e perigoso de se adentrar, conhecido por todos como Dobra das Sombras, a órfã Alina Starkov, cartógrafa, desconhecida e até então sem talento, se verá em uma situação que a colocará em uma posição chave na briga de poderes que domina o mundo ao seu redor. Quando a escuridão é temida, apenas a luz poderá trazer esperança àqueles que vivem à sombra do medo. Com referências a cultura e mitologias russas, a trilogia Grisha da autora Leigh Bardugo divide opiniões e debates calorosos sobre se vale ou não a pena ser lida. Com um início interessante, uma construção de mundo intrigante e com bons personagens, a fantasia YA da autora é apontada como uma obra montanha-russa, que começa bem e termina mal. Contudo, devo dizer que em se tratando de uma narrativa voltada para um público mais jovem, a famosa trilogia – que ganhará inclusive uma série na Netflix – não foge muito dos caminhos comuns de um livro com esse tipo de público alvo. Mesclando cenas de ação, triângulo amoroso e clichês, a trama teen nos diverte, nos irrita e nos emociona em alguns momentos.
A escrita da autora é gostosa e o universo Grisha – expandido em obras posteriores – é rico e encantador. Sombra e Ossos, o primeiro volume, serve como um pontapé inicial e cumpre o papel de nos deixar curiosos para as continuações. As revelações são bem inseridas e os personagens bem trabalhados. Darkling, um dos protagonistas, é talvez um dos melhores, se não o melhor personagem da trilogia, e serve de maneira excelente como contraponto da personagem central. Tal personagem é um dos grandes acertos da autora e talvez (sim ou com certeza?) o que a levou a cometer um erro crasso ao finalizar sua hypada trilogia. Dos elementos presentes em histórias fantásticas, o romance é o que menos faço questão que tenha, e portanto, o que menos me apego e menos me importo como será trabalhado pelos autores.
Entretanto, não posso deixar de frisar que o romance da primeira trilogia do Grishaverso é de fato problemático por diversas razões. Primeiro, o par romântico inicial não entrega carisma e nem química entre os personagens, apresentando situações que incomodam e que nos fazem torcer o nariz para as atitudes e pensamentos mesquinhos tanto do lado feminino quanto do lado masculino da relação. Em plena era feminista onde o que queremos ler são narrativas com personagens decididas e que possuam amor próprio, Bardugo opta por entregar uma personagem que corre atrás de quem aparentemente não a quer. Com a inserção de uma terceira figura que dará vida ao triângulo amoroso mencionado anteriormente, a autora nos imerge em uma relação interessante, que desperta a atenção e torcida dos leitores. Mas o problema ocorre exatamente nesse ponto. Como lidar quando a torcida vai para alguém cujos planos narrativos da autora parecem ser outro? Algo que pode ou não ter dado certo, mas que levantou diversas discussões entre os leitores e que fizeram a autora se negar a falar sobre o assunto em entrevistas que concedeu após o lançamento de Ruína e Ascensão, o último volume. Mas não é só de relações amorosas que se sustenta a famigerada trilogia.
Com um sistema de magia interessante, o universo criado pelo autora é fantástico, bem explicado e com poderes que me animaram ao longo da leitura. Os personagens coadjuvantes também são interessantes, bem desenvolvidos e entregam interações que muito me agradaram. Os momentos tensos da trama são excelentes e o ritmo em que tudo se desenvolve é bacana. Sombras e Ossos me agradou, Sol e Tormenta me deixou ainda mais animado e Ruína e Ascensão não me decepcionou completamente, como ocorreu com muitos leitores. Me incomodei com algumas decisões narrativas, mas nada que me faça taxar tal trilogia como algo a não ser lido; muito pelo contrário. Em se tratando das introduções deste rico universo e antecessores da magnífica duologia Ketterdam (composta por Six of Crows: Sangue e Mentiras e Crooked Kingdom: Vingança e Redenção), afirmo sem medo de errar que a trilogia Grisha vale mais do que a pena ser lida.
“Um dos Etherealki ergueu o braço na direção de uma tocha e a chama disparou para a frente em um arco amplo, envolvendo o corpo sem vida do cervo. Enquanto éramos levados da clareira, não houve nenhum som de nossos passos e o crepitar das chamas atrás de nós. Nenhum farfalhar veio das árvores, nenhum inseto zuniu, nenhum pássaro noturno cantou. O bosque estava silencioso em seu túmulo.”
Entre erros e acertos (mais acertos do que erros em minha humilde opinião), o universo de Leigh Bardugo é rico, estonteante e imersivo. Com cenários bem descritos, a trilogia nos agracia com bons momentos, bons diálogos e boas situações. Não é a melhor trilogia de fantasia YA que já li. Mas trata-se de uma que ainda mantenho em minha estante, com carinho, apego emocional e com o desejo de embarcar em uma possível releitura. Uma trilogia sobre amizade, amor, aceitação e superação. Amor a pátria, ao próximo e a si mesmo. Autora e personagens nos mostram que mesmo que estejamos afogados por escuridões, sempre há a esperança de que alguma luz surja para nos salvar. Navegando entre críticas e elogios, a trilogia se encerra com um final que pra mim foi satisfatório. No geral e com uma perspectivava ampla sobre a obra e o universo, posso dizer que se a intenção de Bardugo era escrever uma boa fantasia YA, ela cumpriu tal objetivo com assertividade de alguém que no meio de imperfeições, sabia o que estava fazendo.
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