Autora: Angela Davis
Editora: Boitempo / Gênero: História / Idioma: Português / 248 páginas
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Ler “Mulheres, Raça e Classe” de Angela Davis foi muito mais do que uma experiência de leitura, foi um exercício de reflexão; um ato analítico necessário que reforçou minha convicção sobre a importância do diálogo e da empatia em prol de uma construção social, onde análise e inclusão de gênero seja muito mais do que apenas pautas discursivas. Discutirmos o feminismo e as camadas que o compõe é um ato ainda revolucionário diante de uma sociedade que se nega a entender a importância de tal luta. Ainda mais importante é nos aprofundarmos em seus pilares para percebemos que até mesmo tão importante movimento sofre por seus segregacionismos ainda existentes. Colocando a mulher negra e o racismo no centro dos debates, Angela Davis com sua aclamada obra, nos faz refletir de forma dura, o papel do feminismo e o sentido do mesmo quando a luta pelos direitos das mulheres rivaliza com a luta de classes que separa por cor aquelas que deveriam estar unidas. MULHERES, uma palavra talvez mal interpretada? O que define quem deve e quem não deve ser considerada mulher? Quem tem o direito de decidir que mulheres devem e as que não devem ser incluídas nas lutas e debates feministas? No meio de lutas pela liberdade feminina defendida por mulheres brancas que se negavam a incluir as mulheres de cor (como eram retratadas as mulheres negras); em 1851 Soujourner Truth, mulher negra, abolicionista e ativista, inconformada e não entendendo o sentido de uma luta tida como em prol das mulheres mas que a excluía, proferiu o seguinte questionamento: E eu não sou uma mulher?
Ainda em 2020, vemos o segregacionismo vigente, mas dessa vez de forma mais aceita, já que as mulheres supostamente possuem vozes e direitos para lutarem por seus lugares no mundo. Todavia, o segregacionismo dessa vez está nos diversos grupos feministas que se formam através de suas condições raciais ou sexuais, e que parecem ainda terem dificuldades em se unirem em um grupo homogêneo. Óbvio que tais separações estão ligadas pelos lugares de fala e situações discutidas que competem a um grupo e não a outro; impedindo um movimento único graças as estruturas sociais e religiosas que regem a sociedade como um todo. O que fazer então para que tal união um dia aconteça? Ao meu ver, o esclarecimento social só será possível através de diálogos empáticos onde todos falem, todos escutem e todos sejam incluídos. Algo ainda difícil, já que o mundo está cheio de gente preconceituosa, intolerante e donos da razão que se negam a aprender e mudar suas formas de enxergar o mundo. O movimento associativo é o caminho para um feminismo mais justo e inclusivo, onde todas as mulheres lutem juntas. Onde elas se deem as mãos e caminhem juntas nesse árduo caminho que é ser mulher.
Nos apresentando um panorama amplo e histórico sobre os movimentos feministas e suas vozes mais famosas e importantes, “Mulheres, Raça e Classe” é um mar tempestuoso de acontecimentos e reflexões que dão vozes as mulheres negras, e que serve como processo educacional, e como uma maneira de pensarmos sobre a importância da reestruturação social e política. Abordando temas como direito ao voto, lugar de fala, capitalismo, socialismo, racismo, estupro, aborto, liberdade sexual entre outros assuntos, Angela Davis nos agracia com pensamentos que possuem o poder de nos moldar para seres humanos mais racionais, conscientes e mais tolerantes. Tudo que o mundo precisa, mas que se nega a aceitar. Durante muito tempo as mulheres foram silenciadas. Não mais! Levantem, se unam e lutem, para que quando olharmos para trás, possamos respirar aliviados por vermos que as lutas do passado ajudaram a moldar o futuro. Um futuro onde questões como as de Soujourner Truth não sejam mais necessárias.