******************************NÃO contém spoiler*******************************
Autor: Joe Hill
Editora: Arqueiro / Gênero: Terror – Fantasia Dark / Idioma: Português / 624 páginas
Quão perigosa pode ser a imaginação de alguém? Uma pergunta simples, aparentemente inocente, mas que no mundo de “Nosferatu”, obra de Joe Hill, pode ser tanto a salvação quanto a perdição de alguém. Escrita e descrita de forma a nos assustar e nos deixar apreensivos, o horror de cunho psicológico do autor de obras como “Amaldiçoado” e “Tempo Estranho”, tem o poder de nos deixar pensativos quanto aos limites que separam o imaginário do real. Tecendo uma narrativa que subverte a significação de “Peter Pan” de J. M. Barrie e a mitologia vampiresca, o aclamado escritor cria um universo intrigante que parece saltar das páginas, nos envolvendo em acontecimentos fascinantes, ao mesmo tempo que nos desperta a repulsa proveniente de descrições no mínimo assustadoras.
Acompanhar Victoria McQueen, uma jovem audaciosa que possui o dom de criar uma ponte que a leva para onde quiser, é como voltar a ser criança onde dons mágicos pareciam ser a válvula de escape que precisávamos e desejávamos. Tudo seria apenas mágico, se tal dom não trouxesse consequências aterradoras e não a levasse ao encontro de um psicopata que possui um dom semelhante ao seu. De sequestros, estupros a uma terra que possibilita ser criança para sempre, Hill brinca com nosso imaginário, nos fazendo temer tanto a figura distorcida do papai noel, quanto o dom que todos nós possuímos; o de imaginarmos além do mundo que habitamos.
Com referências a obras tanto de seu portfólio quanto o de seu pai, “Nosfetaru” tem o poder de agradar os fãs do gênero terror que almejam adentrar em um mundo em que ser criança pode ser um erro. Com menções honrosas a “IT, A Coisa” e a série “A Torre Negra”, O romance de Joe Hill tem a capacidade de surtar os leitores que conseguirem captar tais ligações. Mesmo que o grande vilão da obra – o temível Charles Talent Manx – não tenha me amedrontado tanto quanto Pennywise, não consigo negar que o mesmo deixou sua marca como um ser horrível e perigoso o bastante para mantermos distância.
A construção narrativa, os personagens e o desenvolvimento criativo, demonstram a evolução clara do autor desde o lançamento de “Estrada da Noite”, uma de suas obras antecessoras. A relação entre os personagens é bem alinhada e os diálogos bem inseridos, sendo perceptíveis a diferenciação psicológica de um para outro. Entretanto, devo mencionar que a abordagem e exploração dos personagens coadjuvantes, juntamente com uma breve estagnação narrativa do meio da obra para o final, fizeram com que eu percebesse a necessidade de alguns momentos que poderiam ter sido encurtados, excluídos ou desenvolvidos de forma mais brutais, principalmente quando atrelados ao desenvolvimento da personagem central.
Abrir as páginas de “Nosferatu” e embarcar na assustadora criação de Joe Hill, me fez perceber o quão errado eu estava de ter desistido tão rapidamente de um autor como ele. A imaginação muitas vezes nos leva a mundos inexistentes e perigosos. Em “Nosferatu” o mais seguro é ficarmos no mundo real. Pois quando a imaginação de alguém perturbado não tem limites, o mágico pode ser o terror que nos espera.
PS. Há também uma série de TV produzida pela AMC e protagonizada por Zachary Quinto e Ashleigh Cummings (Vi o trailer e não espero grandes coisas da série)
***
CONFIRA TAMBÉM A RESENHA DE:
[…] NOSFERATU […]